E lá fomos nós rumo à Jales-SP, para enfrentarmos o maior percurso nessa turnê e
sob um calor incrível. Para quem não conhece o estado de São Paulo, informo
que Jales fica localizado no extremo noroeste do estado, quase na divisa com Mato
Grosso do Sul, e onde através de uma minúscula divisa com Minas Gerais e Mato Grosso
do Sul, quase se encontra em Goiás. São Paulo não faz fronteira com Goiás,
mas ao atravessar por esse estreito de Minas, são poucos quilômetros para
se chegar em uma segunda fronteira. Aula de geografia à parte, um
fator foi certo: o calor que faz ali, geralmente é de uma extrema potência e assim, quanto
mais nos aproximávamos de Jales, mais sentíamos a temperatura a subir...
Entretanto,
houve também o aspecto do calor humano e de fato, assim que chegamos em
Jales, fomos muito bem recebidos pelos produtores do show. Eles
demonstravam estarem eufóricos com a nossa presença e foi notável o
esforço que haviam empreendido para fazer do show, um sucesso.
Haviam
faixas expostas nas avenidas, nas praças públicas e pelo pouco que andamos pelo
centro da cidade, vimos cartazetes afixados nos estabelecimentos comerciais, a anunciar o show. Lastimavelmente, não tenho nenhum material desses para ilustrar aqui.
Os organizadores nos hospedaram no próprio local do
evento, pois se tratara de uma espécie de sítio, um pouco afastado do
perímetro urbano, mas nem tanto assim. E nesse local, havia um
alojamento isolado, que nos serviu como hotel e camarim ao mesmo tempo. Não continha as mordomias de um hotel formal, mas a vantagem de se estar no
palco em menos de um minuto, pareceu conveniente sob uma primeira
impressão. Não foi o que ocorreu na prática, a posteriori, mas isso eu conto depois.
Fomos levados para
um restaurante próximo, na verdade, um "pesqueiro", esse tipo de estabelecimento que é
bastante comum em cidades que tem ligação forte com rios de água doce, e
Jales tem essa tradição. Para quem aprecia a pescaria e consequentemente, comer peixes, foi
uma aventura e tanto, todavia, eu como vegetariano, fiquei só no prato trivial de
arroz, feijão e saladas, mas os meus companheiros esbaldaram-se nos peixes
que eram pescados e escolhidos ali mesmo para as refeições.
A
banda que faria abertura era formada por rapazes jovens, muito prestativos, mas não eram antenados como a rapaziada do "Homem com Asas", com
quem tocamos na noite da quinta feira em São Carlos. Pelas conversas dos
rapazes, eles pareciam apreciar referências híbridas e até antagônicas, eu diria,
mas não cabe nenhum julgamento, é apenas uma constatação.
O nome da banda foi: "O Velho Lobo", e logo a piada parecia pronta, pois o nome do treinador ,
Zagallo, foi pronunciado inúmeras vezes naquele dia. E foi até indiscreta tal motivação,
pois os rapazes eram muito gentis e claro que a piada não lhes ofendia
diretamente, mas era obviamente motivada pelo nome estranho com o qual
resolveram batizar a sua banda.
O equipamento alugado para o evento
se mostrou com qualidade.
Percebemos que o palco tinha tudo o que precisávamos,
com um PA potente a produzir a pressão sonora adequada à expectativa de público que os
organizadores esperavam ter ali presente, na hora do show. Segundo nos
informaram, a divulgação não se limitara à cidade e havia rumores de
que viriam fãs de muitas cidades da região. Mais de cem ingressos foram
vendidos na cidade vizinha de Fernandópolis-SP, por exemplo, e uma excursão
fora organizada para trazê-los. Um programa de rádio dessa cidade
estava a anunciar há mais de um mês, e verdadeiramente a massacrar uma música na sua
programação para auxiliar nessa promoção. Qual música? Foi: "Olho animal", que segundo nos diziam, o público adorava e ansiava que tocássemos...
No entanto, essa música nem constava do set list da banda. Nunca cogitamos incluí-la
pois a considerávamos completamente fora da proposta estética adotada desde que
voltáramos no início de 1999, e certamente que destoava da nossa "pegada
chronophágica"...
Por ser uma canção de uma fase mais pesada da
banda, continha um ranço Heavy-Metal oitentista que abominávamos, fora a
questão da sua letra, que com todo o respeito ao seu autor, apresenta uma dose
de infantilidade enorme.
Surpreendidos com tal afirmativa da parte dos
organizadores e também do pessoal da banda de abertura, ficamos muito
constrangidos, pois nem teríamos como prepará-la emergencialmente, apesar
dela conter uma estrutura harmônica primária. Não haveria como decorar e
tocar com desenvoltura. Bem, imaginamos: o público está ansioso pelo show, vai apreciar o tempo todo, e nem vai se lembrar dessa música com o decorrer do espetáculo...
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
domingo, 20 de setembro de 2015
Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 141 - Por Luiz Domingues
Marcadores:
Autobiografia de Luiz Domingues,
Luiz Domingues,
Marcello Schevano,
Patrulha do Espaço,
Patrulha do Espaço Capítulo 141,
Rodrigo Hid,
Rolando Castello Jr.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário