segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 19 - Por Luiz Domingues

O Tadeu Dias é um excelente guitarrista. A proposta inicial da banda era boa com ele, e Marcelo Mancha no vocal. Certamente, o destino pôs-se a moldar as peças de maneira a trazer Rodrigo Hid para a banda, com ele a assumir as funções desses dois músicos que saíram, além dos teclados, pois houve a ideia do Xando em contar com um sexto membro, inicialmente. Ele chegou a convidar o Marcelo "Macabro" Cardoso, hoje tecladista do "Violeta de Outono", mas este não poderia dedicar-se ao Pedra como membro fixo, naquela ocasião.

Hoje, concordo que esse arranjo foi o melhor para a história do Pedra, mas essa visão só faz sentido agora, com o devido distanciamento histórico.

Fechado como quarteto doravante, o Pedra em foto promocional clicada por Grace Lagôa, em março de 2005

E fora o clima de estupefação, não houve prejuízo musical, pois o Xando regravou todas as partes do Tadeu, novamente, e o Rodrigo assumiu com naturalidade a sua função como guitarrista, ao emprestar-nos o seu talento e criatividade nesse instrumento, também para brilhar no Pedra. Não houvera mudanças nos arranjos primordiais, pois as bases já estavam gravadas, e assim impossibilitar mudanças radicais. Algumas sutilezas, sim, pois cada músico tem seu estilo, e a não ser que esteja a seguir uma partitura, estaticamente, sempre alguns detalhes ficam diferentes. 

Superada a questão da perda do Tadeu, e com o Rodrigo integrado em cem por cento com a banda, prosseguimos a gravar e começou a aparecer as primeiras oportunidades para a banda. 

Uma história em torno dessas oportunidades, no entanto, revelou-se um grande furo n'água, quando o Renato Carneiro ligou-nos em algum dia de abril de 2005, e disse ao Xando, que o filho de um cantor popular e muito famoso, perguntara a ele se este recomendava um estúdio para que a sua banda "emocore" gravasse uma demo tape. Claro que ele de pronto indicou o Overdrive, e o rapazote quis conhecer o estabelecimento, na mesma hora, visto que estava com os seus companheiros agrupados, e tinha pressa nesse processo.

De pronto, o Renato ligou para o Xando e coincidiu de ser um dia de ensaio do Pedra, portanto, a banda estava reunida, lá. Paramos o nosso ensaio e deixamos a técnica livre para que o garotão e os seus amigos conhecessem o estúdio, e o Renato que viria também, logicamente para ciceroneá-los, ao fazer demonstrações das potencialidades do áudio do estúdio. Renato chegou na frente e abriu o programa da mixagem do Pedra para a garotada ouvir, naturalmente. Cerca de quarenta minutos depois, uma limusine com motorista, parou na porta e cinco garotinhos com visual "emo" entraram e foram direto para o estúdio. Renato mostrou-lhes tudo e quando soltou o som nas caixas, o filho do cantor famoso mandou parar imediatamente, porque aquele som era "horrível", ao referir-se à canção do Pedra, "Sou mais Feliz" e justificou a dizer que eles gostavam era do "Blink 182"; "Green Day"; "OffSpring" e outras bandas neo-punks, ainda piores que citou, com seu incauto entusiasmo adolescente e sob extremo mau gosto. Ao demonstrar uma arrogância desmedida pois ainda não tinha fama alguma (mesmo que tivesse, ora bolas...), e apenas surfava na fama do pai, o menino ordenou que parasse a demonstração e ao dar voz de comando aos seus pares, eis que saíram rapidamente, contrariados com a "porcaria" do som do Pedra...

A intenção do Renato foi boa, ao tentar aproximar alguém que habitava o mainstream, de nós, mas não contava com a soberba juvenil do pimpolho desse cantor popularesco. 

Outra questão que colocou-se a amadurecer, e já mostrava-se como um fruto de conversações ocorridas desde o final de 2004, foi a de filmarmos um vídeoclip. O fato, foi que o Xando possuía um contato forte, que era de uma amiga sua de adolescência, que há muitos anos trabalhava com produção áudio / visual; cinema; incluso, e conhecia muito bem um diretor de vídeoclips, que demonstrava ser muito famoso no mercado, e extremamente competente, chamado : Eduardo "Xocante", com "X", assim mesmo. Essa amiga do Xando chamava-se, Viviane Marques, e ao estabelecer a ponte, apresentou-nos ao Eduardo Xocante, que conheceu-nos, e apreciou o nosso som.


O diretor de muitos vídeoclips, ex-editor chefe da MTV, e hoje em dia (2014), na Rede Globo, Eduardo Xocante


No currículo dele, havia inúmeros vídeoclips realizados com artistas do mundo do Rock; MPB, e música brega (leia-se : duplas sertanejas famosas). De Capital Inicial a Raimundos; Cássia Eller a Titãs; Zezé Di Camargo & Luciano a Marisa Monte etc. Ficamos contentes por ver que ele acreditou na banda e animou-se a produzir o clip, quando por pura empatia com a banda, reduziu os custos ao máximo, para facilitar-nos, e mais do que isso, colaborar na produção etc. Então, entre abril e maio de 2005, encontramo-nos muitas vezes para dialogar, e para que ele acompanhasse os nossos ensaios. Falamos bastante sobre o conceito, e ele convenceu-nos a fazer um clip simples, sem externas e a mostrar a banda a tocar, apenas. Fazia sentido, pois como primeiro trabalho, seria importante mostrar "a face" da banda ao público, e sem subterfúgios; dramaturgia com atores; efeitos e distrações típicas do universo dos vídeoclips. Tudo amadureceu rápido e ao final de maio, ficou acertada a data da filmagem. E a música escolhida foi : "O Dito Popular". 

Continua...

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