terça-feira, 7 de julho de 2015

Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 87 - Por Luiz Domingues


Somente por volta de fevereiro de 1998, foi que os primeiros resultados audíveis do projeto Sidharta puderam ser conferidos pelos meus alunos, que esperavam por isso desde que eu anunciara o início dos trabalhos, ainda em 1997.

Lembro-me bem quando convidei vários deles, em uma quinta-feira, que era ainda o dia mais repleto de alunos, apesar da debandada geral, para uma pausa, ao visar uma breve audição de uma fita K7, oriunda de um ensaio da banda. Se tratou de uma gravação tosca sob todos os pontos de vista, mas representou um verdadeiro tesouro para eles, e para mim também, por toda a expectativa que envolvera esse projeto.

Além da precariedade de uma gravação feita sob um gravador portátil sem apuro técnico algum, a gravar a massa bruta de um ensaio equalizado sem nenhum critério, e ao levar-se em conta o fato de que foram os primeiros passos empreendidos pela banda, com poucas músicas compostas e ainda sob fase de arranjos, claro que todos vibraram com a perspectiva de ouvir tal material. Dessa forma, nos aglomeramos dentro e no entorno de meu próprio carro que estava estacionado na garagem de minha casa, e que ficava acoplada à sala de aulas no patamar térreo da residência e ansiosamente, eles aguardaram eu apertar o botão do "play" no toca-fitas do automóvel...

E então, aconteceu um fenômeno interessante e inesperado. Eu não diria que não gostaram, mas houve uma certa decepção com a percepção que tiveram das três primeiras músicas com as quais o Sidharta estava a trabalhar nos seus primeiros ensaios.

A falar francamente, e eles tinham essa liberdade certamente, me disseram que havia-se criado a expectativa de sons mais pesados, mais calcados no Hard-Rock setentista, e as primeiras canções que ouviram, foram muito leves para a sua expectativa inicial. Não que não gostassem, mas estavam a esperar uma safra inicial com canções mais pesadas, ou mais orientadas pelo Prog-Rock, e como estávamos a trabalhar com um tema inspirado na Soul Music, um  outro que soara como Rock'n' Roll tradicional e também com uma balada, de certa forma decepcionaram-se.

Bem, essa primeira impressão dissipou-se logo a seguir, e questão de poucas semanas depois, estavam a apreciar o material que estava a ser composto e motivados, passaram a visitar os ensaios elétricos da banda, em grande profusão.

E na euforia dessa movimentação dos primeiros passos do Sidharta, uma ideia exótica que foi aventada em uma determinada aula, ganhou ares de seriedade, e ao concretizar-se, tornou-se ao meu ver, o último suspiro de criatividade dentro do meu pequeno universo da sala de aulas. Não fora apenas pelo Sidharta, mas certamente pelo cômputo geral, isto é, a "cereja de um bolo" que vinha a ser preparada há anos.

Foi o coroamento, talvez, de um esforço coletivo em termos de euforia e resistência em prol de um ideal, e que norteara os melhores anos da minha atividade como professor de música, como eu já salientei diversas vezes, período esse iniciado em 1992.

Ainda a ter a ferramenta da internet a ser visitada por poucos, e por não existirem ainda as redes sociais, resolvemos usar uma metodologia antiquada mas ainda eficaz, para provocar reações. Foi uma enorme ação com ares farsescos, mas que tornou-se uma realidade, quando nos imbuímos da determinação de concretizá-la, e para valer.  Falo sobre o dito, "movimento de cartas"... o último sopro de vida proporcionado no ambiente das minhas aulas!

Continua...

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