terça-feira, 7 de julho de 2015

Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 89 - Por Luiz Domingues


Baseado no que eu afirmei no capítulo anterior, o direcionamento das cartas precisava ser multifacetado, para dar vazão a tantas queixas que tínhamos, ainda que a raiz de todas fosse a mesma. Portanto, as primeiras cartas que enviamos, bateram mais na tecla do desrespeito sem sentido que as publicações mantinham com artistas de épocas mais remotas e com a natural má vontade desdenhosa com artistas modernos inspirados em tais estéticas, como se os poderosos de plantão se portassem como guardiões dessa estratificação proposital, a garantir que nunca mais alguém achasse o fio da meada perdido.

Eu mesmo escrevi muitas cartas e a usar nomes aleatórios para assinar tais missivas.

Foi um começo tímido, mas logo teríamos muito o que comemorar, com a primeira carta publicada, a gerar confusão dentro do fórum de leitores, e a despertar a atenção dos jornalistas de plantão. Com a primeira publicação, nos animamos mais ainda, e com a adesão natural da garotada, mais uma festa ocorreu no interior da minha sala de aulas, aliás, representou o grande canto do cisne dessa etapa da minha vida, pois foi realmente o último sopro de vida dentro da velha sala de aulas.  
Roberto Garcia Morrone foi meu ex-aluno, mas um entusiasta da causa, participara do esforço, e foi da autoria dele a primeira carta publicada.

Escrever em meu caso, sempre foi fácil, portanto, logo assumi a função de "redator-mor" dessa força-tarefa, e a missão dos garotos foi apenas no sentido de passar a limpo os rascunhos manuscritos que eu distribuía em meio às aulas e colocar o material no correio.

Alguns escreveram por conta própria, também, naturalmente. 

O meu maior desafio nessa fase inicial não foi nem o de usar argumentação farta para atacar a ação escusa da parte da mídia, pois isso foi fácil, óbvio ululante, mas sim a necessidade de buscar formas de expressão diferentes entre si, a procurar incorporar um personagem diferente a cada carta, para simular ser outra pessoa.

De certa forma, tratou-se de um treinamento e tanto de redação e estilo, pois mesmo sem técnica alguma, na base da pura força de vontade, apenas, eu tive que ser várias pessoas ao mesmo tempo, e invariavelmente, na maioria dos casos, ao obrigar-me a "pensar" como adolescente de final de anos noventa, e não como um homem maduro que chegava aos quarenta anos de idade, a minha real condição à época.

Continua...

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