quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 167 - Por Luiz Domingues

Voltamos ao apartamento de nosso anfitrião e apesar do show não ter despertado a mesma reação que o de São Leopoldo. ocorrido na noite anterior, na capital gaúcha tivemos exposição midiática com dois programas de TV e um de rádio. Além do mais, o show não foi um desastre, pois tocamos bem, mas foi morno pela recepção da plateia.

No dia seguinte, acordamos e fomos ao Manara buscar o nosso equipamento que dormira lá nas dependências da casa. E não havia outra alternativa, pois tememos deixá-lo no ônibus que também passara o dia estacionado em uma rua.

O clima que azedara com o motorista e a sua entourage, amenizara-se com a sua permanência no sábado em Bento Gonçalves, mas nunca mais foi o mesmo, e na verdade, estava bem esquisito, na base da tolerância estabelecida no seu limite máximo.

Reservadamente, o nosso roadie, Samuel Wagner, revelou-me que ouvira uma conversa do motorista com o seu fiel escudeiro, o carrier, de que deliberadamente transformaria a nossa viagem de volta "em um inferno", e que sabotaria o nosso plano para estarmos em São Paulo até quarta-feira, pois na quinta, teríamos um ensaio marcado para passar três músicas com o guitarrista , Andreas Kisser, do Sepultura, que seria o nosso convidado de honra em um show que faríamos no Sesc Pompeia, nas festividades do aniversário de nossa cidade. 

O Seu rancor era muito grande, e eu não duvidaria que o seu plano de sabotagem lograsse êxito.

Nos despedimos do nosso amigo, Luciano Reis, que nos acompanhou nessa jornada desde o domingo, e o deixamos próximo de uma estação de trens, onde ele partiu para São Leopoldo. 

Decidimos voltar pela estrada BR- 101 que margeia o litoral dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, até a divisa com o Paraná quando se bifurca com a tradicional BR-116, que vai para São Paulo. 

O clima estava azedo e tenso entre nós e o motorista, mas nada indicara o tal boicote que supostamente houvera planejado. Eu resolvi guardar essa informação comigo, para não preocupar ninguém, e só a revelaria se houvesse um indício disso na prática, e a guerra fosse declarada, de fato.

Mas houve um fator decisivo nesse processo e no fundo, foi o que o conteve: éramos em cinco e ele contava só com o seu amigo. Não poderia contar com a esposa e o filho pequeno se a situação degringolasse para as vias de fato. E claro que ele não colocaria a sua família sob uma situação de perigo e constrangimento. Mesmo assim, ficamos em alerta, eu e Samuel, a observar os movimentos de ambos.

Paramos nas proximidades de Criciúma, em Santa Catarina, para um descanso quando já anoitecia e ele revelou estar fatigado na condução do veículo. Nesses termos, foi mais prudente acatar e dormir. Muito cedo, no dia seguinte (6:00 horas da manhã), fomos para dentro do veículo, e partimos para a segunda etapa da viagem de volta, sempre atentos aos movimentos da dupla dinâmica, enquanto os nossos amigos riam, tocavam instrumentos ou simplesmente dormiam em meio a longos trechos.

Então, eis que algo inusitado ocorreu quando alguém se lembrou das uvas que ganháramos de nosso amigo, Evandro Demari, de Bento Gonçalves. Naquele calor, foi uma boa pedida se lembrar disso e todo mundo aceitou pegar alguns cachos para refrescar um pouco a garganta. Foi quando o Samuel deu um berro que veio do compartimento de carga do veículo! As uvas estavam perdidas por uma questão de sabotagem! E apesar disso que eu estava a contar até agora, não fora obra do motorista e do carrier. 

Ao ligar os fatos, o Samuel se recordou que flagrara dois rapazes de uma banda famosa de Porto Alegre que haviam ido nos ver no show de Porto Alegre, e que no meio do nosso espetáculo, saíram de nosso camarim às gargalhadas, sem motivo aparente, enquanto nós tocávamos. Não revelarei publicamente por que não quero fazer da minha autobiografia um muro das lamentações, mas o fato é que esses dois artistas nos desrespeitaram, ao urinarem dentro da enorme caixa de isopor que continha uma quantidade absurda de cachos de uvas.

Nesse instante, ficara explicado o motivo das risadas e a questão pela qual colocáramos o isopor no camarim foi óbvio: no ônibus, ao sofrer a ação do calor escaldante do dia ensolarado, elas estragariam.
Ficamos muito indignados, pois tratamos bem esses moleques e eles foram dissimulados a nos tratar com simpatia, porém, apenas a aguardar uma oportunidade para aprontar uma traquinagem infantojuvenil desse porte.

Pode ser que eu seja ingênuo, mas eu nunca na minha vida tive esse comportamento de querer fazer brincadeiras de mau gosto com as pessoas e portanto, fiquei muito chateado. Esses rapazes devem ter lido muitas biografias de bandas de Rock clássicas, a narrar histórias mirabolantes sobre  travessuras cometidas nos bastidores e desejavam ardentemente viver tais experiências em sua vida, como uma espécie de autoafirmação Rocker, ou coisa que o valha. Eu jamais fui ou serei assim e não me conformo com tal procedimento, que considero de baixo nível, e sou tão Rocker quanto eles pensam que o são. Enfim, na hora ficamos muito indignados e claro, tivemos que jogar tudo fora em relação às uvas.

A viagem culminou em transcorrer de forma normal e ao recordar hoje em dia, acho que o fator foi mesmo o da estratégia, pois ao menor sinal de que estivesse a nos boicotar, o clima ficaria ruim para o motorista, e apesar de que era um sujeito rude e que certamente gostasse de ir às vias de fato em outras circunstâncias da sua vida e conduta pessoal, ali a desvantagem seria enorme para ele.

Ele percebeu que o Samuel sabia de seus planos, e dali em diante, o clima acirrou-se entre os dois e assim, sob um futuro muito próximo, ambos quase chegariam ao embate das vias de fato. Eu conto no momento oportuno.

Chegamos em São Paulo extenuados e no limite para atravessarmos a cidade em tempo de escapar do rodízio de veículos, quase às cinco da tarde da quarta-feira. Descarregamos o equipamento e no dia seguinte o nosso compromisso foia ensaiar com o guitarrista, Andreas Kisser. A pré-produção desse show que ocorreu no Sesc-Pompeia de São Paulo e o show em si, renderam muitas histórias! Aguardem, que vou relatá-las a seguir...

Continua...

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