sexta-feira, 31 de julho de 2015

Lágrimas de Março - Por Marcelino Rodriguez

Hoje gostaria de escrever uma lágrima, ou pintá-la. 

Que fosse redonda, substancial, lenta de cair, dependurada nos olhos. 

Sim, eu queria chorá-la. 

A sinto em mim, mas ela teima em não nascer do guerreiro cansado. 
Meu corpo pesa como asas molhadas no temporal. 

A última ternura que veio, fora de meus cães, tão distante vai que esqueci-me. 

No mundo da escuridão, os filhos de Deus sofrem para crescer entre os demônios humanos que de tudo tomam conta e sabem, menos do amor e de amar, primeiro e segundo mandamentos ignorados. 

Essa lágrima, se caísse, seria dádiva.

Qualquer mulher a choraria, fácil, fácil. Todavia, em mim ela seca, oprime, em vão pedindo libertar-se. 

Um pouco mais sairei para os combates, com meu coração invisível aos olhos, apodrecendo seus tesouros subutilizados. 

Amor e alegria, ambos crucificados no tempo. 

Porém, é preciso por o site no ar...

E a mulher do sonho da noite, que me fitava com admiração ? 

Ah, era apenas um sonho, e nos tempos que correm, cada vez os sonhos são apenas sonhos, nada mais. 
 
Texto do livro "MAIS VAZIO QUE O PARAÍSO
Marcelino Rodriguez é sazonal fixo do Blog Luiz Domingues 2. Escritor de vasta e consagrada obra, aqui nos traz uma pequena crônica extraída de um de seus livros, "Mais Vazio que o Paraíso". 
A lágrima que teima em não cair, fruto da brutalização do homem, é o tema dessa crônica.

2 comentários:

  1. É triste quando ainda vejo alguns pais dizerem aos seus meninos, que homem não chora. Quanta bobagem! Chorar alivia as dores da alma.
    Lindo texto!

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    1. Bem por aí, Jani. Sociedade tola que aculturou uma ideia ridícula de que ter sensibilidade é sinal de fraqueza.

      Grato por ler e comentar !

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