quarta-feira, 29 de julho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave/The Key - Capítulo 1 - Por Luiz Domingues


Esta é uma nova história da minha trajetória na música, embora seja um começo sui generis, por que não foi um trabalho totalmente novo que se desenhou para a minha carreira, mas foi a consequência de uma necessidade premente para se montar uma banda dissidente da velha, "A Chave do Sol", e com uma urgência absurda. Vamos aos fatos:

Sem tempo para pensar, quando uma bomba atômica caiu sobre a minha banda, A Chave do Sol, em dezembro de 1987, eu não pude me dar ao luxo de ficar deprimido com tal final súbito de uma banda que construira uma trajetória muito consistente na história do Rock Brasileiro. Com compromissos marcados e absolutamente inadiáveis, por conta das contas contraídas para que o último LP da banda, chamado: "The Key", fosse para as prateleiras das lojas especializadas e mesas de jornalistas, a banda não podia acabar, simplesmente. Contudo, da maneira como saiu destruída depois dessa hecatombe, tornou-se impossível pensar-se em uma reconciliação entre os membros remanescentes, a buscar-se um sentido de continuidade.

Então, sem saída, eu tive que tomar uma série de providências para não deixar a situação ficar pior ainda, pois os compromissos urgiram e a mais razoável solução para esse imbróglio ser resolvido de imediato, foi procurar o escritório do INPI (Instituto Brasileiro de Patentes Industriais), para entrar com um pedido a requerer um novo nome para criar uma banda emergencial.

Com o impedimento legal para se continuar a usar a marca: "A Chave do Sol", que pertencia oficialmente ao Rubens, pela patente do INPI, eu precisava criar um nome que detivesse uma ligação com a minha ex-banda, não por maquiavelismo de minha parte, mas simplesmente porque o LP "The Key" havia sido lançado há pouco mais de vinte dias, e assim, houve uma necessidade de promovê-lo ao máximo, por que as vendas, significaram a nossa única esperança para saldar as dívidas provenientes dessa produção.

Além disso, A Chave do Sol tinha compromissos inadiáveis para cumprir em janeiro de 1988, e em hipótese alguma nós poderíamos deixar de efetuá-los, sob o risco de sabotar a divulgação do disco e aí, sob um efeito cascata, ficarmos em péssima situação.

Nesses termos, a solução mais razoável que eu pude providenciar, foi investir na marca: "A Chave", a suprir o complemento, "do Sol".

Dessa maneira, manteríamos um elo com a banda que havia encerrado atividades subitamente e portanto, para não nos distanciarmos do LP The Key, da percepção dos jornalistas e principalmente dos fãs do trabalho da nossa extinta banda.

Não foi uma solução mais adequada, todavia. Nos anos setenta, uma banda que alcançou fama nacional no meio Rocker, chamava-se justamente: "A Chave". Foi uma ótima banda, por sinal, que eu inclusive gostava e cheguei a assistir ao vivo, certa vez durante um festival promovido pela Rede Bandeirantes de TV, chamado: "Balanço", em 1977 (contei essa particularidade com detalhes nos capítulos sobre o Boca do Céu, a minha primeira banda).

Causou-me um desconforto batizar a nova banda dessa forma, é óbvio, mas acuado pelas circunstâncias dramáticas que cercaram o fim abrupto d'A Chave do Sol, eu não tive outra alternativa a não ser insistir nessa ideia. Mas o fato de eu tentar, não significara ainda que lograria êxito, pois quando se tenta patentear um nome no INPI, a primeira providência a ser adotada é perpetrar um processo de "busca", onde aquele órgão vai pesquisar se não existe ninguém no território nacional, a usar o mesmo nome para tal finalidade.

Quando se patenteia alguma marca, existe um número infinito de possibilidades, e quanto mais você tentar cercar, mais taxas tem que pagar. Por exemplo, eu poderia patentear tal marca para ser usada como nome de um conjunto musical, mas se quisesse cercar para outras finalidades, como abrir um escritório de representação artística com o mesmo nome, por exemplo, teria que pagar mais uma taxa e assim por diante, para cada situação que desejasse assegurar com tal marca.

Portanto, foram dias marcados pela angústia, pois corríamos contra o relógio, ao tentar formar uma nova banda e a burocracia da busca pela marca, em si, demandava dias. Sem alternativa, paguei a taxa pela busca e dei entrada em tal protocolo.

Concomitantemente, saía às ruas para vender o LP The Key, pois sem esquema de distribuição algum, foi a única forma para conseguir angariar fundos em curto prazo, para amortizar dívidas.

E pelo lado do Beto, os seus esforços foram concluídos para arregimentar novos músicos a fim de que formássemos uma banda emergencial, e acompanhara o mesmo frenesi desesperado.

Dessa forma, a a ideia foi montar um time às pressas, pois tínhamos dois shows para fazer, fruto da agenda assumida pela velha, A Chave do Sol, e como já salientei, foi impossível pensar em cancelá-los, simplesmente, dada a emergência em levantarmos dinheiro e divulgar o novo disco.

Após alguns dias, já no início de 1988, eu consegui o resultado da busca do INPI. De fato, a marca "A Chave" pertencera a um dos músicos daquela extinta banda paranaense, mas há muitos anos o domínio fora abandonado, a denotar falta de interesse de seus ex-membros para renová-lo. Com a consciência um pouco mais leve, dei entrada imediatamente no protocolo de patente em meu nome, e mesmo ao saber que o processo demoraria de três a cinco anos para dar-me a patente definitiva, o protocolo assegurou-me a prioridade total nessa reivindicação, ou seja, ninguém no Brasil poderia atropelar-me, e ter esse nome para si. Era uma bobagem burocrática, mas diante da briga que eu e Beto tivéramos com o Rubens, tal rusga surgida em nossa banda, infelizmente obrigou-nos a tomar tal providência. 

É óbvio que se algum membro remanescente d'A Chave original de Curitiba, reivindicasse usar novamente o nome para promover uma volta das atividades daquela banda, eu jamais criaria nenhuma dificuldade para que eles voltassem a usar a sua marca.  

Ao ver hoje em dia tal movimentação, ninguém imagina o quanto lamento aquela ruptura, conforme já deixei claro nos capítulos da história d'A Chave do Sol, e só imagino o quanto de sofrimento de todos nós, eu (Luiz), Beto e Rubens, teria sido evitado, se um ou dois dias depois daquela discussão, houvéssemos nos encontrado com maior calma e decidido prosseguir com A Chave do Sol, pois o único desconforto premente, teria sido arrumar um novo baterista para seguirmos em frente.

E nem mesmo isso talvez fosse necessário, pois o Zé Luiz Dinola já havia desistido de sua ideia esdrúxula de estudar odontologia nessa altura de dezembro de 1987, e muito provavelmente estaria disposto a dialogar e decidir voltar a ocupar o seu posto na banda, lugar de onde jamais deveria ter saído, aliás. Todavia, não foi assim que aconteceu, infelizmente.


Continua...

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