terça-feira, 28 de outubro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 178 - Por Luiz Domingues


O que ocorreu, foi que naquele específico dia, por algum problema técnico, algumas "sonoras" falharam. "Sonora", para quem não conhece o jargão do jornalismo radiofônico, são reportagens pré-gravadas, que são disparadas, geralmente a conter entrevistas e / ou boletins do cotidiano dos clubes de futebol. Como essas "sonoras", alimentavam o programa, a ocupar grande parte de sua duração, a produção ficou sem o que fazer para ocupar o espaço, e dessa forma, decidiram postergar a nossa participação, ao formular perguntas improvisadas. 
Contudo, o tempo pôs-se a passar e as "sonoras" de futebol não foram executadas por problemas técnicos, então, o Faustão, naquele seu jeito irreverente de portar-se, e na base do improviso total, resolveu que tocaríamos uma segunda música, para preencher o espaço vazio gerado por tal caos interno da parte deles. Até aí, tudo bem, pois estávamos a lucrar francamente com esse espaço aumentado sobremaneira, ao ganharmos quase meia hora de audiência, quando o normal teria sido entre oito a dez minutos, a contar com uma música e uma entrevista bem rápida. Entretanto, o sonoplasta, "Johnny Black", teve a brilhante ideia em sugerir ao Fausto Silva, que nós tocássemos ao vivo, bem naquela predisposição em torno do desafio : "quem sabe faz ao vivo".
Uma foto de uma guitarra "Chiquita" que achei na internet. A do Rubens, era de cor azul claro.

Como músicos genuínos que éramos, e não fabricados em escritórios de marqueteiros, preferíamos normalmente sempre tocar ao vivo, logicamente, contudo, sem noção alguma, ambos, Faustão e Johnny Black, ficaram cegos pela ideia, sem mensurar a nossa condição ali no improviso, pois como seria possível tocar uma música como "18 Horas", com uma guitarra apenas ? Pior ainda, eu nem era o guitarrista da banda, mas não adiantaria nada dizer isso aos rapazes, por que estávamos ao vivo, e isso seria ridículo para a imagem da banda, como uma prova de ineficiência de nossa parte a denotar amadorismo. Mesmo que estivesse o Rubens ali presente, o que ele poderia fazer, sem um amplificador, e com uma "Chiquita" em mãos ? E outra questão, ele faria um solo, ou ficaria a tocar apenas o riff principal da música ?

Naqueles segundos em que a proposta surgiu, tive uma ideia salvadora : afirmei ao sonoplasta, Johhny Black, que como eu estava preparado apenas para participar de uma dublagem, nem levara um cabo. Ele ficou, contudo, ainda mais instigado, e passou a vasculhar a cabine de som do teatro onde o programa era realizado, à procura de um cabo "P10". Foi então, quase certeza de que haveria por achar um cabo, e de fato, ele rapidamente o conseguiu. Nesse ínterim, o Faustão cravava-nos com perguntas, e para piorar as coisas, chegou subitamente um reforço de peso, na figura do locutor esportivo, Osmar Santos, para também estabelecer perguntas improvisadas, e assim ajudar a ludibriar a audiência. Uma das perguntas das quais eu não esqueço-me, e até achei interessante (pois pude expressar uma opinião forte, ainda que ninguém que ouvia aquele programa deva ter entendido), foi quando ao perguntar-nos o que estávamos a achar do Festival Rock in Rio, quis saber o que eu pensava das atrações : Go-Go's e Yes... ora, ora... justo uma pergunta com tal teor dirigida à minha pessoa... 

Pois eu disse que a diferença mostrava-se simples : uma banda era dirigida para crianças, e a outra, continha músicos de alto nível... falei alguma mentira ? 

Então, o Johnny Black chegou com um cabo "P10", velho, cheio de emendas mediante o uso de fita isolante... e assim, sem saída, tive que plugar e neste instante estava decidido a tocar o riff de "18 Horas" e a seguir produzir fazer ruídos com microfonias (aliás, como isso seria possível com a guitarra plugada em linha, e sem um amplificador para provocar o feedback ?), e assim a simular um solo performático. O que mais eu poderia fazer ? 

Mas o cabo P10 que o Johnny Black providenciou, estava arruinado, e falhou miseravelmente. Só lembro-me daí em diante,  do Faustão a proferir frases como : -"ô louco, problemas técnicos estão a minar-nos, meu"... ao fazer alusão ao fato das "sonoras" ter falhado também. E o mais engraçado, foi que o Johnny Black não desistiu e saiu a correr para a cabine, quando eu o vi com um ferro de solda em mãos, a tentar consertar aquele P10 putrefado... foi absolutamente hilário ! Ainda bem, não deu tempo para trazê-lo de volta ao palco, e o programa acabou... 
O humorista, Tatá, que fazia parte do elenco do Balancê, também

Bem, foi com certeza a nossa maior participação, em termos de tempo, no programa "Balancê"... e embora tenha sido um tanto quanto constrangedor, não ficou clima algum. Pelo contrário, os três, Faustão; Johnny Black & Osmar Santos, agradeceram o nosso esforço em prorrogarmos a nossa entrevista, e ao tomar conhecimento que teríamos um novo show em breve, convidaram-nos a voltar no programa, dois dias depois, para uma nova entrevista, e reforçar assim a divulgação do nosso show. Claro que aceitamos e dessa forma, voltamos naquele programa, no dia 31 de janeiro de 1985. Desta vez, resolvemos ir em trio, ao levarmos o Fran Alves, conosco, para que pudesse acostumar-se com tal dinâmica de entrevistas. Todavia, nessa segunda ocasião naquela semana, tudo ocorreu normalmente, com as sonoras de futebol a funcionar sem falhas, e a nossa entrevista a resumir-se a uma conversa curta, apenas para reforçar o convite do show, e a conter uma dublagem com o Rubens a pilotar a guitarra "Chiquita"; eu a fingir tocar bateria com um par de baquetas em mãos, e o Fran Alves a dublar a voz do Rubens, na canção "Luz".


Continua...

2 comentários:

  1. usando as suas proprias palavras """Sem saída, tive que plugar e estava decidido a tocar o riff de "18 Horas" e fazer ruídos com microfonias (aliás, como isso seria possível com a guitarra plugada em linha e sem um amplificador para provocar o feedback ?), simulando um solo performático. O que mais poderia fazer ?
    nossa grande Friend Luiz , essa historia contada por ti agora ,foi um sufoco na epoca rssssss...mas tudo acabou dando certo Parabens pelas novas Histrias dessa grande banda a Chave do Sol.

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  2. Essa história foi fantástica pelo inusitado da situação e os personagens que a envolviam, famosos e no caso do Faustão, naquela época, começando a ficar...

    Valeu por acompanhar !!

    Grande abraço !

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