O segundo semestre de 1997 chegou, e com uma pequena reação perceptível, verificada no meu quadro de alunos, ao conferir-me a falsa impressão de que a normalidade voltaria como outrora, mas ao olhar hoje em dia, está claro que tal movimentação não caracterizou isso, infelizmente.
E por não conter essa percepção clara na época, animei-me, logicamente, quando logo em agosto, no momento pós-férias escolares, eu notei a presença de três ou quatro novos alunos. No entanto, com o passar do tempo, ficou claro ter sido uma movimentação meramente efêmera.
Um fato curioso ocorreu logo nos primeiros dias de agosto, que reputo ser digno de nota. Estava a ministrar aulas normalmente em um dia útil qualquer quando a campainha tocou. O movimento de entra-e-sai da minha casa era constante, e dentro da normalidade, pois não se limitava à chegada e saída de alunos, mas com a presença de muitos agregados no sentido que a minha sala de aulas sempre foi aglutinadora por natureza intrínseca por reunir proporcionar que amigos e se reunissem, e assim, a configurar-se como um autêntico "ponto", há anos.
Mas desta vez, não foi nada disso. Quando eu abri a porta da minha residência, deparei-me com um casal de adolescentes, sendo o rapaz, bem mais novo que a moça. A garota, que apresentava ter cerca de dezesseis anos de idade, mais ou menos, perguntou-me se ali seria o local de ensaio de uma banda, e acaso eu confirmasse tal informação, se ambos poderiam entrar para assistir.
Eram irmãos e haviam recém se mudado para um sobrado no mesmo quarteirão da minha rua, alguns metros acima, na numeração, mas abaixo no sentido de que a minha rua ficava situada sob uma ladeira íngreme.
A alegar gostarem de Rock e pelo fato do rapaz (que aparentava ter doze anos de idade), tocar violão e estar muito interessado em desenvolver-se à guitarra, viram o movimento de cabeludos com instrumentos na minha porta, além do som das aulas, e estavam interessados em conhecer-me.
Bem, as minhas aulas não eram sisudas, e pelo contrário, deixei claro nesta narrativa o quanto houve um clima festivo sempre que as aulas transcorriam, normalmente, portanto, não vi problemas em que entrassem e não só assistissem, mas interagissem, doravante.
Logo me tornei amigo de ambos e também do pai deles, o "seu" Osvaldo, que era um entusiasta da ideia de ver o seu filho se desenvolver na música. Eles tornaram-se "habitues" da minha sala de aulas e muitas vezes trouxeram também os seus irmãos menores, trigêmeos (dois garotos e uma garota), que eram crianças e deviam ter sete ou oito anos de idade na época, mas não pareciam se interessar mais vividamente por música, pelo menos naquela época.
Marcello Schevano em foto de 1999, portanto, um pouco além desta parte da narrativa, em que cito fatos de agosto de 1997
Esse rapaz, prestava atenção nas aulas e ao notar o seu entusiasmo, pedi ao Marcello Schevano, que na época ainda não tocava comigo, mas sob uma questão de poucos meses estaria envolvido no projeto "Sidharta", que desse algumas orientações de guitarra para o rapaz.
Em princípio, o Marcello se assustou com a ideia de dar aulas, mas não seria exatamente uma aula formal, mas apenas a formulação de algumas dicas, e assim dar uma força para o rapaz que não dispunha de recursos para estudar em uma escola de música, formalmente, ou contratar aulas particulares naquele momento, mas demonstrara possuir vontade e talento, pelo o que eu pude observar.
O pai dele me agradeceu efusivamente e eu fiquei contente por dar uma pequena ajuda ao rapaz. E serviu também para o Marcello, como experiência válida, apesar dele nunca ter se interessado pelo nicho didático, doravante. Esse rapaz culminou em progredir muito. Mesmo depois que eu encerrei as minhas atividades como professor, acompanhei a sua trajetória, com bastante alegria.
Já adolescente, o Victor, seu nome, havia passado no exame de admissão da Escola Municipal de Música, e estava a estudar viola, a tratar-se de um instrumento parecido e geralmente confundido com o violino, mas que na verdade é de um outro alcance cromático. Para explicar rapidamente aos leigos, eu diria ser um violino menos agudo, a fazer parte dos instrumentos de corda de uma orquestra erudita tradicional, para trabalhar ao lado do violino, violoncelo e contrabaixo.
O Victor pôs-se a crescer no aprendizado do instrumento, e logo esteve a tocar com a Orquestra Sinfônica Juvenil, para ganhar bolsas para se aperfeiçoar com cursos no exterior, viajar, e se tornar um grande músico no mundo da música erudita. Em suma: nada mau para aquele menino imberbe, tímido, e que se não fosse pela ousadia de sua irmã, Samantha, talvez não tivesse tido a coragem de tocar a campainha da minha casa, e começar a interagir com jovens bem mais maduros que ele e envolvidos com a música, o que lhe deu impulso para mergulhar nos seus estudos. Devo dizer, outrossim, que o talento e o ouvido bom que tinha em 1997, quando o conheci, ele já detinha consigo.
Perdi o contato com ele e a sua família, desde que mudei-me daquele bairro, em 2007. Só me lembro que a Samantha já tinha um filho, bem pouco tempo depois, e uma das irmãs menores, gêmea de outros dois garotos, havia se tornado jogadora de vôlei de um clube renomado desse circuito (Pinheiros ou Paulistano, não me lembro com exatidão).
Estava muito bonita e fisicamente, altíssima, com porte de jogadora, mas certamente também preparada para ser modelo, graças ao porte e beleza. E essa foi mais uma bela história protagonizada pelo convívio de minha sala de aulas.
Torço para que o Victor tenha uma longa e vitoriosa carreira no espectro da música erudita.
Continua...
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