Alguns dias depois, ainda no mês de julho de 1997, faríamos um show em um
festival realizado na cidade mineira de Caxambu.
Foi mais uma vez um
contato do nosso baterista, Juan Pastor, mas não tratou-se de um show
patrocinado ou apoiado pela Rádio 89 FM, mesmo por que ficava fora do
seu domínio natural.
Esse festival fora na verdade, uma tradição fixa, feita com uma periodicidade anual,
por aquela simpática cidade interiorana, e privilegiava bandas
independentes, e autorais, o que foi sem dúvida, algo muito louvável.
Uma
série de bandas apresentar-se-iam em quatro dias de eventos, e estávamos
escalados para tocar no sábado, dia 26 de julho. Mas, por conta da
logística do transporte que fora-nos oferecido, partimos para Caxambu-MG na
noite de quinta-feira, para chegarmos lá na sexta pelo início da manhã, bem
cedinho.
Tratara-se de um ônibus fretado pela organização, e que
teve como ponto de partida, o Centro Cultural São Paulo, onde geralmente
muitas empresas de turismo marcam saídas para excursões particulares. Haveria
bandas de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, nesse festival e lembro-me de que no
nosso ônibus, nós viajamos com a comitiva de outros grupos, por exemplo o "Pin Ups", da baixista, Alê (com a qual
tivemos conversações em 1994, ao visar assinarmos com a gravadora
"Roadrunner"); "The Charts", e "Soul 4 Everybody", entre outras.
A
primeira lembrança dessa viagem, é a de um produtor do
festival, a se expressar com um tom duro, meio militarizado, da dar conta já com todos dentro do ônibus, de que todo mundo que
estivesse a carregar drogas na bagagem, deveria tratar de livrar-se do
material ilícito, por que era praxe da polícia rodoviária, surpreender
ônibus fretados naquela região toda do sul de Minas, por que era grande o
número de "malucos" (beleza?) a transitar por ali, principalmente pelo fato de
existir uma enorme tradição de hippies que se deslocam para ir à São Tomé das Letras, uma
cidade onde definitivamente, "o sonho nunca acabou"...
Bem, não foi
absurda a advertência do rapaz, mas confesso que achei sombrio o seu
tom de voz, embora ele mesmo, detivesse visual de "grunger". Certamente
estava acostumado com as batidas da polícia e com os transtornos
acarretados por tais eventos, já que ônibus fretados, e cheio de músicos
doidos, e freaks em geral, devia fazer parte de sua rotina de vida, como produtor de festivais.
A
viagem foi tranquila e demorada, pois apesar da distância não ser tão
grande (ao olhar o mapa do Brasil, Caxambu-MG, fica bem perto daquela
tríplice fronteira entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, em meio a uma região
serrana), o fato de ser um trecho muito montanhoso e sinuoso, agravara-se por conta de que depois que
utilizamos uma estrada menor, após ultrapassarmos a cidade de Campos do Jordão-SP, tornou o percurso
lento.
Fazia um frio de rachar, com muita neblina e por ser
noite, claro que o motorista foi bem prudente e pisou no acelerador com
bastante parcimônia. Mas quando estávamos quase a chegar, uma inevitável batida policial realmente aconteceu, a causar um atraso significativo.
Foto
rara dessa viagem, do acervo de Jason Machado, que viajou conosco,
para trabalhar como roadie. Eu, Luiz Domingues e Juan Pastor, na porta do
Hotel União, em Caxambu-MG, onde hospedamo-nos na manhã de 25 de julho de 1997. Acervo e cortesia de Jason Machado
A segunda lembrança, foi chegar ao hotel com o dia
a amanhecer e ser recebido com um café da manhã muito bom. Confesso, foi
o melhor pão de queijo que comi na minha vida, a sair do forno naquele
instante, e por estar muito quente, a contrastar com aquele frio intenso que
fazia. Honrou a fama que tal iguaria mineira, tinha.
Não tínhamos atividades naquele dia e pudemos dormir até
tarde, quando após o almoço, saímos para conhecer a cidade. Foram
momentos divertidos vividos no hotel, sempre com o tradicional festival
de piadas imediatas dos humoristas do Pitbulls on Crack, etc.
No período
noturno, fomos à praça pública onde realizavam-se os shows do festival.
Estava um frio forte, com um pouco de névoa. No termômetro público, por
volta das 23:00 horas, marcava-se 7°...
Lembro do
show do "Pin Ups" e
que estava agradável com aquele trabalho deles, meio inspirado no
Glitter-Rock setentista (ao menos era o que eu enxergava de positivo
na sonoridade dessa banda), mas a vocalista, Alê, perdeu-se um pouco ao fazer um discurso
inflamado sobre o direito de cantar em inglês etc. Claro que ela
tinha o direito de cantar no idioma que quisesse, mas daí a irritar-se
por ter gente que
não concordara com tal determinação, eu achei que passou
da conta ao falar isso ao microfone, publicamente, como um desabafo.
Por
outro lado, o clima na praça estava um pouco tenso. Havia tantos
policiais à paisana, que o fato de estarem supostamente "disfarçados",
nem fazia diferença. O seus semblantes tensos e de intenção de
vigilância, denunciavam-nos.
Fiquei cansado dessa
tensão psicológica e por não haver nenhuma banda que despertasse a minha intenção
para justificar minha presença em meio àquele frio, e sob esse tipo de baixo
astral miliciano, despedi-me dos amigos que resolveram ficar
mais, e preferi voltar ao hotel, onde o cobertor quentinho e uma TV, fazer-me-iam mais feliz...
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
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