Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 398 - Por Luiz Domingues
Agora, falo sobre dois ex-membros, que tiveram passagens mais longas pela banda, e deixaram um legado eternizado em discos.
Fran Alves
Quando perdemos o vocalista, Chico Dias, de forma totalmente inesperada, a nossa estratégia de nos prepararmos para uma possível nova onda estética que aproximar-se-ia, e que possivelmente abrir-nos-ia portas no mundo mainstream das gravadoras majors, e da mídia, se viu muito ameaçada, e nós não poderíamos perder tempo, e marcar passo nesse sentido. Foi quando soubemos que um vocalista dotado de uma voz muito potente e que atuava com um tipo de interpretação dramática, estava prestes a ficar sem a sua banda que anunciara o término de suas atividades.
Tratou-se de Fran Alves, um vocalista com timbre rouco, e uma emissão que era impressionante. Ele foi dessa forma, o vocalista ideal para um momento em que acháramos as que nossas chances residiriam no peso do Hard-Rock/Heavy Metal oitentista. Não era a nossa predileção artística, longe disso, aliás, mas o peso que imprimimos para essas novas músicas, teve essa deliberada intenção de adequação à uma estética que supúnhamos ser a próxima a se aproximar do êxito mais contundente... mas o fato foi que ele não veio. E quem pagou um alto preço por conta dessa estratégia malograda, foi o Fran Alves, lamentavelmente. Muito criticado pelos fãs antigos da nossa banda, que preferiam a sonoridade antiga de nosso trabalho, e também pela sua voz rouca e presença de palco que para muitos, parecera inadequada para a nossa banda, tais opiniões foram a minar as suas forças pessoais e infelizmente, ele chegou em um ponto onde se viu acuado. Sem saída, Fran anunciou sua saída de nossa banda, para o nosso próprio bem e o dele, sob uma análise muito fria.
Uma grande pena, pois o Fran foi um cantor sensacional e a sua entrega no palco era a de um grande artista focado no momento mágico que só os grandes conseguem absorver e expressar em cima da ribalta. A sua voz era impressionante e a rouquidão, totalmente natural no ato de cantar. Como pessoa, era um sujeito sensível, calmo, sensato, ponderado e a se mostrar muito humilde. Com um caráter excepcional, era um grande amigo leal etc.
Por volta de 1988, eu soube que ele havia desistido da música e nesta ocasião trabalhava como gerente de um famoso magazine da cidade.
No meio dos anos noventa, ele me ligou e veio visitar-me em minha residência, para formular uma proposta de nova banda que desejava formar. Eu estava firme com o Pitbulls on Crack na ocasião e mesmo que estivesse livre, declinaria do convite por uma única razão: tratava-se de Heavy-Metal o que queria trabalhar com essa nova banda, e tal gênero nunca foi do meu agrado.
Muitos anos se passaram e ele me ligou, mas desta feita para falar de uma banda formada por garotos que estava a apadrinhar e dessa forma, ele cogitou que eu os indicasse para abrir shows da Patrulha do Espaço, banda em que eu estava nessa fase. Essa sua solicitação eu nunca pude providenciar, mas chamou-me a atenção a sua voz, que parecia cansada e ele realmente me disse que estava a passar por problemas de saúde, ao fazendo tratamento etc.
Ao final de 2008, eu recebi com atraso a notícia de que ele havia falecido. Tal acontecimento trágico ocorrera durante a noite de natal, portanto, eu nem tive meios para prestigiar o seu velório e sepultamento, para poder dar as minhas condolências à sua esposa e também ao seu casal de filhos.
Por volta de 2011, eu recebi a solicitação de amizade de sua viúva através da extinta Rede Social, Orkut, e a conversarmos, ela me disse que conhecera um jovem fã d'A Chave do Sol que estava a procurar pelos ex-membros da banda para nos pedir permissão para que pudesse colocar no ar um Blog sobre A Chave do Sol.
Ora, claro que da minha parte esse pedido foi aceito de pronto, pelo motivo óbvio de que alguém a nos ajudar nessa altura dos acontecimentos, e mesmo com a banda inativa, seria super bem vindo.
E nesse embalo, eu fiz cópias de material fotográfico, peças de portfólio e vídeos com a participação do saudoso, Fran Alves e entreguei à Sandra Alves, viúva de Fran, quando pude finalmente conhecer os seus filhos que já eram adolescentes e ambos a se mostrar muito parecidos com ele, sendo o menino, quase um sósia de seu pai. Fran Alves vive!
Está representado no legado que deixou no disco que gravou conosco e através de seus filhos.
Deixo aqui o meu agradecimento por sua participação, contribuição e amizade no convívio de pouco mais de dez meses em que foi componente oficial d'A Chave do Sol. Fico com a lembrança de um grande artista, e um amigo dos mais bondosos que eu fiz na minha vida.
Um minuto além, e nos encontramos de novo em algum lugar onde houver uma aurora boreal!
Beto Cruz
Quando perdemos o vocalista,Fran Alves, na verdade já estávamos a planejar mudanças estruturais na estética e sonoridade da banda.
E nesse contexto de uma nova guinada que queríamos dar, surgiu o Beto Cruz, que foi o elemento certo, na hora certa.
Beto tinha a mesma vontade de buscar uma maior aproximação da banda com os padrões vigentes do mundo mainstream, e nesse sentido, nos auxiliou demais nessa empreitada.
Pelo fato de tocar guitarra, ele apresentava muita facilidade para compor e a sua participação tornou-se, portanto, decisiva nessa tarefa de renovar o repertório da banda, quase que inteiramente, e dentro desses novos parâmetros que buscávamos.
A sua entrada na banda foi uma outra ideia do Rubens, e o leitor mais atento, já deve ter percebido que o Rubens quase sempre foi o responsável por indicar e abordar diretamente um candidato à vaga, com exceção do Fran Alves que ocorreu de uma forma diferente.
Por isso, novamente foi o Rubens, o responsável pela entrada de mais um vocalista.
Sobre o Beto, quando ele entrou, sabíamos que ele havia tido uma experiência anterior com uma boa banda chamada: "Zenith", e antes, ainda nos anos setenta, houvera trabalhado com o grupo: "Zona Franca", com seu irmão, Claudio Cruz no baixo, e Charles Gavin, na bateria.
Pairavam boatos sobre ele no métier, como por exemplo o de que costumava andar de carro conversível e com uma guitarra Gibson Les Paul no banco do passageiro, como forma de ostentação Rocker.
Quando entrou para a nossa banda, ele desmentiu a lenda, ao dizer que sim, tivera como carro, uma Puma conversível, mas jamais andaria com uma guitarra cara dessas, exposta nessas condições...
A sua voz era potente, e com timbre límpido, bem diferente da rouquidão dramática do Fran Alves.
A sua postura de palco, se mostrava muito boa, ao se movimentar bem, e sobre a comunicação com o público, esta também era muito boa. Ele tinha ótima aparência, e isso ajudou a capitalizar a presença maciça do público feminino, mesmo que a posição de "galã oficial" da banda sempre fosse do Rubens, desde o início das nossas atividades.
Aos poucos, Beto pôs-se a tocar guitarra nos shows, também, e claro que isso encorpou o som da banda. Ele tocava bem, sem virtuosismos, mas tal predisposição foi comedida, pois a ideia primordial foi em permanecermos como um quarteto, onde o vocalista só cantasse.
Beto continha um carisma, certamente e na minha análise, creio que de todas as fases que a banda teve em sua trajetória, duas se destacam com maior protuberância no imaginário dos fãs: a fase do Power-Trio, ao investirmos bastante no Jazz-Rock setentista e a fase Hard-Rock oitentista, com o Beto no vocal. Por isso, acho que ele tem um grande mérito pela sua participação na banda.
Como pessoa, era (é) um sujeito extremamente brincalhão, sempre pronto a ajudar e com muita iniciativa a lidar com questões de produção e bastidores da banda.
Sou-lhe muito grato pela força de trabalho que trouxe para a banda, em vários aspectos, e na fase mais aguda da crise em que adentramos no segundo semestre de 1987, ele foi um guerreiro, literalmente, pois saiu à nossa frente com um facão a cortar a mata selvagem que nos envolvia e a abrir clarões na floresta, para nos salvarmos.
Jamais me esquecerei disso e tenho que enaltecer o seu enorme esforço nesse sentido, pois se existe o LP The Key, creio que pelo menos 95 % por cento dessa concretização, veio da parte de seus méritos para tal concretização.
Beto também foi fundamental quando a banda quedou-se definitivamente e em questão de dias, armou um novo cenário para que uma nova banda dissidente fosse formada às pressas, para suprir necessidades e compromissos da velha, A Chave do Sol, que seriam inadiáveis.
Foi um grande companheiro, amigo leal e incansável batalhador.
Sobre a dissidência d'A Chave do Sol, que na realidade é uma outra banda com uma história sua em separado, falo com detalhes nos seus capítulos exclusivos.
Após a minha saída dessa banda dissidente, em meados de 1989, ele a reformulou completamente mais uma vez, e a liderou por mais algum tempo, até fechar as suas portas definitivamente, no início de 1991. A seguir, mudou-se para os Estados Unidos, onde estabeleceu-se para sempre, ao abrir um negócio e constituir família. Beto Cruz mora atualmente em Fort Lauderdale, perto de Miami, no estado da Florida.
Mas ele não largou a música, pois já se envolveu com bandas norte-americanas, e cerca de três anos atrás lançou uma música na internet, a tocar guitarra e cantar. Eis então, a canção: "Winds of Change", que ele lançou nos Estados Unidos, com link abaixo para escutar no portal bandcamp:
http://merkana.bandcamp.com/track/winds-of-change
Nos conectamos através das redes sociais desde o saudoso, Orkut, e nos falamos com regularidade no Facebook, hoje em dia (2015).
"O Sol só brilha para quem luta até o final" é um pedaço de letra que ele escreveu e lhe cai bem, a espelhar bem o seu espírito guerreiro para enfrentar os obstáculos da vida.
Continua...
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