terça-feira, 22 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 148 - Por Luiz Domingues


Quando chegamos na casa para aguardar a hora do show, começamos a entender enfim o astral predominante no ambiente. Assim que o adentramos, o som mecânico que alimentava a casa era absolutamente antagônico à nossa proposta artística.  

Tocava-se uma seleção de rap, e o que mais se aproximara de nós ali naquele ambiente, foi o som de bandas com orientação Punk-Rock, ou ligadas em "street culture", como o Charlie Brown Jr, com aquela questão ligada ao skate e que tais, ou seja, algo muito distante, para não dizer diametralmente oposto, na realidade. 

O clima estava tenso na casa. A maioria das pessoas ali presentes eram jovens de camadas sociais mais humildes e a aparentar serem entusiastas desse tipo de abordagem cultural difusa, sendo mais realista, mas de qualquer forma, muito fora da nossa realidade e proposta. 

E todos pareciam dispersos, não interessados em apreciar verdadeiramente aquele som que aparentemente seria do interesse deles. Tais jovens andavam para lá e para cá, desinteressados no som, acintosamente, como se estivessem a promover o "footing" em uma pracinha interiorana.

Até aí, tudo bem, tocamos muitas vezes em casas híbridas, que não foram exatamente adequadas para shows de Rock de bandas autorais, mas nessa em específico, o clima foi estranho, tenso, a fugir até do padrão de casas onde o mote é normalmente a paquera e a bebedeira, e sob uma terceira, rara, e obscura instância, a atenção para a performance do artista que ali se apresenta. E com a agravante de que ser for um show autoral, o desinteresse seria ainda maior. Bem, apesar dessas observações, fomos enfrentar o show e de fato, quando começamos a tocar, o desinteresse foi total. Tocávamos para ninguém, praticamente, apesar de haver na dependência do estabelecimento, uma multidão.  
Ninguém nos hostilizou, pois pareceu que não se importavam com o show, e mesmo que fosse um artista teoricamente de seu agrado a se apresentar ali ao vivo, creio que não interessar-se-iam, o que foi algo bizarro. O que desejavam afinal, foi o óbvio: divertirem-se em um sábado a noite, a beber e a arrumar parceiros sexuais, o que é a praxe da noite em qualquer parte do mundo. Mas ali, foi cumprido de uma forma bastante obscura, eu diria.  Bem, dos males o menor, pois não houve hostilidade e o máximo que nos aborreceu ali foi o desinteresse generalizado, mas isso foram os ossos do ofício para qualquer artista.

O lado ruim mesmo foi enfrentar novamente a escada íngreme. A máxima popular que diz que na descida: "Todo Santo Ajuda", foi só uma meia verdade ali. O fato, foi que diante de uma escada altíssima e íngreme daquelas, a preocupação em evitar acidentes com equipamentos pesados, foi total.

Cogitamos dormir na cidade, mas de última hora, mudamos de ideia e seguimos para a cidade onde tocaríamos no dia seguinte, ainda na madrugada. Foi uma viagem tranquila e relativamente rápida, apesar de termos usado uma estrada secundária que fazia comunicação entre os municípios de São Roque e Limeira, ao passar por Itu e Salto. Chegamos em Limeira sem reserva de hotel, pois o plano inicial fora dormir em São Roque, e aí começou mais uma história inusitado.

O show de São Roque aconteceu em 5 de janeiro de 2002, na casa "V8". Cerca de seiscentas pessoas estiveram presentes em nossa apresentação, mas a prestar atenção e apreciar mesmo, creio que havia quinze a vinte, pois mesmo nas situações mais inóspitas, sempre apareciam fãs abnegados com discos de vinil da banda, debaixo do braço, ainda bem! 

De volta ao que eu mencionara anteriormente, em Limeira passamos por uma história pitoresca, assim que ali chegamos, com o dia a raiar...

Continua...

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