Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
terça-feira, 7 de julho de 2015
Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 91 - Por Luiz Domingues
Evidentemente que uma sensação de euforia juvenil contaminou a minha garotada, assim que ele viram a primeira carta a ser publicada em um grande jornal de circulação nacional. E à medida que as cartas foram a ser publicadas em significativa constância, ficou óbvio que os editores desses órgãos, farejaram alguma coisa diferente a pairar no ar.
Não um embuste, mas alguma coisa a acontecer e que poderia caracterizar a existência de uma nova tendência cultural, cena, febre, formação de tribo, ou o que fosse, e que mereceria investigação. Já havíamos publicado cartas na Folha de São Paulo, no "Estadão" (Jornal: O Estado de São Paulo), Jornal da Tarde e na revista Rock Brigade, mas apenas a partir de um certo tempo, eu comecei a caçar os recortes para a formação de um possível portfólio.
Portanto, perdemos várias publicações, e claro, fica a ressalva de que eu não mantinha condições de estabelecer "clipagem", que é um serviço de assessoria de imprensa que caça implacavelmente qualquer nota que saia publicada, a providenciar cópia para formação de portfólio etc. e tal. Mas na base da cooperação, eu e os meus alunos fomos a nos ajudar prosaicamente e conseguimos reunir um número razoável de recortes de tais publicações.
Alexandre "Leco" Rodrigues Peres, em foto dos anos 2000, a gravar o primeiro álbum do Klatu, a sua banda até os dias atuais
Portanto, já tínhamos conseguido bons resultados, quando um de meus garotos participantes, Alexandre "Leco" Peres Rodrigues, recebeu um telefonema inesperado em sua residência. A redação do Caderno 2, que era (é), o caderno de arte & cultura do Estadão, entrou em contato, a lhe solicitar uma entrevista, com o seguinte mote como pauta: "jovens que apreciam ícones culturais de décadas passadas".
O seu nome fora pinçado entre as cartas, e mediante a velha e boa "lista telefônica", baseado em seu endereço residencial no remetente da carta, acharam o seu número telefônico residencial. Bem, ele recebeu a reportagem em sua residência e foi fotografado com muitos discos de sua coleção pessoal, e a usar uma camiseta cuja estampa exibiu o LP "O Jardim Elétrico", dos Mutantes.
Comemoramos tal publicação, pois foi uma prova inequívoca de que os nossos esforços estavam a frutificar. Claro que eu nunca achei que mudaríamos por um passe de mágica, a mentalidade dos jornalistas fechados no paradigma maldito, tampouco seríamos entendidos pelos jovens jornalistas que em geral, nem desconfiavam que existira essa questão arraigada e velada, dentro de redações. Todavia, eu achei que foi uma semeadura importante naquele instante. Mais que isso, foi uma constatação interessante, também.
Sem dúvida, com essa prosaica manifestação sob cunho caseiro, conseguimos mexer com redações de jornais de primeira da mídia brasileira, a provar que no campo do marketing, a "formação de opinião" represnta tudo...
Ora, se com poucos adultos, alguns adolescentes e uma ferramenta singela que foi a velha carta enviada pelo correio, fizemos esse barulho, ao despertar a atenção de jornalistas e editores, o que poderíamos fazer se tivéssemos dinheiro para bancar uma agência top de propaganda e marketing para trabalhar em nosso favor?
E se tivéssemos um grande contingente de "formadores de opinião" a trabalhar para fomentar as nossas ideias?
Pois é, se o paradigma na imprensa nacional foi o de que o Rock brasileiro nascera em 1980, na cidade de Brasília, sem dúvida que tal ideia estapafúrdia fora trabalho dos tais formadores de opinião, por que na realidade, essa premissa está a milhas da verdade histórica. Portanto, fomentar tal mentira explica muita coisa, enquanto estratégia de marketing.
E não tenho dúvida, as coisas só irão melhorar no patamar cultural, no momento em que esse paradigma for quebrado. E ao se considerar que estou a comentar sobre o panorama de 1998, mas a levar-se em conta que neste momento em que escrevo este trecho, 2015, o panorama não melhorou, mas pelo contrário, piorou muito, eu deduzo com tristeza que ainda adormece a força latente que um dia nos libertará desse grilhão que nos amarra desde 1977.
Mas um dia, conseguiremos... sou um otimista por natureza, e acredito que as sementes jogadas, ainda que demorem para nos dar frutos, não falharão em florescer.
Continua...
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