O sujeito era bastante arrogante e usava da aspereza como uma arma para impor a sua estratégia de
intimidação. Estávamos diante de um impasse, pois pagar o "pedagio" que
ele exigia, seria uma indecência e também um fator de baixo astral abominável
naquele momento, e a preceder poucos minutos antes de subirmos ao palco.
Claro
que o produtor de palco do Sesc também indignou-se, e o clima esquentou.
Ao constatar que o impasse estava incontornável com a postura intransigente do
rapaz, o responsável do Sesc nos disse para irmos para o camarim
"relaxar" e fazer um lanche. Teve a sensibilidade óbvia de nos poupar (nesse caso, minimizar, pois o estrago já estava feito), de um aborrecimento
absolutamente desnecessário e muito inoportuno naquele momento, pois paz
de espírito no camarim, nos minutos que precedem o show, é uma
necessidade básica para qualquer artista.
Disse-nos também para ficarmos tranquilos, pois o show transcorreria com tranquilidade e que aquela ameaça seria contornada. O
cachê extra que o sujeito exigiu de nós, foi de um valor alto para os
padrões daquela época. Equivalia a um cachê muito maior do que de um técnico de padrão mainstream, ou
seja, o sujeito quis aproveitar-se da nossa situação insípida naquela
tarde, para arrancar um valor duplo, pois ganharia o mesmo montante a operar as duas bandas programadas.
O produtor do Sesc ficou
bastante irritado com o oportunismo e sobretudo pelo comportamento pouco recomendável
do rapaz, mas apesar de ter alterado um pouco o volume de sua voz em
algum momento mais tenso da conversa, contemporizou com classe, eu
diria.
O que eles conversaram e acertaram após a nossa debandada para o
camarim, não sei o que foi exatamente. Duvido que ele tivesse aceitado a reivindicação
monetária que o sujeito pleiteou, mas o fato foi que fomos avisados no camarim que
tudo se resolvera, e que nos tranquilizássemos, pois não teríamos
problemas técnicos derivados de boicotes e/ou sabotagens da parte desse rapaz.
No
camarim, claro que não conseguimos relaxar totalmente depois de um clima
desses. Mas o fato de não sermos uma banda acostumada às benesses da
estrutura mainstream, até que nos proporcionara certas vantagens, no
sentido de que tão habituados a lidar com adversidades, o fato do som
não estar maravilhoso no palco, não nos derrubaria facilmente. De
tanto tocar sob condições técnicas adversas, o músico que se acostuma ao esquema underground, culmina em desenvolver uma espécie de "casca grossa" e para derrubá-lo no palco,
um monitor mal-equalizado não basta.
Portanto, estávamos
indignados pela questão moral, mas tecnicamente, o fato do rapaz não
se empenhar para nos proporcionar as melhores condições sonoras, não
faria diferença para nós. Só não queríamos a sabotagem explícita.
Um momento lúdico aconteceu quando
descobrimos que um dos ônibus que transportava as bandas mainstream,
continha placa da cidade de "Santo Antonio da Patrulha". Tratava-se de uma
pequena cidade interiorana no Rio Grande do Sul.
Ainda
no camarim, enquanto lanchávamos, o pessoal do Biquini Cavadão também
desfrutava do mesmo espaço e lanche. O vocalista dessa banda, Bruno Gouveia, foi bastante
respeitoso e veio nos cumprimentar, ao fazer questão de falar mais
detidamente com o Rolando Castello Junior, quando apresentou os seus respeitos ao membro fundador
da nossa banda e contemporâneo do Arnaldo Baptista, ao demonstrar um grau de conhecimento e
respeito que eu apreciei.
Quanto à outra banda, o tal Tihuana, os seus membros somente apareceram no Sesc, bem mais tarde. Quem passou o seu som foram os seus
roadies, um bando de sujeitos mal-encarados, arrogantes e prepotentes.
O som
dessa banda estava em voga desde os anos noventa, como uma mistura
agressiva de Punk-Rock, Hip Hop e Metal extremo, ou seja, chegava a ser um
disparate tocarmos juntos pela obviedade do antagonismo estético entre nós. Talvez em um mundo devastado e pós-apocalíptico ao estilo
de ambientações de filmes como Blade Runner e Mad Max, esses sujeitos
possam ser considerados "Rockers" em tal realidade bizarra, mas certamente eu não compactuo com
tal determinação.
Enfim, tocar junto com o Biquini Cavadão foi
até aceitável, mesmo não havendo nenhuma proximidade entre os
respectivos trabalhos, mas a segunda banda em questão, foi um disparate. Tanto
foi assim, que quando fomos chamados ao palco, uma recepção inamistosa
nos surpreendeu, segundos antes de darmos o primeiro acorde da primeira
música...
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 115 - Por Luiz Domingues
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