sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 26 - Por Luiz Domingues


No cômputo geral, foi muito tranquila a gravação. Além de estarmos bem ensaiados, o astral da banda foi sempre leve, com tanta brincadeira que surgia, normalmente. Ser membro do Pitbulls on Crack era como ser do Monty Python's Flying Circus...

Era impossível não gargalhar o tempo todo com os três, Skepis; Deca & Pastor, pois todos eram extremamente espirituosos e os seus respectivos estilos de humor mostravam-se diferentes, entre si, complementavam-se. Até eu mesmo, Luiz Domingues, que mesmo ao não considerar-me mal humorado, estou longe de ser um piadista e pelo contrário, tenho temperamento sério, enquanto estive lá, não teve outro jeito, acostumei-me a conviver com as pilhérias intermináveis. 

E vou contar-lhe, amigo leitor : cada um recebeu uma mísera cópia de um LP apenas. A gravadora só lançou em formato CD, tempos depois, e nós não recebemos nada. A cópia em CD que eu tenho, eu comprei em uma loja de discos usados, em 1995. De fato, nós músicos que militamos no underground (não por vontade própria...), estamos tão acostumados com esses maus tratos, que relevamos tais absurdos. E tem mais uma : a Eldorado tinha fama de ser uma gravadora diferenciada, que tratava muito bem os artistas considerados de pequeno e médio porte. Imagine se não cuidasse...

Ouça abaixo a gravação de "Under the Light of the Moon", na coletânea "A Vez do Brasil, da gravadora Eldorado, lançado em 1993.

Eis abaixo o link para ouvir o áudio oficial de "Under the Light of the Moon"

https://www.youtube.com/watch?v=vpBNVjsprj4

Sobre as músicas que gravamos, digo que : “Under the Light of the Moon” tem uma camada de guitarra limpa e violões, muito interessante, a adocicar a base pesada. O produtor queria timbrar guitarras pesadas à moda de bandas de Heavy-Metal dos anos noventa, mas resultou em ceder aos nossos apelos, e assim evitou-se as serras elétricas destoantes ao nosso trabalho. O baixo está na frente e as frases são bem ouvidas, não posso queixar-me nesse aspecto. Mas o timbre poderia ter sido bem melhor. Rickenbacker fala muito, por natureza e apesar do peso que ficou no disco, faltou o estalo característico dele. Gosto da frase cheia com harmônicos que o Deca fez várias vezes ao longo da canção, além do solo com muita energia. O peso de baixo e bateria no refrão é intenso e dá ênfase ao clímax da música. Essa foi sem dúvida a música que mais projetou o “Pitbulls On Crack” em sua carreira, com execução radiofônica maciça e clip na TV, a reforçar.
 

Eis abaixo o áudio oficial da música "Answer Machine", do Pitbulls on Crack.
O link para escutar no You Tube : https://www.youtube.com/watch?v=Yr8n8FIXuAQ 

Sobre “Answer Machine”, o riff da música é super anos setenta, sob um misto entre o “Led Zeppelin” e o “AC/DC”, a evocar o Hard-Rock. O Refrão lembra o som de “Alice Cooper”. Usei o Rickenbacker, também, e o timbre está obviamente bastante parecido com a canção anterior pela obviedade de tê-la gravado em seguida, na mesma sessão, e assim a usar a mesma timbragem. Gosto bastante das intervenções do Deca, inclusive as alavancadas e raspadas de palheta pelas cordas, como adornos extra. Isso sem falar da frase contínua em notas semicolcheias, que caiu como uma luva no refrão. A bateria apresenta timbres razoáveis e ao menos um mérito, o reverber foi comedido, principalmente na caixa, o que é um alívio !

A voz do Chris é bastante gritada e dobrada mas não ipsis litteris, o tempo todo, portanto, em alguns trechos com pequenas diferenças sutis nos respectivos desenhos, ao dar a ideia de tratar-se de pessoas diferentes a cantar e sem muita preocupação com a precisão. Essa canção foi tocada em quase todos os shows do POC em que estive na banda entre 1992 e 1997, e certamente dava-me um prazer em executá-la. As fotos da banda para a capa e encarte foram feitas numa sessão clicada por Rui Mendes. A capa foi desenhada por Fabio Cobiaco. Trata-se de um tipo de ilustração que eu jamais gostaria de usar em um disco meu, ao retratar o Rocker padrão como um adolescente retardado em meio a signos os mais idiotizantes possíveis e claro, a usar como indumentária, as indefectíveis bermudas, mas o rapaz não tem culpa alguma nesse processo, certamente. Trata-se de uma mentalidade típica da época e a diretriz que passaram-lhe, ele cumpriu, portanto, a sua capacidade como ilustrador é inquestionável. Arte final de capa e encarte por Michel Spitale e Rui Mendes. No mais, a produção de estúdio foi de Carlos Eduardo Miranda; engenharia de gravação e mixagem por Érico Rondon e Beto Machado; masterização realizada no estúdio Cia de Áudio, por Érico Rondon e Carlos Freitas. Produção da gravadora Eldorado, por Vagner Garcia. Produção do programa "A Vez do Brasil", da 89 FM, por Tatola; Ricardo; Fábio Massari e Denise.



Continua...

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