Quando o set list aproximou-se do seu final, notamos um clima tenso que veio de fora do salão, e nada a ver conosco diretamente ou com o show em si, mas nos dizia respeito, indiretamente. Percebemos que a produtora, Claudia Fernanda estava agitada, a gesticular, e parecia tensa. Quando o show acabou enfim, e já estávamos fora do palco (infelizmente a casa não tinha estrutura de camarins), o assédio foi grande por parte do público. Claro que foi maravilhoso atender os fãs e naquele caso, eram fãs mesmo, com discos de vinil antigos da banda debaixo do braço para caçar autógrafos etc. Mas, diante de um assédio assim, ficamos atordoados para saber o que houvera acontecido afinal de contas na portaria.
Contudo a própria Claudia, sinalizou para nos tranquilizar, pois fosse o que fosse, já estava acalmada a situação, e só depois tomaríamos conhecimento do ocorrido.
E assim, finalmente depois de serenado o fluxo de fãs, tomamos a consciência dos fatos. Durante o show, um grupo de três ou quatro rapazes tentou entrar na casa à força, sem pagar ingressos. No auge da discussão, eles se autodeclararam como "Punks do ABC", e com isso, acharam que as pessoas ficariam amedrontadas, e os deixariam entrar gratuitamente, mas ninguém se intimidou, e pelo contrário, a polícia foi acionada e bastou uma só viatura da Polícia Militar aparecer, para os arruaceiros descerem a Avenida São Carlos em frenética disparada.
Esses rapazes ameaçaram voltar com reforços e a bravejar que hostilizariam a banda, o que nos deixou apreensivos por ficarmos na calada da noite, a carregar o ônibus e de-repente, tal promessa ser cumprida, mas o próprio pessoal de São Carlos nos tranquilizou, ao dizer-nos que isso não aconteceria, pois aqueles sujeitos eram conhecidos de todos, e que não haveria "volta com reforços". Se tratou de um grupelho de baderneiros locais, com os quais todos estavam acostumados e que segundo soubemos, eles só gostavam de ameaçar com bravatas. E para tal, usavam essa alcunha de serem punks do ABC para amedrontar, visto que tal gangue é famosa nacionalmente, mas no caso desses rapazes , provavelmente nem sabiam onde ficava a região metropolitana do ABC...
O último ato da noite, aliás madrugada, foi carregar o equipamento para o ônibus e nesse instante, tivemos um pequeno aborrecimento fortuito e também gratuito, posso afirmar. O Carvalhanas, na ânsia de querer mostrar eficiência como road manager, exagerou no rigor com os roadies, Samuel e Ruiter. Tivemos que contemporizar, e na manhã seguinte, com todo mundo mais calmo, tudo voltou ao normal.
Ao se relevar
esses pequenos acontecimentos mais pesados, foi uma noite muito boa. Fora
o segundo show da turnê e a banda estava afiadíssima no palco. O
contato com os fãs estava excelente, já tínhamos matérias de jornais
para engrossar o portfólio, e as notícias que tínhamos sobre a produção
local dos três shows que faríamos nos dias posteriores, foram muito
animadoras.
Fomos dormir contentes com o dia produtivo. Foi o dia
27 de dezembro de 2001, e nessa quinta-feira, tocamos no "Planet Z", de
São Carlos. Cerca de quatrocentas pessoas passaram pela bilheteria e ao contrário
do show de Americana, cumprido na noite anterior, houveram muitos fãs da banda presentes no
recinto. No dia seguinte, sexta-feira, o destino seria Monte Alto-SP...
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