Nesse instante tivemos uma viagem cansativa de fato, ao atravessarmos os três
estados do sul do Brasil. Não foi apenas pelo cansaço da longa jornada que esteve em
jogo, mas na verdade foi um teste e tanto para o nosso ônibus. Será que ele
aguentaria o tranco de enfrentar mais de dois mil Km, sob o sol ardente do verão? Bem, não tivemos uma outra alternativa a não ser apostar no bólido, não é mesmo?
Partimos
então para a nossa primeira turnê no Rio Grande Do Sul, com essa
formação, pois a Patrulha do Espaço mantinha uma forte tradição naquela estado, desde
a época de seus primórdios, nos anos setenta. Claro que esse carinho do
público Rocker gaúcho para com a Patrulha do Espaço, foi um fator de esperança
para nós, em meio a essa nova investida.
O nosso primeiro alvo foi a
cidade de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, com um show a ser feito em uma casa
noturna, na sexta-feira. Haveria um show em Caxias do Sul no sábado, mas
este fora cancelado, infelizmente, ao nos deixar sem atividade para o sábado, contudo,
aproveitamos bem o dia, conforme eu contarei a seguir. No domingo, a
apresentação seria em São Leopoldo, e na segunda-feira, em Porto Alegre.
Saímos de São Paulo na quinta, logo após o almoço, ao visarmos
cumprir uma viagem tranquila, sem correria, e com a possibilidade de parar em algum lugar entre o
Paraná e Santa Catarina, para dormir e prosseguir no dia seguinte com
tranquilidade.
O calor estava bem forte e apesar dos estados do sul
serem tradicionalmente os mais frios do Brasil, com invernos rigorosos
de padrão europeu, o verão é tórrido também por lá e nesses termos, não
podíamos forçar o ônibus em uma jornada tão quente.
O primeiro
trecho entre São Paulo e Curitiba é bastante tenso, com muitos caminhões
sob um longo trecho de serra, onde a velocidade é reduzida para um ônibus
velho, sem o advento de um motor turbo. Logo após a fronteira com o Paraná, decidimos
parar em uma estalagem à beira da estrada. Não foi uma lanchonete
de posto de gasolina, mas uma exótica casa encravada em uma encosta da
serra, a se parecer com um saloon de velho oeste.
Ali renovamos as forças a nos
refrescar com bebidas geladas e definitivamente estávamos fora de São
Paulo, ao ouvir o forte sotaque paranaense dos funcionários da casa, com
a nítida influência do polonês na sua maneira de pronunciar as
palavras. Seguimos em frente e logo avistamos a cidade de Curitiba, pois quem
conhece aquela região, sabe que logo que se cruza a fronteira entre os
dois estados, a capital paranaense não tarda a se aproximar, com poucos
Km de percurso.
Nesse momento, o Junior nos contou sobre as suas reminiscências de quando morou em Curitiba, a cena local nos anos noventa etc. E
que bela visão é Curitiba, uma metrópole vistosa, com ares
americanizados (no bom sentido), vista de forma panorâmica pela estrada, en
passant.
Mas nem entramos na capital paranaense. Seguimos em
frente pela BR 116, em uma linha reta em direção à Porto Alegre. Existe a
bifurcação logo após Curitiba onde é possível trocar de estrada e
prosseguir pela BR 101, onde toma-se o rumo para Joinville em Santa
Catarina, rumo à Florianópolis. Também se chega à Porto Alegre por ela,
mas a volta é maior, apesar do caminho ser muito mais bonito, pois há
grande trechos a margear o mar de Santa Catarina, e do próprio Rio Grande
do Sul.
Mas não estávamos ali a turismo e portanto, a opção mais
objetiva foi seguir em frente, ao descer em linha reta o território do Paraná em direção à Santa
Catarina. Eram quase nove da noite quando o nosso motorista
pediu para parar, pois estava no seu limite, fatigado. Claro que
acatamos, e o apoiamos. Não havia motivo para corrermos mais riscos com o
motorista bastante cansado, e a noite já em alto curso.
Paramos
na pequena cidade de Mafra, em Santa Catarina, e
dormimos em um hotel de beira de estrada, que apesar de ser simples, era
muito organizado e confortável, ao nos surpreender-nos positivamente. Combinamos
de sairmos bem cedo, por volta das seis horas da manhã, para não nos
surpreendermos com alguma eventualidade da estrada.
O ônibus seguia bem,
sem nenhum problema e por sairmos cedo, chegaríamos em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, na
metade da tarde, sem problemas, indo direto para a casa noturna onde
tocaríamos, a descarregar o nosso backline, e realizar o soundcheck.
Um
problema interno gerado pelo motorista, revelar-se-ia uma pequena
bomba relógio com hora para detonar, infelizmente. Dias antes da viagem
ele nos comunicou que gostaria de levar sua esposa e filho pequeno, na
viagem. Disse-nos que seria uma oportunidade imperdível para passar um tempo
prazeroso com a sua família, e sua esposa e filho não conheciam o sul etc. Claro, nos consultou a esperar uma aceitação de nossa parte, pois
apesar de ser sócio do ônibus, ele sabia que o objetivo ali era fazer
viagens para cumprir-se turnê de uma banda de Rock, ou seja era trabalho para nós, e não turismo.
Bem,
na base da camaradagem, claro que aceitamos, mas não ponderamos o que
poderia ser constrangedor para nós, e para a família dele. Aquilo era um
ônibus de uma banda de Rock e não uma excursão de turismo... então, é
claro que conflitos aconteceriam e só seria uma questão de tempo para
saber quando iniciar-se-iam...
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 156 - Por Luiz Domingues
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