terça-feira, 22 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 147 - Por Luiz Domingues

O ano de 2002 começou animado então, com a perspectiva de continuarmos a turnê, e a ideia básica foi mesmo essa, pela sua continuidade com micro etapas semanais, forjadas na base da vontade, e no sonho Rocker. Tratou-se de um circuito fora do esquema mainstream, é bem verdade, e dessa forma, muitos shows foram proporcionados por arranjos improvisados através de fãs, músicos de bandas locais que fariam a abertura, e amigos em geral sempre a nos fornecer uma ajuda providencial na produção.

Vez por outra, um show mais produzido ocorria no meio da turnê, no entanto, nos acostumamos com a rudeza da produção fora do patamar do mainstream, e isso não prejudicava a nossa performance no palco, jamais, e sobretudo, não nos tirava o foco da grande missão, que sempre foi no sentido se resgatar a estética "old school", e respeitar os fãs da banda presentes em cada ocasião, mesmo que fossem poucos, como muitas vezes aconteceu em casas lotadas por jovens burgueses sem noção alguma de quem éramos. Carry on, Rockers!

E a continuidade da turnê dar-se-ia logo no início de janeiro de 2002. Uma nova investida ao interior de São Paulo, estava programada para a primeira semana de janeiro. Seriam só dois shows, e o primeiro na cidade de São Roque-SP, bem próxima da capital paulista (cerca de cinquenta Km), através de uma casa noturna local, chamada: "V8".
Pelo nome, sugeria ser uma casa ligada à moto-clubes ou aficionados de motos e carros em geral, mas na verdade se traiu de uma casa noturna comum, sem ligação direta com esse tipo de associação de moto-clube. Fomos então para essa nova etapa da turnê, após um período de descanso nos primeiros dias do novo ano.  
Desta feita, a estrada não cansar-nos-ia muito, pela curta distância das duas cidades que visitaríamos, São Roque-SP e Limeira-SP. Claro que o calor se mostrou enorme, mas nessa primeira etapa, ir primeiro à São Roque foi uma viagem que não deu para sentir, praticamente. Portanto, saímos de São Paulo no meio da tarde, para nos dar ao luxo de evitar o sol a pino e com a perspectiva de chegar na hora do soundcheck, sem prejuízo.


Eu e Rolando Castello Junior já conhecíamos a casa, pois fomos visitá-la ainda em 2001, quando viajamos ao interior para semearmos o terreno para a realização da turnê. Agora, estávamos em plena fase de colheita, com a realização dos shows em si, obviamente.  

E por conhecermos a casa, sabíamos que ela detinha uma instalação sui generis, no sentido de que ficava instalada em um ponto muito alto, construída em meio a uma encosta, praticamente. Portanto, para acessá-la, seria necessário subir uma escada íngreme e enorme! Chegava a ser assustadora pela dificuldade e também pelo perigo que constituía, sem dúvida.

Avisamos todos os membros da nossa comitiva sobre essa dificuldade e principalmente os roadies, que sofreriam muito nessa etapa da turnê, mas não houve outro meio de se transportar o equipamento, a não ser através dessa dura peregrinação com ares de penitência...

Todavia, quando chegamos na porta do estabelecimento, no dia da apresentação, mesmo avisados, todos se manifestaram com ênfase, ainda dentro do ônibus, ao olhar aquela escada absurda, pelas janelinhas do nosso bólido. Foi proferido então um festival de palavrões, daqueles típicos que são pronunciados geralmente como forma de se usar como interjeição de estupefação, entremeados por risadas, algumas de escárnio, outras nervosas e a trazer nas entrelinhas um certo ar de lamento pela situação periclitante.

Enfim, não houve solução mais amena e os roadies sofreram muito para transportar todo o backline da banda, com subidas sofridas e o único consolo nessa circunstância foi o de que emagreceriam bastante, e sem pagar academia de musculação. Entretanto, essa não foi a única bizarrice constatada nessa história!

O clima na casa era muito estranho. Se tratava de um bar musical e acostumado a promover shows de bandas, periodicamente, havia um palco razoável, equipamento de PA e iluminação compatíveis etc. e tal, mas o ambiente na casa não parecia ser o de uma casa noturna tradicional. Mostrara-se na verdade, tenso, ao parecer denotar algo agressivo, não só pela rudeza das instalações, mas pelo astral sutil, sobretudo. 

Fizemos o soundcheck e ajeitamos o som da melhor maneira possível. Fomos jantar e quando voltamos, começamos a entender a "vibração" do estabelecimento, e o quanto seria estranho tocar ali...

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário