terça-feira, 7 de julho de 2015

Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 92 - Por Luiz Domingues


Bem, além dos momentos de grande euforia que embalaram os meses entre fevereiro e agosto de 1998, os progressos da minha nova banda, "Sidharta", e das bandas de alunos e agregados que se irmanavam nessa vibração retrô, também ajudaram nessa equação aquariana.

Bandas como o "Soulshine" (o embrião primordial do Tomada), "Supernova" e "Tomate Inglês", mobilizavam as atenções de todos os meus alunos, que apoiavam-se mutuamente através de mutirões de divulgação, e esforço para lotar os espaços onde se apresentavam, inicialmente em bares de pequeno porte, festivais colegiais, festas em praças públicas, ou em qualquer outro lugar onde pudessem se apresentar.

Um outro evento que uniu muito a minha garotada, foi um projeto que surgiu no Centro Cultural São Paulo chamado: "Terça Blues", que era realizado no hall de entrada daquele complexo cultural, ao ar livre, portanto. Eu não toquei nesse evento, mesmo por que, o Sidharta foi a minha única banda na ocasião, e nós estávamos com a proposta de apenas ensaiarmos e montarmos um repertório autoral naquele ano, sem marcarmos apresentações.

Nenhuma banda de aluno meu tocou, também, pois se tratou de um projeto específico de Blues, e geralmente representado por nomes já consagrados dessa vertente musical, e sem maiores chances para bandas novas do circuito.

Porém, tornou-se um acontecimento que mobilizou a minha tropa de maneira natural, que tornou-se habitue no evento, toda terça feira, às 18:00 horas. Mais que isso, o evento pôs-se a crescer rapidamente, e já no meio do ano, ele reunia centenas de pessoas, talvez a assustar os dirigentes do Centro Cultural que muito possivelmente dimensionaram erroneamente que poderia se desenvolver como um evento despojado tão somente, para reunir poucas pessoas no "Happy Hour", para apresentações quase intimistas, à beira da lanchonete externa do complexo.

Portanto, muito pelo contrário, com cada terça a ser concorrida ao extremo, o clima de euforia extrapolou as fronteiras do Blues, e o clima instaurado, portanto, tornou-se de show de Rock. Impressionou-me, mais que o grande contingente em si, a impressionante presença de jovens, com características pró-retrô, visíveis. Pela grande profusão de neo-hippies cabeludos, meninas com saias floridas e flores na cabeça, uso de camisetas com estampas de bandas de Rock dos anos 1960 e 1970, ou seja, aquela manifestação espontânea e efusiva, chamou-me a atenção, der imediato. Foi assim, uma constatação muito boa de que aquela tendência não fora apenas a ação perpetrada por um nicho específico de "iniciados" anacrônicos dentro da minha sala de aulas, mas havia na realidade, centenas de jovens a vibrar a mesma intenção, espalhados pela cidade.
Portanto, o movimento de cartas teve mais significado sociocultural do que eu imaginei, e claro que na iminência de colocar a minha nova banda para rodar na estrada, assim como as bandas de alunos e agregados a caminhar juntas, formariam por conseguinte uma pequena cena, com absoluta certeza.

Para falar especificamente das minhas aulas, tal momento de euforia generalizada, maquiou com alegria, o final da minha "Era" como professor. Nessa altura, metade de 1998, o meu quadro de alunos esteve baixo, ao assemelhar-se aos primeiros momentos de minha atividade como professor, quando logo no começo dessa ação, julho de 1987, eu começara com poucos alunos, a tatear no escuro por adentrar um campo de atividades inteiramente novo, obscuro e de minha parte, sem nenhum traquejo para lidar.

Preocupou-me, é claro, essa situação pelo ponto de vista financeiro, mas ao mesmo tempo, a minha confiança em tempos animadores para a minha nova banda, foi muito grande. Dessa forma, toda essa animação pelas cartas a serem publicadas, somadas às bandas que se forjavam ao meu redor, tudo isso somado deu-me muito mais energia para viver essa fase de 1998.
Continua...

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