Assim que firmei o meu novo apartamento como local de aulas, iniciei então uma fase próspera, com a manutenção de uma média alta de alunos matriculados. Nessa época, segundo semestre de 1990, entrou diversos alunos novos. Uma nova safra com objetivos já a diferenciar-se do perfil observado em meu início como professor. Ficara cada vez mais rara a presença de aficionados do Heavy-Metal oitentista, e começou a surgir, ainda que timidamente em princípio, garotos interessados espontaneamente em Rock retrô, da melhor safra 1960 / 1970.
Muitos anos depois, através de uma coincidência incrível, a minha aluna, Alcione Sana, formar-se-ia como uma radialista e seria um membro fixo da equipe de produção da "Rádio Matraca", programa idealizado e conduzido pelos meus amigos, Laert Sarrumor e Ayrton Mugnaini Jr. Nessa foto promocional do programa, em algum momento dos anos 2000, Alcione "devora" um LP de vinil, com a presença de Laert (a usar chapéu) e Ayrton.
Lembro-me da entrada de alunos como Alcione Sana, que anos depois se formar-se-ia radialista, e seria parceira de Laert Sarrumor & Ayrton Mugnaini Jr., no programa radiofônico, "Rádio Matraca". Carlos Antonio Keller Rodrigues, popular "Cali", que tornar-se-ia igualmente um grande amigo, e por ser dono de um posto de gasolina, eu passaria a ser seu cliente, sistematicamente, também, vindo a conhecer toda a sua família. A sua irmã, Claudia Keller, namorava o baterista, Paulo Zinner (Golpe de Estado, Rita Lee), nessa época, o que uniu-nos ainda mais com conexões sociais em comum, no métier do Rock paulistano.
Lembro-me também de Simone Zerbinato, que fora também muito amiga dos membros do Golpe de Estado, e trabalhava como assessora de uma vereadora na Câmara Municipal de São Paulo. Bem politizada, acabou por enveredar na política, e hoje em dia (2014), vive em Brasília.
Outro caso em que eu tive uma grande admiração, foi através de um garoto chamado Marcelo Gonzalez, que era corintiano (para compensar, nessa mesma época, havia outro aluno cujo sobrenome era "Sanches", típico espanhol, e vinha com a camiseta do Palmeiras por baixo da sua camisa, em todas as aulas...).
Futebol e colônias à parte, digo que eu admirava a força de vontade desse Marcelo, por que ele vinha de muito longe. Ele morava em Embu das Artes, um município na Grande São Paulo, mas longe da capital. E para agravar, ele não morava na cidade em si, mas sim na zona rural, em um sitio distante do perímetro urbano. A sua saga para estar em minha residência às 11:00 horas da manhã dos sábados, começava ainda sem a presença do sol, onde enfrentava uma caminhada no escuro, por ir até o centro de sua cidade, para usar um ônibus até São Paulo, que o deixava no bairro de Pinheiros, e depois, mais um ônibus, dali até à Aclimação. A sua tenacidade foi admirável, pois ele nunca faltou e não foram poucas as ocasiões onde a sua falta seria amplamente justificável. Muitas vezes gripado, ou ensopado por ter vindo debaixo de chuva torrencial e até mesmo em um certo dia de greve onde houve greve de motoristas de ônibus, onde sob sacrifício total, apareceu na minha casa, ao deixar-me orgulhoso.
Em 1992, em certa oportunidade, eu dei-lhe carona até a sua casa após um show do Pitbulls on Crack que ele foi ver, e essa admiração que eu já nutria, só aumentou. Quando deixamos o perímetro urbano da cidade de Embu das Artes, rumo ao sitio, pude verificar o quanto era longe o percurso que ele costumava cumprir a pé. E a entrada do sítio era afastada, ou seja, ele andava bastante até alcançar a estrada de terra vicinal que conduzia-o até a cidade. O percurso do ônibus de Embu até o bairro de Pinheiros, em São Paulo, demorava mais uma hora e meia, isso sem contar a espera pelo ônibus no ponto, e dali até a Aclimação, pelo menos mais quarenta e cinco minutos, se o trânsito estivesse bom. Exemplos assim, em termos de força de vontade, comoviam-me, certamente.
Continua...
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