Fazer turnê é cansativo para qualquer um, mas é claro que a disparidade de condições que existem em inúmeros patamares é gritante. Eu tenho certeza que para os Rolling Stones também é cansativo, mas o luxo e as mordomias que eles tem ao seu dispor, minimizam certos trâmites mais penosos. Em nosso caso, as condições foram hercúleas em todos os sentidos, mas aconteceram inúmeras compensações, também.
Se
por um lado, nem todo hotel ou restaurante que dispúnhamos foi bom (e nesse sentido, a cada dia éramos surpreendidos positiva ou
negativamente), por outro, houve a doce constatação de que estávamos
a exercer a nossa profissão com total vigor, sendo uma banda de Rock
literalmente na estrada (e através de um país como o Brasil que normalmente não oferece suporte
algum à cultura, e que sobretudo padece de uma real democracia no âmbito
cultural, por deixar que uma maldita máfia domine todos os espaços,
despoticamente, e ao não deixar nem as migalhas para artistas outsiders do
mainstream como nós), a possibilidade de fazer uma turnê, com um show por
dia, e cada dia em uma diferente cidade, foi uma vitória retumbante.
Nesse
sentido, não importava que não fossem shows realizados em teatros bem
estruturados com som e iluminação de primeira qualidade, estrutura de camarins e
logística perfeita. Não importava se não ficássemos hospedados em hotéis cinco estrelas e
a fazer as nossas refeições em restaurantes sofisticados. E nem
mesmo que a turnê fosse realizada mediante um percurso aéreo, com uma equipe
enorme e azeitada, só a nos incumbir de sermos o que éramos, ou seja, artistas,
preocupados com o desempenho no palco e nada mais.
Estávamos tão contentes em estarmos a viajar, que a falta dessas condições ideais que eu arrolei, não nos incomodara, apesar das dificuldades que enfrentávamos na contramão da nossa realidade como artistas do underground.
Por
exemplo, o show de São Carlos-SP, fora sensacional pela boa vibração, mas a infraestrutura
que tivemos, foi toda improvisada. A bilheteria robusta que tivemos por
conta de cerca de quatrocentos pagantes, compensou a economia em não ter alugado
um PA e equipamento de iluminação profissionais, além da estadia em um modesto
hotel, mas claro que isso nos limitara em vários aspectos.
A respeito do hotel em que nos hospedamos, sofremos um pouco com o calor interiorano desprovido de ar
condicionado nessas condições, fora o barulho, por estar localizado na
principal avenida da cidade, e nesses termos, mal amanhecera e o movimento
urbano da rua não nos deixou repousar convenientemente, com as pessoas
logicamente ao não levar em conta que éramos Rockers extenuados por uma noitada de
Rock excelente...
Ainda deu tempo para um sorvete refrescante na
sorveteria que se tornara o nosso oásis contra o calor torrencial de São Carlos, após o
almoço. O pessoal do "Homem com Asas" veio despedir-se de nós e
agradecer pela oportunidade da noitada Rocker... ora, nós é que
deveríamos lhes agradecer por todo o suporte recebido em todos os
sentidos e se houve o show, e este foi um sucesso, o mérito deles pela
produção e esforço em fazer acontecer, fora notável.
Hora para
partir, e o velho Mercedes 1976, tomou o rumo da estrada. O destino foi Monte Alto-SP, uma pequena cidade na região de Bebedouro e Jaboticabal,
no caminho para Ribeirão Preto...
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