domingo, 19 de julho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 390 - Por Luiz Domingues


O show que teríamos seria realizado no Teatro Mambembe, e fora marcado para o início de dezembro de 1987. Não tínhamos a certeza se teríamos o disco em mãos na ocasião, e de fato, teria sido vital para efetuarmos vendas ali no calor da apresentação. Vender discos com urgência tornara-se uma necessidade muito enfática para aquele momento em que tínhamos constituído enormes dívidas, e a perspectiva de termos que esperar a movimentação de vendas em lojas não fora a melhor perspectiva diante da liquidez que precisávamos.

Iríamos compartilhar o show com uma banda amiga do Rio de Janeiro, o Azul Limão. Essa banda, principalmente na figura de seu guitarrista, Marco, sempre nos ajudou em nossas andanças pelo Rio de Janeiro, e portanto, seria o momento de retribuirmos a gentileza prestada ao recebê-los em São Paulo.

Infelizmente, no entanto, a nossa banda vivia um momento de forte turbulência interna e o máximo que pudemos fazer por esse show, foi no empenho de divulgação. Nesse caso, mesmo sem a fundamental presença do José Luiz Dinola, eu pude preparar e despachar a mala postal do Fã-clube, via correio. Foi a única ferramenta que dispusemos para tal divulgação, pois não tínhamos verba alguma para investir em outras ações. Então, na prática, apesar dessa falta de recursos, tivemos o trunfo de possuirmos um ótimo público, fruto de nosso trabalho acumulado em cinco anos de lutas. E ele compareceu em massa ao Teatro.
De fato, no segundo semestre de 1987, quando entramos em uma fase de forte turbulência, não havíamos nos apresentado mais ao vivo em São Paulo (e nem em outra cidade), inclusive a gerar boatos, os mais diversos. Já havia vazado a informação de que o Dinola deixara a banda e pior ainda, especulações sobre o término das atividades, corriam para todos os lados.

Mas por outro lado, a aparição que fizéramos com o Ivan Busic na TV, em setembro, deu alento para os fãs. Boatos sobre a entrada oficial do Busic em nossa banda, também correram no metiér.
Sendo assim, em meio a tantas especulações, e pelo fato de estarmos a anunciar enfim um show e o lançamento de um novo álbum, o público respondeu muito bem na bilheteria do Teatro Mambembe.

Para reforçar a divulgação desse show, fizemos alguns programas de rádio. Estive sozinho no programa: "Comando Metal", que era apresentado pelo Walcyr Chalas, o proprietário da lja de discos, Woodstock, através da 89 FM, no dia 6 de dezembro de 1987, a falar sobre o lançamento do disco e do show.  

Foi o dia 8 de dezembro de 1987 e A Chave do Sol fez efetivamente o seu último show. Desfigurada em sua formação, é bem verdade, pois não tivemos mais a presença de José Luiz Dinola a comandar as baquetas da banda. Com a presença de Ivan Busic, mais uma vez a atuar gentilmente como nosso convidado, tivemos na verdade mais uma ótima presença confirmada de última hora, na figura do tecladista super técnico e eclético, Fabio Ribeiro.
                     Fabio Ribeiro em foto bem mais atual

Eu pouco o conhecia antes desse dia, pois sabia apenas que era um jovem músico a despontar no cenário, ao atuar como convidado de bandas de Hard-Rock & Heavy-Metal, e que detinha um trabalho com banda própria e autoral, com forte influência do Prog-Rock setentista, o que chegou a ser inacreditável para a década de oitenta, com toda aquela ambientação hostil para tal gênero.

Quem me falara bem sobre o Fabio Ribeiro, foi o nosso roadie, Eduardo Russomano, que o conhecia pessoalmente, mas eu só o conheci de fato, nesse dia no palco do Teatro Mambembe, onde ele atuou de forma discreta, mas bastante competente, ao tocar as partes dos teclados que o tecladista, Fernando Costa, gravara no disco.

No show, ele foi discreto, apenas a cumprir tais atuações de apoio, mas deu para ver que se tratava de um tecladista à moda antiga, piloto de muitos instrumentos, com bom gosto para criar e ser um solista brilhante. Na minha concepção, se A Chave do Sol prosseguisse e se hipoteticamente passasse por uma reformulação na formação, com o acréscimo de um quinto membro, teria que ser um bom tecladista à moda antiga, na figura de um músico de formação setentista forte para somar assim como harmonizador e solista ao estilo dos grandes mestres setentistas, como Rick Wakeman, Keith Emerson, Jon Lord, Tony Banks, Ken Hensley, Vincent Crane, e tantos outros que primaram pela extrema qualidade da pilotagem dos multi-teclados nos shows de Rock de outrora. 

Por via muito torta, e alheia à essa minha vontade pessoal, isso aconteceria em questão de dias depois desse show
do Teatro Mambembe, mas não é hora de falar sobre isso e aliás, não será falado nesse capítulo sobre A Chave do Sol, e sim através de uma outra divisão na concepção desta autobiografia, por considerar ser um novo trabalho, apesar de ser uma dissidência d'A Chave do Sol.  
             Foto promocional do Azul Limão, nos anos oitenta

Bem, o show do Azul Limão aconteceu antes do nosso, e um fato lamentável ocorreu, não por nossa culpa, absolutamente, mas que nos envergonhou perante os nossos amigos cariocas. Eles ainda estavam na metade de seu show, quando alguns bairristas incautos que estavam alojados na plateia começaram a hostilizá-los por conta deles serem cariocas, e isso se reforçou-se a cada vez que o seu vocalista falava com o público entre as músicas, e assim, o seu forte sotaque carioca se mostrava proeminente.  

Isso por si só, já foi deselegante ao extremo, mas tudo piorou quando alguém insuflou a massa para entoar um coro a pedir pela presença d'A Chave do Sol. A cada música que a banda terminava a executar, isso foi a se avolumar e criou uma atmosfera hostil, como se a banda fosse ruim, e não era, de forma alguma, e pelo contrário, tratava-se de uma boa banda, Nesse instante, nós, membros d'A Chave do Sol, assistíamos tal reação da coxia e ficamos muito chateados com esse comportamento do público que hostilizou a banda de nossos amigos, gratuitamente.

Além de sermos amigos, por duas vezes o Azul Limão havia nos ajudado bastante em shows que fizemos no Rio, em 1986 e 1987. Sendo assim, foi a nossa primeira oportunidade de bem recebê-los em São Paulo, e infelizmente não pudemos evitar que essa manifestação perpetrada por algum sujeito idiota que insuflou a massa, acontecesse.  

Claro que não tivemos culpa alguma diretamente em um episódio que fugira ao nosso controle, mas subliminarmente, nos chateamos, pois no camarim, o Marco, guitarrista, ficou muito contrariado com a recepção da plateia.

Bem, isentos de culpa direta pelo triste episódio, mas ao tentar fazer alguma coisa para atenuar, o Beto e eu falamos alguma coisa no microfone, não a atacar a reação da plateia, diretamente, mas ao partir para a contraponto sutil ao enaltecermos o Azul Limão como uma banda ativa do Rock brasileiro daquela cena oitentista, e a deixar claro que os seus componentes eram nossos amigos pessoais. Se a carapuça serviu para os energúmenos que os hostilizou gratuitamente, ótimo.

O nosso show foi muito energético, apesar do clima péssimo que pairava no âmbito dos nossos bastidores. Aos olhos e ouvidos do público, A Chave do Sol estava em plena forma, apesar da ausência do Zé Luiz Dinola.

Ivan Busic, apesar de nunca ter deixado nenhuma dúvida de que jamais entraria para a nossa banda, oficialmente, tornou-se para os fãs da banda, o substituto natural e portanto o mais adequado para suprir a ausência do Dinola. E a presença do Fabio Ribeiro, totalmente inesperada para o público, aliás, foi também saudada com simpatia, e de fato, foi um apoio de categoria para abrilhantar o nosso trabalho. Porém, lastimavelmente nada disso foi o suficiente para driblar a nossa crise interna.

Na percepção dos fãs, fora um alento, mas na prática, esse foi o último show da carreira d'A Chave do Sol, pelo menos em sua história oficial e sob os parâmetros de seu próprio classicismo construído sob sangue,; suor e lágrimas...

Aconteceu no dia 8 de dezembro de 1987, com quinhentas e vinte pessoas presentes nas dependências do Teatro Mambembe.

Tínhamos algumas perspectivas para shows e aparições na TV, marcadas para janeiro de 1988, e precisávamos agarrar desesperadamente tais oportunidades sob um esforço hercúleo em manter a banda viva e sobretudo para vender discos, como a única forma viável de movimentar dinheiro, portanto, vital naquele momento periclitante que vivíamos, em meio a uma crise emocional interna, sem precedentes, com direito à perda de membro histórico da formação, e uma dívida cavalar para saldar sob um curto/médio prazo.

Alguns dias depois desse show que fora vitorioso, apesar das dificuldades que enfrentávamos, teríamos um outro evento de divulgação do disco em si, e que merece ser detalhado por conta de seus muitos desdobramentos. E revelar-se-ia como o último ato d'A Chave do Sol, como uma banda viva e com êxito absoluto alcançado!

Continua...

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