quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Autobiografia na Música - Magnólia Blues Band - Capítulo 4 - Por Luiz Domingues


Foi o primeiro contato que tivemos com alguém que era famoso no meio do Blues, mas que não era conhecido nosso, pessoalmente (a tocar com os Kurandeiros, já havia aparecido grandes figuras da cena blues para tocar conosco, como Marcos Ottaviano e Amleto Barboni, por exemplo). Se nas duas primeiras semanas tivemos amigos, e a camaradagem fora natural, com Ivan Marcio, houve um certo gelo inicial, formal e normal.  

Contudo, simpático, ele tratou em derreter o tal formalismo inicial, com uma atitude amigável no convívio e sobretudo no palco, ainda que sem grandes exageros. Ao mostrar-se detalhista e exigente, a cada música proposta por ele, falou-nos sobre o estilo de interpretação a ser imprimido, quando demonstrou o seu vasto conhecimento dos meandros do Blues. Eu e Carlinhos mal entendíamos o que ele estava a pedir-nos, e nem mesmo o Kim, que tem bastante conhecimento desse universo, sabia dessas minúcias dignas de um expert no assunto. 

Foi uma apresentação boa, e claro que ele executou a sua gaita com bastante desenvoltura, ao trazer consigo, o seu arsenal de gaitas em vários tons, procedimento típico dos gaitistas, por conta das necessidades em atuar conforme cada tonalidade e amplificador e microfone especiais para tal uso. O seu vozeirão também chamou-nos a atenção, ao demonstrar ser um cantor com muita qualidade. Eu não sabia na ocasião, mas ele também era / é um bom guitarrista, mediante vídeos que assisti tempos depois, mas nessa noite, ele apresentou-se apenas como cantor e gaitista. 

Na boa conversa que tivemos no intervalo e ao final da apresentação, ele contou-me que visitava com frequência os Estados Unidos, e a cena de Blues de Chicago mostrava-se debilitada, naquela atualidade, o que causou-me espanto, pois inocentemente, eu sempre considerei que o Blues seria um estilo imune aos modismos da música mainstream. Todavia, com essa informação do Ivan Marcio, esse conceito ficou abalado. 

Ao ir além, ele revelou-me que o Hip Hop estava a acabar com o Blues e outros estilos clássicos da música norteamericana, e isso teria sob um médio / longo prazo, consequências terríveis. Fiquei obviamente consternado, mas fazer o que, não é ?  

Assim foi a noite de 29 de janeiro de 2014, com baixa frequência na casa, talvez a coadunar-se com a previsão tétrica de Ivan Marcio sobre o futuro do Blues. O próximo convidado seria Wagner Andrade, um guitarrista e cantor de pegada mais Rocker, talvez no estilo do Carlinhos "Jimi" Jr.


Continua... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário