sábado, 18 de julho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 386 - Por Luiz Domingues


A fugir completamente do padrão d'A Chave do Sol, as circunstâncias geradas por todos os fatos que eu já expus anteriormente, nos levou a realizarmos um baixíssimo número de ensaios. A nossa sorte, foi a de que no caso da maioria das músicas, nós já havíamos tocado-as muito, ao vivo, e naturalmente se colocaram em forma, sem indícios de ferrugem decorrente dessa nova fase em que nos encontrava-nos, com a ausência completa de empenho, a contrastar com o esmero do qual nos orgulhávamos durante todos os anos anteriores de nossa existência.

Outro fator de sorte, foi que se houvéramos perdido o nosso grande baterista, José Luiz Dinola, o convidado para suprir tal gravação, foi ninguém menos que Ivan Busic, ou seja, um baterista de grande técnica, e que apesar de poucos ensaios, nos inspirava total confiança de que no estúdio, desempenharia com enorme categoria a sua função, e de fato, foi o que ocorreu.

Outra ação muito positiva da parte do Beto, foi no sentido de contatar o produtor, Edy Bianchi, que houvera produzido o LP do grupo "Inox", anteriormente. Edy Bianchi era (é) um grande Rocker, com formação pessoal inteiramente calcada no som vintage das décadas de sessenta e setenta. Não foi a nossa intenção deliberada trazer tais influências para a sonoridade do disco. Não foi uma preocupação nossa na época, soar vintage, e pelo contrário, a intenção foi, a grosso modo ser atual para os padrões da época, a buscar o Pop possível dentro das características de uma banda de Hard-Rock oitentista.

Mas, no meu caso, onde tais influências eram muito queridas por natureza intrínseca, trabalhar com um produtor como Bianchi, que entendia a mesma linguagem, seria no mínimo, um tremendo prazer. E de fato, o foi.

Ressalto, não buscamos para efetuar esse trabalho, tais signos comprometidos com a estética dos anos 1960 & 1970, mas eu penso que sim, tais sinais existem, ainda que se apresentem por fatores absolutamente sutis e não deliberados para o propósito do álbum nessa época. Todavia, se Bianchi tivesse participado das gravações dos discos da Patrulha do Espaço, quando eu fiz parte da formação, muitos anos depois, e aí sim, com a intenção de soar retrô sendo explícita, teria sido perfeito!

Bem, fora dessas considerações estéticas, Edy Bianchi aceitou o convite do Beto, e ciente de nossa penúria, foi além e se predispôs a trabalhar sem cobrar cachê, por puro prazer e esforço colaborativo com o projeto da banda. Creio ter sido esse, um patrocínio que deu certo para a banda, sem reservas, e um golaço do Beto para o nosso time, sem dúvida.

Então, em meio a um cenário que foi tétrico para a banda pelo seu profundo momento de baixo astral interno, com direito a uma perda que reputo irreparável, caso da saída de Zé Luiz Dinola, a arregimentação de recursos para materializar o que viria a ser o LP The Key, foi notável, e sem dúvida, revelou-se o último alento para salvar a banda.

Nessa circunstância, o grande artífice dessa tentativa de manter a chama acesa, foi o Beto, não tenho dúvida, que sempre teve espírito empreendedor por natureza, e ao ver o circo a pegar fogo, ele tratou de correr para arrumar um extintor, balde d'água e chamar os bombeiros... enfim, não mediu esforços para extirpar o fogo e nos salvar.

Com estúdio marcado, baterista substituto pronto, selo garantido, capa a ser preparada, produtor de estúdio a postos, e três patrocínios acertados, fomos para o estúdio Guidon, nos primeiros dias de outubro de 1987, para a nossa cartada final: seria ganhar a rodada desse jogo de poker, ou perder tudo...

Continua...
   

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