E assim foi, não teve jeito. Precisei mudar-me com a família, e a partir de maio de 1990, foi quando deixei o bairro da Vila Mariana, onde eu tivera efêmera estadia, e mudei-me para a Aclimação, bairro vizinho. O ambiente mostrou-se o melhor possível, pois fui morar em um pedaço do bairro super residencial; arborizado e muito perto do seu famoso parque (Parque da Aclimação). Contudo, tratou-se de um apartamento com menor amplitude, e pelo fato de estar localizado cerca de oito quarteirões da estação de metrô mais próxima, poderia desanimar alguns alunos.Todavia, para a minha surpresa, não tive prejuízo algum. Em uma Era pré-Google Maps, eu mesmo desenhei um rudimentar mapa manuscrito, que xeroquei e distribuí à todos os meu alunos, e dessa forma, vida seguiu a sua rotina, assim que chegou a primeira terça-feira após a mudança.
Por outro lado, o que eu não poderia prever é que estava a iniciar-se uma fase decisiva de minhas aulas, onde estava prestes a conhecer uma série de pessoas que seriam decisivas em minha trajetória musical, dali em diante. Fiquei pouco nesse apartamento da Aclimação, quando mudei-me a seguir (em 1991), para um sobrado muito próximo dali, e aí sim, muitas mudanças ocorreriam.
Porém, o assunto agora é maio de 1990. Mesmo ao contar com o meu quadro normal de alunos, aceitei um convite para lecionar em um espaço alternativo. Julguei que seria uma oportunidade boa para expandir-me como professor, e coincidira com uma época da vida onde eu estava sem uma banda autoral no momento, e portanto a aceitar convites para diversos trabalhos e projetos. Essa história decorrente dessa minha perambulação à cata de uma nova colocação, já está toda escrita nos capítulos que narram a minha participação em "Trabalhos Avulsos".
O baixista e ativista cultural / político, André Pomba" Cagni, em foto bem mais atual
O espaço onde eu aceitei ministrar as minhas aulas, foi o Dynamite, sob um convite de meu amigo, André "Pomba" Cagni, que em sociedade com o fotógrafo holandês, Eric De Haas, abrira desde o fim dos anos oitenta, um espaço próximo ao Sesc Vila Nova (na Vila Buarque, próximo ao centro de São Paulo). Era um misto de redação da revista; com loja de instrumentos; acessórios e discos, e mais espaço para shows e salas de ensaios para bandas. Ao diversificar ao máximo o empreendimento, o André quis também colocar aulas de todos os instrumentos. Para ministrar aulas de baixo, convidou-me, pois como gerente geral do negócio, não tinha tempo algum para ele mesmo fazê-lo, visto ser baixista e professor, também. Aceitei o convite e passei a visitar o espaço uma vez por semana. Em princípio, só havia uma aluna matriculada. Era uma adolescente chamada, Gisele. Menina muito novinha, mas aplicada aluna. Como o tempo colocou-se a passar e não apareceram outros candidatos, ficou inviável para que eu pudesse prosseguir, pois perdia tempo a deslocar-me para ir e voltar ao centro da cidade para ministrar uma única aula, e se ficasse em casa, poderia ter mais três alunos, tranquilamente, com esse tempo gasto na rua com traslados, e sem precisar pagar uma taxa à escola.
O André entendeu tranquilamente e por ser gentil, falou para a minha aluna ficar à vontade para acompanhar-me, ao deixar a escola da Dynamite, pois ele mesmo sentiu que o negócio das aulas não estava a desenvolver-se da maneira que ele gostaria, e para reforçar tal tese, as outras atividades da casa iam muito melhor. Entretanto, a garota morava no longínquo bairro da Vila Leopoldina, no extremo da Zona Oeste de São Paulo, e para ela, deslocar-se até a Aclimação ficaria inviável, também. Dessa forma, deixei o espaço e essa foi a minha única incursão como professor, em um espaço alternativo, fora de meu esquema normal. Claro, o fato de ter usado a casa do Beto por quase dois anos e eventuais aulas ministradas em domicílio, não caracterizavam algo fora do meu esquema habitual.
Continua...
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