terça-feira, 29 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 158 - Por Luiz Domingues

Fomos nos instalar e neste instante a ótima nova foi que se tratava de uma chácara afastada do centro da cidade, muito bem cuidada e confortável, que nos fora cedida graciosamente pelo guitarrista, Evandro Demari, que era amigo do Rolando Castello Junior de muitos anos, e quando ele soube que iríamos para o sul, prontificou-se a nos convidar para nos hospedarmos lá. Tal propriedade era de sua família, para fins de veraneio, mas também continha uma ampla videira que produzia bastante uva para a indústria vinícola da cidade que ali é a base da economia local.
Tanto que a chácara era muito próxima das instalações de uma famosa vinícola, que abastece o mercado nacional e para os enólogos e entendidos em geral, trata-se de um dos melhores vinhos nacionais, segundo a opinião desses especialistas.

A chácara era muito confortável e o nosso anfitrião foi extremamente simpático e solícito. A sua família igualmente se portou de uma forma muito hospitaleira e veio nos conhecer, abasteceu a despensa e a geladeira da casa, nos ofertou garrafões de vinho e muitos cachos de uva in natura, quando fomos embora dali, no domingo. Aliás, era uma quantidade absurda de uva, que nos supriria pela turnê toda e chegaríamos em SP com ampla sobra para divisão total entre todos da nossa comitiva. Estava a ser tudo uma maravilha, no entanto, uma molecagem que ocorreria dois dias depois em Porto Alegre, impediu isso, e no momento oportuna eu relatarei os fatos lamentáveis que fizeram com que as uvas fossem inutilizadas.

Bem, após um descanso, banho reconfortante e jantar, fomos para o show.
Um amigo do Evandro Demari, saxofonista, nos foi apresentado e o Junior de pronto o convidou para uma participação de improviso e ele aceitou, ainda que a relutar um pouco por sentir-se inseguro. A ideia foi fazer um solo em "Sunshine" e nós o tranquilizamos, pois seria um looping no fim da música, com poucos acordes etc. 
A casa de Shows em que tocaríamos, chamava-se: "Boulevard".
Era bem montada e na verdade, era uma boite da burguesia local, nem um pouco preocupada em fomentar arte & cultura, mas apenas entretenimento, ambiente para bebedeiras, paqueras e desdobramentos disso tudo.

Quando chegamos, a casa já mantinha um grande público no seu interior, mas era nítido que seria um show burocrático, sem interação com essa plateia. Para intensificar essa percepção, o som mecânico que tocava era híbrido e disparatado. O DJ da casa tocava um pagode, e a seguir, uma música sertaneja, depois um Pop lamentável desses ao estilo do R'n'B modernoso norte-americano, "música" eletrônica, e a seguir, após uma salada de frutas indigesta nesses termos, o nosso show de Rock autoral poderia ser um fator insuportável para aquele público nada preparado para receber-nos.

Por incrível que pareça, estávamos resignados com tais disparidades, por já termos enfrentado situações análogas anteriormente, portanto, não seria algo insuportável de se fazer. Mas o que estragou mesma a nossa noite, não foi o show em si, mas um impasse criado pelo sócio-motorista e a sua "comitiva"...

Continua...

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