Bem, como já havíamos nos apresentado nessa casa algumas vezes, tal pedido soou como mais um favor em forma de camaradagem de nossa parte, do que uma data propriamente dita. Todavia, por ter tido público e pelo fato de haver sido cobrado ingressos, claro que considero como uma apresentação oficial e entrou para as minhas anotações, e sei que o Junior também a computou, pois ele também tem o salutar costume de anotar tudo para os registros oficiais da banda.
Contudo, não anotei os nomes das bandas que se apresentaram. Com todo o respeito, pois foram bandas novas e se houvesse alguém com relevância artística à época, eu teria anotado. O show foi curto, no formato típico do "show de choque". Tocamos apenas cinco músicas e as escolhidas foram apenas as músicas executadas com duas guitarras, a eliminar assim a operação logística de se montar a tecladeira para Rodrigo e Marcello poder trabalhar. Ocorreu no dia 27 de setembro de 2001, no Praia Sport Bar, localizado na avenida da praia do Gonzaga, em Santos-SP.
Passados esses dois shows que relatei anteriormente, o ônibus finalmente foi para a sua fase de pintura. O azul "universo" que escolhêramos, provou-se como algo realmente bastante escuro. Pareceu bonito por sua sobriedade e discrição, mas não havíamos pensado em um detalhe crucial, que só a experiência da estrada nos faria entender: em viagens noturnas, essa cor tão escura seria um fator de risco e tanto. Só percebemos esse detalhe quando começaram as viagens para valer, ao final de 2001, e ao longo de 2002 e 2003, principalmente, mas são histórias que contarei na cronologia correta, certamente.
Por enquanto, prefiro recordar-me que o Brasil entrara em um processo doloroso de colapso energético sem precedentes naquela fase de 2001, e o "dinâmico" governo federal de então, decretara a ordem para se cumprir o racionamento de energia elétrica que nem mesmo durante o advento da Segunda Guerra Mundial, com os seus famigerados "blackouts", fora tão radical.
Todo mundo ficou apreensivo, pois cairia vertiginosamente como uma bomba no mundo do show business em geral. E caiu mesmo...
Sendo assim, com teatros e casas de shows a cancelar eventos por conta dessa vergonhosa situação, tememos também por uma queda de oportunidades, mas uma surpresa apareceria, e fora justamente motivada pela situação e dessa forma, a se realizar um verdadeiro contraponto à falta de energia generalizada no país.
Ocorreu que a produtora, Sarah Reichdan, nos contactou com uma proposta exatamente que iria de encontro a essa perspectiva de andar na contramão da crise energética, e assim, pelo contrário, nos aproveitarmos dela. Como isso seria possível cumprir tal meta para uma banda ultra elétrica e Rocker como a Patrulha do Espaço o era normalmente, e ainda mais nessa fase onde evocávamos valores sessenta-setentistas ao extremo em nossa música?
Bem, a proposta dela foi bastante bizarra em princípio, mas no alto de sua loucura proposital, houve uma possibilidade de dar certo, exatamente por esse exotismo, e claro que nós paramos para ouvir e logo embarcamos nessa aventura "unplugged"...
A Sarah era uma produtora que estava no mercado há algum tempo e que vinha de experiências nesse setor, há quase dez anos naquela altura. Portanto, detinha os seus contatos e apesar da ideia parecer bizarra em princípio, houve um fundamento.
Para entender a proposta desse show acústico, é preciso retroagir um pouco para o leitor ver que ela fora uma produtora não só munida por bons contatos, mas as suas ações sempre foram pautadas por ideias e muita determinação em fazê-las lograr êxito.
O Rolando Castello Júnior já a conhecia há tempos, mas eu particularmente somente a conheci em 1999, mais ou menos quando a Patrulha do Espaço dava os seus primeiros passos com a nossa formação. Eu sabia que ela houvera sido tradutora oficial de artistas famosos do Rock internacional, principalmente os ditos "dinossauros" setentistas que aqui apareceram nos anos noventa com profusão.
Graças ao seu bom inglês e a sua simpatia natural, ela logo ganhou a confiança de muitos artistas e produtores estrangeiros e dessa forma, pôs-se a emendar trabalhos bons, ao assessorar bandas como o Jethro Tull, Deep Purple, Page & Plant e muitos outros artistas internacionais que vieram ao Brasil na década de noventa. Logo em seguida ela travou muitos contatos e ao se envolver com produção musical, se apaixonou pela profissão e assim, adquiriu uma grande vontade de crescer nessa carreira e se tornar um dia, uma empresária, de fato. O seu talento para a produção era nato e como "road manager", ela demonstrava desenvoltura, que me lembrava a Cida Ayres, a ótima produtora que trabalhou com o Língua de Trapo e deu muita força para A Chave do Sol nos anos oitenta.
Em
1999, quando a conheci, ela estava a agendar shows para a banda alternativa
que o baterista, Paulo Zinner, havia formado, chamada: "Paulo Zinner
Orchestra", que basicamente teve como objetivo tocar covers de
Hard-Rock setentista pela noite de São Paulo.
Mas ela ambicionava
passos maiores na carreira e logo se aproximou da Patrulha do Espaço. Sob um
primeiro instante, no início de 2000, ela tentou alguns agendamentos para a nossa banda,
mas não logrou êxito imediato. Sendo assim, em 2001, através de uma nova abordagem,
eis que ela conseguiu uma data para o Sesc Pompeia, que muito nos animou. Contudo, na
negociação, algo deu errado, pois a produção daquela unidade mudou de
opinião repentinamente e fez uma exigência de última hora, a denotar que
não acreditava que a Patrulha do Espaço pudesse atrair um grande público para o
teatro.
Dessa forma, cogitaram a presença de um outro
"dinossauro" setentista para dividir a noite conosco, como condição sine
qua non...
Continua...
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