segunda-feira, 6 de julho de 2015

Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 74 - Por Luiz Domingues


Ainda em 1994, eu fui com uma turma boa de alunos meus à casa de shows, Olympia  para assistir o show do Yes. 

Um comboio foi organizado com saída de minha residência, e o casal Monica & Nelson Maia Netto foi deslocado para o carro de um ex-aluno meu. No caminho, os perdi de vista, por conta de uma mudança súbita de rota que o meu ex-aluno resolveu assumir. Já estávamos nas dependências da casa de espetáculos, a poucos instantes do show começar, quando vi o casal a entrar, esbaforidamente. O que houve?

De fato, o motorista do carro mudou o caminho e desgarrou-se de nosso comboio, por pura distração. E nessa mudança que estabeleceu, foi parar em uma avenida que dava acesso ao bairro de Pinheiros, quando em nosso caminho, nos dirigíamos à Lapa. São bairros razoavelmente distantes um do outro, para quem conhece a cidade de São Paulo. Como se não bastasse o atraso, quanto mais se atrapalhou com o caminho errado, mais nervoso pôs-se a ficar e em meio ao seu nervosismo exacerbado, quase cometeu uma colisão, com direito à discussão ríspida com o motorista do outro carro envolvido.

Enfim, apavorados com a situação, o casal Maia Netto pediu para descer do carro e concluiu o percurso, mediante o uso de um táxi, para chegar em cima da hora na casa de espetáculos, e consequentemente a perder forçosamente um bom lugar para assistir o show, pois os seus ingressos eram para o setor da pista, onde não há vaga demarcada. 

Enfim, não foi minha culpa por eu ter sugerido que embarcassem no carro desse rapaz, mas fiquei chateado por ver que estressaram-se por causa dele. E o rapaz em questão? Sim, ele também chegou atrasado e um pouco alterado pelo nervosismo gerado...

Outra lembrança digna de nota, se deu em 1993, quando no mês de dezembro daquele ano, o grande astro do Rock cinquentista, Jerry Lee Lewis, apresentou-se pela primeira vez no Brasil. Como é público e notório, Lewis construiu a sua carreira inteira em cima da fama de ser extremamente temperamental. E mesmo já com a idade a avançar, "The Killer" não demonstrava nenhuma intenção de deixar de ter a sua "fama de mau".

Sendo assim, ele entrou visivelmente embriagado no palco da casa de shows, Palace, aqui de São Paulo, e tocou por exatos 42 minutos apenas, quando sob um ato tresloucado, levantou-se do banquinho do piano, chutou-o, e saiu de cena para não voltar mais naquela noite.

Apesar da casa estar lotada por fãs do mito cinquentista, um princípio de revolta instaurou-se, com muitas pessoas a exigir a volta do artista ao palco, para dar continuidade ao espetáculo e outros mais exaltados, ameaçavam pessoas ligadas à produção do show, a exigir o valor dos ingressos cobrados. Sob o ponto de vista do código do consumidor, claro que a reivindicação procedeu, pois o show fora interrompido sem nenhuma razão plausível, a não ser a embriagues e o temperamento irascível do artista.

Contudo, ao se considerar que todo mundo ali presente era fã de inveterado de Lewis, apesar da conduta ser inadequada da parte dele, foi por esperar-se uma certa tolerância, pois tal comportamento foi uma constante para a carreira dele. Ao ir além, posso até estar a exagerar, mas tal atitude configurou até um certo "charme" inerente para quem foi assistir "The Killer" em ação e sob uma licença poética gigantesca, posso até dizer que seria decepcionante vê-lo a fazer um show regular com noventa minutos de duração, sendo simpático etc.

Bem, em meio à balbúrdia que ocorreu entre o público, com gente revoltada a exigir "os seus direitos", houve ali presente a presença de um aluno meu que vibrava como se estivesse em uma arquibancada de estádio de futebol. A pular e gritar euforicamente como se o seu time tivesse marcado um gol. Foi o mesmo garoto que no show duplo dos também astros cinquentistas, Little Richard e Chuck Berry, deu um show na arquibancada do estádio do Pacaembu, mediante as suas traquinagens, e de fato, ele adorava esses artistas do Rock dos anos 1950.

A sua euforia nesse caso, teve uma coerência, se vista pela tese que eu defendi acima, ou seja, ele percebeu e se emocionou, em ver Jerry Lee Lewis exatamente da maneira como a sua fama se espalhou ao longo de sua carreira: temperamental, a abandonar o palco, chutar o banquinho do piano e a se apresentar bêbado...
Fez sentido, apesar da longa espera de cerca de cinquenta anos para vê-lo em ação em nosso país, e com parcos quarenta e dois minutos de música, apenas...

Como consolo, sim, ele tocou a canção: "Great Balls of Fire", um de seus grandes sucessos, antes de se aborrecer e abandonar o palco. Menos mal...

Após essa rápida explanação por eventos do passado, volto à cronologia a abordar o segundo semestre de 1995. 

Bem, nada de muito significativo ocorreu nesses últimos meses desse referido ano, que fosse digno de nota. A rotina das aulas prosseguiu, com a movimentação em torno dos shows do Pitbulls on Crack e das respectivas bandas de alunos, além do costumeiro intercâmbio entre eles, com discos, principalmente. O ano de 1996 se aproximava e nele, mais uma onda de euforia aconteceria, gerada pelo Pitbulls on Crack e o movimento criado pela gravação e lançamento do CD Lift Off. Neste caso, o apoio de meu exército Neo-Hippie se faria valer mais uma vez, de forma contundente.

E assim terminou 1995...
Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário