Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
sábado, 18 de julho de 2015
Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 389 - Por Luiz Domingues
A sessão de fotos oficiais para suprir a capa, encarte e material promocional de imprensa, foi conduzida pelo nosso velho amigo, Carlos Muniz Ventura. Ele começara a sua carreira como fotógrafo a capturar imagens de shows ao vivo e também a cobrir os bastidores, gravações de discos, e até a prover fotos promocionais bem informais, anos antes, mas neste instante estava a trabalhar em um estúdio profissional e havia crescido bastante nesse setor.
A sessão ocorreu portanto, próxima do feriado de proclamação da República, em novembro de 1987, e foi realizada no estúdio Pugliesi, localizado no bairro do Bexiga, centro de São Paulo.
Estamos nessas fotos, bem condizentes com a estética do Hard-Rock oitentista no figurino, e a sessão foi tranquila, apesar do clima pesado que pairava sobre a banda. Mas há uma particularidade nessa sessão, e que suscitou uma série de especulações, e até piadas entre fãs e muitas pessoas do métier.
Um dia antes de irmos ao estúdio de fotografia citado, o Beto nos surpreendeu, pois houvera tingido o seu cabelo de louro, com uma matiz bem exagerada, eu devo acrescentar. Ficou chamativo, é preciso dizer, mas reforçou a maledicência popular que o estigmatizara-o por copiar acintosamente o vocalista britânico, David Coverdale. Fora esse estigma, piadas de mau gosto eram ouvidas pelas beiradas, ao daro-lhe apelidos: "Boneca Emília, do Sítio do Pica Pau Amarelo; o cantor popularesco, "Ovelha"...
Nos meandros técnicos da produção do áudio, tivemos a pressa absoluta em efetuar logo o corte, para enviar o acetato matriz à fábrica, e nos assombrar a perspectiva de que o nosso disco nem pudesse ser lançado ainda em 1987, por conta de um detalhe que permeava a rotina das gravadoras no final de todo ano, em sua rotina que já durava décadas: as fábricas não davam conta de suprir pequenas produções independentes nessa época do ano, pois as gravadoras majors faziam encomendas mastodônticas de discos de seus artistas populares, para suprir as lojas bem antes do natal. A loucura total com a qual as fábricas entravam já a partir de outubro, para prensar milhões, literalmente, de cópias de álbuns de artistas como Roberto Carlos, era incalculável e de fato, os discos eram nessa época do ano, um dos principais produtos procurados como presente de Natal, por milhões de pessoas.
Sobre o encarte, a estratégia de usar o idioma inglês seguira a opinião de pessoas que acreditavam que o nosso melhor caminho para lograr êxito na carreira, seria através do aeroporto... o pessoal da Rock Brigade, que detinham muitas conexões internacionais, ainda que dentro do mundo do Heavy-Metal, esteve nesse bojo de conselheiros a opinar nesse sentido.
Tanto que o diagramador oficial da revista, Paulo Caciji, foi quem diagramou o encarte que lhe enviei em português, mas que recebeu a tradução em inglês, para que ficasse adequado ao mercado internacional.
Anoto uma crítica construtiva aqui ao afirmar que achava e ainda acho que a tipologia das letras é pequena em demasia. Sei que foi uma necessidade geométrica da diagramação para poder ser absorvida sem cortes e de fato, há muita informação ali, mas é uma dificuldade tremenda para se ler.
Sobre a capa, como já mencionei, fora uma oportunidade gerada pelo marqueteiro da produtora, Studio V, um rapaz chamado: Arnaldo Trindade, ainda quando estávamos envolvidos com eles.
Ao recuperar o contato direto com o desenhista que fizera o raf dessa ideia bruta, Beto encomendou o lay-out. Esse rapaz se chamava, Marcos Monteiro, e o seu atelier montado na Rua Augusta, se chamava: "MM Diagonal".
Quando vimos o raf, ainda no casarão do Studio V, havíamos achado a ideia criativa, e que consistia de uma casca de ovo quebrada e a conter em seu seu interior, a sua clara e gema, espalhadas e com uma enigmática chave prateada e estilizada com formato antigo, junto, a insinuar que estaria dentro do tal ovo.
Ao ir além, um facho de luz translúcido em diagonal é emitido da própria chave e que sugere ser direcionado ao ponto infinito.
Também se observava a gema do ovo a fazer as vezes de uma estrela como o Sol, e a clara, a dar a entender se tratar de uma galáxia formada em seu entorno, e tudo sob um fundo preto, a sugerir o espaço sideral.
Ora, não nos ocorreu na ocasião, que isso pudesse ser interpretado por outras pessoas como um desenho de mau gosto. Foi no entanto estranho aos padrões das estéticas oitentistas em geral, disso não tínhamos dúvida, mas por isso mesmo, pensamos ter sido original, ao fugir da obviedade em voga.
Ao pensar-se em padronizações oitentistas típicas, se fosse um disco de banda punk, teria que mostrar-se agressivo e ultrajante. Se fosse um trabalho versado pelo estilo Pós-Punk, deveria conter elementos existencialistas, a se revelar depressivo, blasé, niilista e bastante arrogante nas entrelinhas. Se fosse na linha do Heavy-Metal, deveria conter morbidez, escatologia e conotação anti-cristã, e finalmente, ao seguir o Hard-Rock oitentista, a praxe seria lidar com imagens a conter muitas mulheres sensuais seminuas ao redor dos componentes da banda, para fazer valer as insinuações sobre a prática de bebedeiras & orgias perpetradas pelos rapazes, estigmatizados como ébrios cafajestes e machistas contumazes.
Então, essa nossa capa apresentada como raf inicial não teve nenhuma conexão com nenhum signo que citei acima, e típico de estéticas oitentistas.
De minha parte, achei-o com significados esotéricos interessantes sobre a formação do universo, a chave como elemento místico a dar respostas metafísicas, tal como o estranho objeto monolítico que ilustra várias fotos do LP Presence, do Led Zeppelin, por exemplo. Já no caso do ovo,a se configurar como uma alegoria da mônada cósmica, enfim, algo muito simbólico e mais a assemelhar-se com uma capa de disco de banda de Rock Progressivo setentista, portanto, de meu inteiro agrado por conter tais elementos,ainda que completamente anacrônicos aos padrões oitentistas.
Então, quando o Beto resgatou esse artista e a sua ideia, eu gostei muito da possibilidade de que esse disco teria uma capa com simbologias mística, a evocar a cosmogênese.
Sobre o lançamento oficial, estávamos longe de situações anteriores onde a banda vivera dias de expansão na carreira e extremamente unida entre seus membros, planejava shows de lançamento com incrementos cênicos, uso & abuso de textos sofisticados do poeta Julio Revoredo etc.
Mas houve uma perspectiva de show para dezembro de 1987, que serviria para tal finalidade, apesar de ser uma data compartilhada com outra banda, e sobretudo, pelo fato da banda estar a viver dias difíceis, com perdas irreparáveis e clima interno muito pesado.
Continua...
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