Quando fechamos a participação, a Sarah foi providenciar a produção e divulgação do evento. Ela não dispunha de grandes recursos para fazer uma divulgação realmente significativa, mas foi o que tivemos e assim, mediante cartazetes e filipetas, sob uma quantidade bem módica, fizemos o que foi possível.
Por outro lado, a produção do show em si, foi
caprichada. Ela realmente se esmerou para decorar a Chopperia do Sesc
Pompeia, de uma maneira que se configurou em um show muito intimista e com tal
decoração, aproximou o público dos artistas, para tornar o espetáculo, algo
muito aconchegante e até surpreendente.
Sob a luz de muitas velas, colocadas em muitos candelabros estilosos, e com o aroma de incensos perfumados, o público lotou a Chopperia e sentiu-se muito confortável sob tal atmosfera.
O tal grupo de monges que entoaria mantras
no início, não deu certo, mas a Sarah foi rápida e convocou um grupo de
adeptos do Hare Krishna, que cantaram pelos corredores do Sesc Pompeia,
até antes das pessoas entrarem nas Chopperia. E enquanto as pessoas se
acomodavam, continuaram a entoar os seus mantras, a circular pelas mesas.
Mas precisávamos justificar a presença de Paulo Zinner como convidado e não teria nenhum cabimento conter duas baterias no palco, ainda mais sob um show totalmente acústico, e sem o uso de um sistema de PA. Nessa circunstância, o próprio, Junior, teria que estabelecer um esforço descomunal para não exagerar na sua dinâmica, pois um mínimo grau a mais de intensidade, seria o suficiente para encobrir todos os violões, o "baixolão", e as vozes. Claro que o Marcello faria algumas intervenções à flauta, também.
De volta a falar sobre o Paulo Zinner, ele então tocou percussão no show. A seguir, Luiz Carlini e Helena T. entraram e nós os acompanhamos em algumas músicas do Tutti-Frutti, que o público apreciou demais, também. Tocamos mais algumas músicas da Patrulha do Espaço, e ao final, o citarista, Krucis, entrou em cena e executou algumas ragas indianas com o seu acompanhante da tabla.
Um momento muito bonito se deu quando o Rodrigo Hid entrou em cena de improviso, e munido de um violão de doze cordas, tocou junto com o Krucis, quando interpretaram uma música dos Beatles, a unir a cítara indiana à viola caipira do interior. Foi mesmo um momento mágico, e que arrancou uivos da plateia.
Encerramos a tocar mais uma música e apesar da loucura toda de se fazer um show sem PA, foi um espetáculo muito bonito e dessa forma, guardo com carinho na memória o rosto das pessoas a sorrir para nós, sentadas em suas mesas, satisfeitas pela noitada.
Todavia, eu reitero, foi tudo muito bonito, mas não custava
haver um PA, ainda que usado sob um padrão de potência reduzida, para fornecer um pouco
mais de qualidade sonora ao show. Nem precisava ter grande volume, mas
com a possibilidade de uma ambientação com paramétricos à disposição, as vozes e os instrumentos
teriam soado muitíssimo melhor.
Lembro-me bem, foi assustadora a necessidade das pessoas da plateia ficarem em silêncio absoluto para não prejudicar a performance dos músicos. E como as pessoas tendem a serem tagarelas em shows musicais, cada pequeno comentário que faziam, gerava uma reação das demais, a exigir silêncio, só para o leitor entender como a situação sonora sem um P.A foi absolutamente desnecessária. Bem, insisti bastante nessa tecla, mas é para deixar claro que não se trata de uma "frescura" de minha parte. Fazer um show, mesmo acústico, mas totalmente desprovido de apoio sonoro, equivale a dirigir um carro, sem volante, guardadas as devidas proporções.
O show atraiu um ótimo público
ao Sesc Pompeia. Cerca de trezentas pessoas passaram pela bilheteria, e ao se
considerar a questão do Blackout pelas ruas naquele instante, foi acima
da expectativa, pois as ruas estavam muito mais perigosas para se circular
do que o são normalmente em tempos normais, em meio àquele breu, e as pessoas estavam
a evitar sair para se divertir, infelizmente.
Para quem não é de
São Paulo e não conhece aquela unidade do Sesc, é preciso esclarecer que
se trata de uma instalação enorme, com muitas dependências. Para as
produções musicais, existem dois grandes espaços: um teatro
tradicional, ainda que sua anatomia seja a de uma arena dupla, e o outro é
uma Chopperia, onde literalmente existe um serviço de bar e
restaurante. Mas é muito grande e o palco tem uma dimensão apta para
shows de grande porte. Portanto, tocar na Chopperia é igualmente
prazeroso, sem nenhum demérito.
Still da nossa atuação acústica radical no Sesc Pompeia através do show "Luz de Emergência". Da esquerda para a direita: Luiz Domingues, Rodrigo Hid e Marcello Schevano, por detalhes.
A Sarah deu um nome ao show: "Luz de Emergência", e para corroborar o mote, nem mesmo a luz de serviço do Sesc foi ligada e para suprir o mínimo de visibilidade para as pessoas, além das velas, pequenas lamparinas movidos a bateria foram acesas em pontos estratégicos.
Eis o Link para assistir no You Tube
https://www.youtube.com/watch?v=rNute-mYq0U
Com esse sucesso, a porta do Sesc
Pompeia abriu-se para nós e poucos meses depois, estaríamos de volta à
Chopperia do Sesc Pompeia, desta feita em outro projeto da Sarah e
para tocarmos conforme gostávamos de fato, com toda a eletricidade que um show
de Rock merece e dentro das tradições da nossa banda.
O show "Luz de Emergência" ocorreu no dia 14 de novembro de 2001.
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