terça-feira, 29 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 163 - Por Luiz Domingues

Exatamente como estávamos a prever que ocorreria, o show ferveu! Como foi bom tocar para uma plateia que soube exatamente quem nós éramos e representávamos, e assim a ansiar por aquelas ouvir canções. Dessa maneira, como na melhor das tradições de um show de Rock à moda antiga, o público vibrou só por nos ver a subir ao palco para tomarmos posicionamento e apanharmos os instrumentos. Foi uma plateia antenada, Rocker, Freak, na melhor acepção do termo.

Assim que os primeiros acordes de: "Não Tenha Medo", foram tocados pela guitarra do Marcello, o público incendiou-se, e na primeira virada executada na bateria pelo Rolando Castello Junior, antes mesmo de iniciarmos o vocal, urros foram emitidos e aliás, esse sempre foi um termômetro que tínhamos, pois quando nesse começo de show, ouvíamos urros de regozijo durante essa virada, nós sabíamos que estávamos diante de uma plateia Rocker que entendia o que estava bem o que estava a ocorrer naquele palco, visto que uma plateia leiga, não valorizava uma virada de bateria milhas acima da média de bateristas comuns, como o Junior fazia normalmente. 


Só por esse detalhe velado, percebíamos que haviam Rockers presentes em meio ao público e quanto maior o urro de satisfação, mais nos animávamos, visto que a sinergia haveria de ser total durante o decorrer do show inteiro por tal reação. 
E foi mais uma vez nessa turnê, que constatávamos uma espécie de azar, eu diria, porque em shows realizados em casas de melhor infraestrutura, geralmente encontrávamos uma plateia "não iniciada" nas tradições do Rock, e que pior que isso, mal sabia quem éramos e exatamente o que a nossa banda representava dentro da história do Rock brasileiro, por ter surgido de uma árvore genealógica nobre nesse sentido.

Em contrapartida, era curioso que geralmente em casas com estrutura modesta, ou mesmo ruim, deparávamos com plateias quentes, a saber exatamente quem éramos na nossa história e a nossa linhagem dentro do Rock nacional.

A se lamentar, apenas essa equação, que prejudicava indevidamente a nossa performance, ao tocarmos com um PA inadequado e ausência de uma iluminação decente, justamente para quem merecia nos assistir/ouvir, com as melhores condições técnicas possíveis. Bem, feito o desabafo em ritmo de constatação ou vice-versa, relato que o show foi sensacional do começo ao fim, com vários picos de euforia. É sempre muito gratificante para qualquer artista, olhar nos semblantes das pessoas e verificar que estão emocionadas, e foi isso que eu vi na maioria das faces que mirei, no calor da misè en scene.

A euforia foi tanta, que nos arriscamos a fazer um improviso de última hora, ao tocarmos um pedaço da música: "Sociedade Alternativa", do Raul Seixas, apenas para fazer uma brincadeira com o freak doido, dono da casa, o tal "Biba". Cantamos no refrão: "Viva, viva, viva o Biba e a sua cabeça alternativa".

Quando surpreendemos o público com o riff de "In a Gadda da Vida", do Iron Butterfly, a casa caiu, com gente a pular de alegria, como se comemorasse um gol no estádio de futebol. Os temas mais progressivos fizeram o público vibrar, também. A cada demonstração de ecletismo dos nossos guitarristas, ao trocar de instrumentos o tempo todo, também, e esse fora um trunfo que somente plateias Rockers poderiam mesmo valorizar.

Em suma, esse show em São Leopoldo, foi um dos melhores que houvéramos feito até então, desde o início dessa formação em 1999, com uma sinergia incrível. Quando se encerrou, o assédio foi total, pois naquelas dependências muito simples, com ausência de camarim, se tornara realmente inevitável, mas eu não me queixo, e pelo contrário, guardo com bastante carinho essa lembrança das pessoas a nos cercar para pedir autógrafos em discos, ou em pedaços de papel, absolutamente em estado de êxtase. 

Demorou para a adrenalina abaixar e o calor no recinto se mostrara imenso. Foram cerca de duzentas pessoas confinadas em um espaço que era adequado para cinquenta, talvez setenta, no máximo. A nossa sorte foi que estávamos descansados, pois o dia anterior fora marcado pelo lazer total na cidade de Bento Gonçalves, conforme eu já relatei anteriormente.

Descansamos e nos programamos para sairmos cedo no dia seguinte para Porto Alegre, onde faríamos o terceiro show no Rio Grande do Sul, pois teríamos compromissos de imprensa pré-agendados a cumprir.

Visitaríamos São Leopoldo outras vezes e gostamos tanto de tocar lá naquela cidade, que incluímos o seu nome em uma letra de música composta posteriormente, quando lançamos em 2004, o CD "Missão na Área 13".
Na música, "Rock com Roll", citamos "São Leo" (São Leopoldo-RS), e "Sanca" (São Carlos-SP), duas cidades que sempre nos receberam com um calor Rocker acentuado (falamos também sobre Chapecó-SC e São José do Rio Preto-SP na mesma canção).

Foi o dia 20 de janeiro de 2002 e havia cerca de duzentas pessoas praticamente espremidas no minúsculo Bar BR-3. Agora, "vou para Porto Alegre, tchau"...

Continua...

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