Então, o Beto antecipou-se, e ao não esperar a crise nos corroer em lamúrias, saiu à rua e achou uma solução rápida. ao falar com o dono do estúdio Guidon, estabelecimento este onde várias bandas independentes houveram gravado anteriormente (e nesse rol, se destaca o primeiro disco da Patrulha do Espaço, sem a presença de Arnaldo Baptista, em 1980), eis que conseguiu combinar um pacote de horas mediante um um preço bastante razoável, e com possibilidade de parcelamento. Pareceu ser uma ótima oportunidade, mas como entrar no estúdio sem o Zé Luiz, e também sem dinheiro?
E depois, mesmo se entrássemos no estúdio e gravássemos um novo álbum, como pagaríamos as despesas como a gráfica, a prensagem dos discos, despesas burocráticas, sessão de fotos, e outras? E a distribuição e divulgação? Como colocar os discos nas lojas e como divulgá-lo de forma conveniente?
Sem o apoio de uma gravadora, mesmo de pequeno porte, caso da Baratos Afins que nos deu suporte parcialmente no primeiro disco e integralmente no segundo, seria extremamente difícil pensarmos em desatar tantos nós burocráticos e inerentes para termos essa total independência no gerenciamento e o pior, sem verba alguma e a viver uma crise interna com a perda de nosso braço direito, que fora o Zé Luiz, a nossa situação era dramática nesse sentido.
Claro que procuramos o Luiz Calanca, mas ele não se mostrou interessado. E teve os seus motivos, pois ficara chateado quando nem havia lançado direito o EP de 1985, e nós anunciamos uma mudança radical na banda, com a perda do vocalista, Fran Alves, e ao ir além, a conter mudança no repertório da banda, praticamente a suprimir as músicas de um disco recém lançado. Sei que justifiquei esse fato amplamente em capítulos anteriores, mas na visão dele, Luiz, houve um bom motivo para contrariar-se, eu admito.
Sem esse apoio, buscamos outro caminho, e por indicação de nosso ex-funcionário do fã clube e roadie da banda, Eduardo Russomano, além da dica e intervenção de um renomado lojista e concorrente do próprio Luiz Calanca, chamado, Walcir Chalas (dono da loja Woodstock, muito famosa principalmente entre os adeptos do Heavy-Metal e seus derivados), eis que uma uma luz surgiu.
Segundo Eduardo Russomano e Walcyr Chalas, nós deveríamos pedir apoio ao pessoal da revista Rock Brigade, que estava com um selo oficialmente aberto, e tais dirigentes poderiam se interessar em lançar o nosso novo álbum.
Antonio D. Pirani e Eduardo de Souza Bonadia, diretores da Rock Brigade na ocasião
Fomos conversar e apesar de seu diretor (Antonio D. Pirani), ser um rapaz extremamente educado e ponderado, não tínhamos muita afinidade com aquela revista e a sua equipe de redação. Não por haver alguma animosidade, mas simplesmente por não sermos membros regulares daquele mundo do Heavy-Metal.
Tanto que sentimos uma certa mágoa da parte deles, por nunca os termos procurado, em toda a existência da banda, e por conta dessa aproximação tardia, no limiar de 1987, somente aí nesse ponto a revista publicaria algo ao nosso respeito, depois desse contato.
Ao analisar friamente, de nossa parte, houve uma tendência nossa em não procurar ninguém, e tudo o que havíamos conquistado através da mídia, houvera sido pela via natural dos órgãos de imprensa a nos procurar como artistas emergentes e não o contrário. Confesso que visitei muitas redações de jornais e revistas, e até a presentear jornalistas com souvenirs, mas depois de termos sido publicados em suas páginas e não ao contrário.
Mas também ao compreender o ponto de vista deles, a dinâmica que esperavam, na via inversa, teve a ver com as suas origens como um fanzine. Portanto, dentro dessa prerrogativa, mesmo quando a publicação cresceu e se tornou uma equipe profissional a gerir uma publicação oficial vendida pelas bancas, eis que tal redação manteve essa maneira de agir, ou seja, a esperar ser aborda por artistas, e neste caso, não importava se tais artistas já estavam sedimentados no circuito e com notoriedade.
Desfeito esse mal-estar, iniciamos uma relação de amizade, e de fato eu me afeiçoei pessoalmente ao Toninho Pirani, que reputo ser um gentleman que admiro e tenho bom relacionamento de amizade até hoje, e também ao Eduardo Bonadia, que é gentil ao extremo, mas na realidade, em termos de banda como uma unidade
nós nunca nos sentimos inteiramente integrados ao "universo Rock Brigade", e por um motivo muito simples: tratava-se de uma publicação fechada no campo do Heavy-Metal, apesar da revista se declarar aberta ao Rock clássico, também.
Na prática, o Rock tradicional mantinha ínfima parcela nessa publicação, e o gênero, Heavy-Metal, dominava 90 % ou mais de suas páginas, e dentro dessa prerrogativa, as bolas da vez naquele momento para eles foram: Viper e Sepultura.
Além da extrema simpatia do Toninho Pirani, e também de Eduardo de Souza Bonadia, outro dirigente da revista, e que apesar de ser um entusiasta do Heavy-Metal, gostava e respeitava muito a nossa banda, tínhamos mais um apoio de peso dentro daquela redação, que foi o nosso roadie, e ex-funcionário do fã-clube, Eduardo Russomano.
Com Russomano a trabalhar ali, e ele era muito querido por todos, claro que um apoio para A Chave do Sol foi mais fácil de ser alinhavado. Interesse em bancar a nossa gravação de forma integral eles não tiveram por que o seu foco naquele momento fora o Viper, aliás uma banda formada por amigos nossos de longa data.
Com o Sepultura, não havia vínculo profissional algum, mas como a banda dos irmãos Cavalera estava a estourar naquele justo instante, a Rock Brigade os privilegiou com muita intensidade naquela época e praticamente em todas as suas edições, doravante, se tal banda não estivesse na capa anunciada como matéria principal, ao menos alguma nota ou resenha de show não faltava.
Então, em um dia de setembro, o Toninho fechou com A Chave do Sol um acordo de cooperação, e mediante uma cota de álbuns a serem cedidas ao selo, eles se comprometeram a nos oferecer o seu selo para cuidar da parte burocrática, mas nada mais. Não foi uma grande oferta, mas se tornou melhor que nada, portanto, fechamos tal acordo. Todas as demais despesas correriam por nossa conta, e a única atribuição da Rock Brigade, foi no tocante à parte burocrática do disco.
Sobre a capa e encarte do disco, Beto havia guardado uma prova que nos fora sugerida por um artista gráfico, sob uma intervenção do Studio V, ainda ao final de 1986. No caso, fora uma sugestão que veio da parte do marqueteiro, Arnaldo Trindade, que indicara um amigo seu, que elaborou tal esboço/raf, já com o arranjo de lay-out final, praticamente. Entretanto, como dera tudo errado em nossa relação com o Studio V, tal arte ficara engavetada, sine die.
Contudo, o Beto lembrou-se disso e como houvera guardado o cartão do artista que fizera essa arte e que atendia em um atelier localizado na Rua Augusta. ele ligou para o artista, sem perder tempo, ligou e constatou que o rapaz ainda mantinha consigo o raf, e melhor ainda, aceitara preparar a arte-final por um preço que não seria exatamente barato, mas que também não se mostrou sob um valor com cifra exorbitância.
Portanto, tínhamos um estúdio em vista para gravar, um selo pronto a assumir a papelada burocrática, e uma possível arte final de capa em mãos. Poderíamos gravar um novo disco, então?
Bem, não tínhamos mais o nosso baterista. E assim, mais uma vez o Beto agiu rápido, e veio com a notícia: -"vamos escolher um repertório base para gravar e começar a ensaiar imediatamente!" Ivan Busic (ex-Platina), aceitara gravar o nosso disco como baterista convidado...
Continua...
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