domingo, 20 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 144 - Por Luiz Domingues

E lá estávamos nós de novo a bordo no nosso ônibus, rumo à Mirassol-SP.  Calor forte mais uma vez, e ao contrário de outros percursos que fizéramos, desta feita houve um silêncio no ar. O cansaço nos arrebatara após quatro dias de shows, e viagens intercaladas. Foi a primeira experiência de uma turnê nesses moldes, mas bem em breve acostumar-nos-íamos com a dinâmica de futuras novas micro turnês que faríamos, mas ao se configurar como a primeira nesse sentido, nos cansara, é claro.

Chegamos em Mirassol antes do horário previsto e esperamos um tempo pela chegada do pessoal da banda de abertura, que fora responsável pela produção local. Seria um show realizado através de uma casa noturna, produzido pelo pessoal que citei, portanto as características desse show seriam idênticas às do show de São Carlos, pelos aspectos positivos e negativos que tal tipo de produção poderiam gerar. E de fato, foi um domingo memorável, conforme relatarei a seguir, pois a banda de abertura se provou excepcional, e os rapazes que a compunham, tão gentis e antenados quanto o pessoal do "Homem com Asas", de São Carlos. A banda em questão se chamava: "Hare". 
Junior Muelas, o baterista do Hare na ocasião, e que se tornou um amigo eterno, movido pelos nobres ideais aquarianos no Rock

Tratava-se de um Power-Trio antenadíssimo na vibração das décadas de sessenta e setenta. Cultuavam toda a magia dessas décadas e vibravam com ela, ao fazer uso de um visual "woodstockeano", e a apresentar o seu trabalho autoral, portanto, orientado por preceitos aquarianos.

E assim como o pessoal do "Homem com Asas", a constatação de que houveram se esmerado para divulgar ao máximo o evento, foi notável. O esforço que fizeram para viabilizar o evento, se mostrou sensacional, e a simpatia que sentimos por eles, foi instantânea. Pelo lado negativo, seria um show a ser feito mediante um padrão de equipamento improvisado de PA e iluminação, mais uma vez e curiosamente, mais uma vez onde a vibração seria melhor. 

Nos três shows que fizemos com equipamento de som e iluminação, adequado, a vibração deixou a desejar, mas nos mais condizentes, ideologicamente a falar, as condições eram inadequadas, portanto, a conclusão ficara óbvia: tínhamos uma situação que nos impelia a lidar sempre com o imponderável

Para amenizar tal constatação, o fato de que o bar em questão, foi bem menor que o de São Carlos-SP, portanto, não seria necessário um grande PA para se produzir um som honesto. Dessa forma, com o equipamento que o pessoal do "Hare" viabilizara, achamos que o show seria adequado para o tamanho da casa, e dessa maneira, nos preocupamos muito menos do que em São Carlos, na quinta-feira anterior. 

O fato do show de Mirassol ter caído em um domingo, tampouco nos preocupara, pois estávamos em pleno dia 30 de dezembro, portanto, a segunda-feira cairia no dia de Reveillon. Pelo contrário, foi até um alento para esperarmos um bom público. Mirassol é uma cidade pequena, mas com boa infraestrutura e está distante apenas a quinze de São José do Rio Preto, uma grande cidade interiorana, com quase quinhentos mil habitantes, e porte de metrópole. Portanto, esperávamos um público também dessa grande cidade, pois a distância era mínima, e o pessoal do "Hare" era de Rio Preto, portanto, a sua base de fãs e amigos viria de lá, com certeza. 

O combinado inicial seria para termos sido alojados em um hotel, mas resolvemos voltar imediatamente após o show, pois estávamos muito cansados e queríamos voltar logo para São Paulo, mesmo com a perspectiva de que isso ocorresse quase ao amanhecer (foi o que aconteceu, de fato).

Mas, mesmo sem hotel, precisávamos tomar banho e dessa forma, o dono do bar, que era dirigente do clube local, o Mirassol, lançou a ideia de usarmos as duchas dos vestiários poliesportivos do clube e claro que aceitamos. Fomos então para o clube, que estava fechado para sócios naquela tarde, e assim, pudemos usar as dependências dos atletas, com conforto.

O dono do bar era uma figura falante e desbocada. O tempo todo que esteve conosco, fez brincadeiras malucas, e descontraiu o ambiente, a provocar muitas risadas para a nossa comitiva. De volta ao bar, jantamos e nos colocamos à espera da hora do show. Estava marcado para o meio/fim da noite e dessa forma, fomos para o nosso ônibus, estacionado na porta, para descansar nesse momento.

Quando a noite já estava consolidada, ouvimos muitas vozes advindas da calçada. Foi o murmúrio provocado pelo público a se colocar em fila, a fim de esperar pela abertura da casa. A fila era enorme e isso nos animou muito, embora não fosse um público exatamente Rocker ali presente, mas rapazes e moças, típicos frequentadores de casas noturnas à cata de balada & diversão, tão somente. Para o nosso consolo, mais moças que rapazes...

Continua...

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