terça-feira, 29 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 159 - Por Luiz Domingues

Quando estávamos no palco, preparados para entrar em cena, o som ambiente da casa estava a atuar sob um volume inacreditável, a executar uma espécie de pagode Pop, desses de FM. O público dançava animadamente e a impressão que tivemos foi que seria um choque térmico substituir um som de pagode tocado mecanicamente por uma banda de Rock a tocar ao vivo, e por um momento tememos pelo pior, pois dificilmente o PA ajustado para nós, teria a mesma pressão sonora e segundo ponto, tocaríamos músicas autorais e certamente desconhecidas daquela plateia. E não deu outra, foi um choque térmico, mas sem hostilidades observadas da parte da plateia, ainda bem

Fizemos o nosso show normal, sem nenhuma adaptação especial para agradar uma plateia não preparada para a nossa música. O tal saxofonista convidado tocou conosco para fazer a sua participação especial e foi positivo. O show foi concluído com a sua normalidade, e saímos dali com a sensação do dever cumprido. 

O problema maior que tivemos, contudo, esteve em nossos bastidores, através de uma crise instaurada entre a banda, e o sócio/motorista & sua comitiva. Ao alegar que nós estávamos "a tratá-los com desdém", estes se recusaram a usar as dependências da Chácara onde nos hospedáramos, e ao rebelaram-se, foram dormir em um hotel no centro da cidade, separados da banda.

Ocorreu que as instalações da Chácara eram amplas e super confortáveis, a abrigar todos com total conforto, porém contaminados por uma percepção totalmente descabida e vinda sabe-se lá de onde, eles acharam que nós os desprezávamos, e não queriam portanto prosseguir conosco, ao se sentirem ofendidos.

Ora, ninguém em momento algum os destratou.
O que ocorreu, e foi natural que durante a viagem, a comitiva do motorista se concentrou na parte da frente do carro, junto ao banco do condutor e conversavam entre si o tempo todo. Já os componentes da banda, mais o roadie, Samuel Wagner, ficaram na parte do meio para trás, mas isso foi entendido por nós como uma divisão natural, meramente ocasional das circunstâncias da viagem. Por exemplo, nas paradas, interagíamos normalmente com todos, sentávamos todos juntos nas mesas de refeições etc. Portanto, muito nos surpreendeu tal "rebelião" causada pelo motorista, pois não houve nenhum cabimento a argumentação dele e de seus pares. 
A nossa argumentação de que não havia motivo algum para tal reclamação, não surtiu efeito. Exaltado, o rapaz dizia estar "ofendido" com a nossa postura, e que passara a avaliar a sua posição em continuar a nos conduzir pela turnê, ou seja, ameaçava voltar para São Paulo, imediatamente, ao nos deixar sem transporte, com o equipamento na estrada.

Claro que foi um absurdo tudo isso, mas houve o elemento político por trás. Com tal atitude, ele calculou nos deixar acuados e talvez assim reivindicar mudanças na parceria, ao considerar que ficaríamos apavorados com a perspectiva de sua ameaça vir a se concretizar.
Logicamente que nós ficamos chateados com tal situação, mas fomos dormir na chácara, após o show, ao imaginar que no dia seguinte, que seria marcado pelo descanso para a banda, a situação resolver-se-ia, quando essas pessoas estivessem mais calmas.

O show na casa Boulevard ocorreu no dia 18 de janeiro de 2002, com cerca de quinhentas pessoas presentes. O dia seguinte rendeu história, apesar de ter sido ser um dia de descanso.

Continua...

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