quarta-feira, 27 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 270 - Por Luiz Domingues


Inevitavelmente, ao escolhermos a canção, "Saudade", para compor o clip, as ideias giraram em torno de uma historieta a acompanhar, ipsis litteris, a letra da canção e aí, esbarramos no inevitável... seria bem calcado no espectro dos clips do "Whitesnake", aqueles com o vocalista, David Coverdale, a usar e abusar de recursos "sensuais", sob uma proporção que muito o aproximara de verdadeiros canastrões da música brega em geral, incluso alguns brasileiros óbvios. A ideia foi que o Beto , por ser o vocalista, protagonizasse algumas cenas "românticas" com uma garota, a intercalar-se com certas intervenções da banda, não necessariamente a tocar ao vivo, porém com os seus membros a interagir sempre na edição.
Claro que o Beto adorou a abordagem, e lógico também que foi um dos, entre todos, que mais alimentou o "brainstorm" para esse tipo de orientação. Bem, uma primeira ação foi marcada para colher as primeiras imagens e seriam cenas românticas do Beto com uma garota capturadas em uma casa noturna. Os demais membros da banda apareceriam fortuitamente no ambiente, mas o foco da ação concentrar-se-ia na persona do Beto com a garota, a conversar, flertar, e com o casal a viver os ditos, momentos "felizes"...

Os rapazes da produtora, sugeriram o bar "Singapura", localizado em Cerqueira César, bairro nas cercanias da avenida Paulista, para cumprir tal filmagem, pois se tratou de uma casa, cujo dono era conhecido deles, e por conta dessa consideração, o estabelecimento seria cedido gratuitamente como locação da filmagem. 

E por falar em economia, a produção foi bem simples. Não houve equipe técnica; eletricistas e iluminação adequada; tampouco figurinista, maquiador, cabeleireiro, continuísta etc. Na prática, foram os dois rapazes da produtora (William e Rene), uma garota como assistente de produção; e como equipamento, uma câmera VHS, um pouco acima do padrão de uma amadora, mas bem abaixo de qualquer câmera minimamente profissional. 

Foi lógico que tal produção jamais teria o padrão de um clip profissional nessas condições, e no máximo seria exibido em programas de menor expressão, jamais em emissoras de grandeza como a Globo. No entanto, o que poderíamos fazer ? 

Foi mais uma vez a corda bamba do artista independente e situações assim sempre nos deixavam entre a cruz e a espada, o eterno "pegar ou largar"... 

E houve um outro aspecto: como poderíamos recusar fazer, parte se os produtores associados estavam empolgados, a providenciar as necessidades  da produção do show do Palmeiras, e assim mostrar serviço, e a afirmar em expansão, crescimento etc? Nesses termos, claro que aceitamos e com toda a boa vontade, nos empenhamos em colaborar. 

Evidentemente que inseridos no ambiente de um bar, a iluminação natural do local, que já é escura por natureza, e ainda por cima a filmar sem nenhum recurso de luz cênica, e câmera quase caseira, tornou a possibilidade da fotografia ficar boa, em quase 0%. Enfim, a justificativa foi de que poucos "frames" dessa filmagem em específico, seriam aproveitados, entretanto, mesmo assim, para conseguirmos uma inteligibilidade visual mínima, aquele padrão esteve abaixo do aceitável.

A garota que fez a cena, era uma amiga do Beto, e claro que não haveria dinheiro para contratar uma atriz, e também é lógico que nenhuma aceitaria participar de uma produção audiovisual pobre, que possivelmente comprometesse a sua imagem, a não ser que fosse uma novata e aspirante à cata de qualquer oportunidade para aparecer. 

Nessas cenas, o trivial do casal feliz foi feito. Foram filmados tomadas do casal em momentos de namoro: mãozinhas dadas; olhares, beijos moderados, e pequenos closes dos respectivos rostos. Ou seja, nada muito diferente do que acontecia em 90% dos clips oitentistas "românticos", com a diferença de ser uma produção nível "Boca do Lixo", portanto, longe do glamour global. Daí em diante, a próxima cena programada para ser filmada, seria "picante", e o Beto estava a adorar ser o galã, neste instante...
Continua... 

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