domingo, 24 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 266 - Por Luiz Domingues


Em uma época pré-internet e sem telefonia celular, combinamos em fazer contato telefônico convencional para sabermos das novidades, e claro que estávamos ansiosos, todos mesmo. Em dois dias, o Zé Luiz conseguiu enfim deixar o material encaminhado, mas não foi nada fácil para ele, prover esse encaminhamento. 

Claro, diante de nossa ingenuidade atroz, desrespeitamos a regra número um do manual de comportamento corporativo, para a indústria da música, ou seja, nunca o artista em pessoa deve fazer uma abordagem dessa natureza. Dessa maneira, foi lógico que ao chegar na portaria da sede da gravadora WEA, no Jardim Botânico, zona sul do Rio, foi impossível ser recebido pessoalmente pelo produtor, Liminha. Tal possibilidade jamais poderia ter sido cogitada se tivéssemos uma noção mais realista de como funcionava o mundo corporativo, e a indústria fonográfica em nada diferenciava-se de qualquer outro ramo corporativo, ainda que supostamente lidasse com arte & artistas (de onde se supõe que haja uma tolerância maior, por lidar-se com egos inflados; gente temperamental & maluca, ou muito pelo contrário, tais características a tornarem-se ainda mais exacerbadas e proibitivas, portanto). Bem, esse imbróglio rendeu pequenas historietas dignas de filmes humorísticos, pois o Zé Luiz foi bastante tenaz em sua determinação para entregar o material nas mãos do Liminha, e não aceitou a negativa da recepcionista da WEA, com facilidade. 

Dessa forma, além de tecer várias argumentações para a mocinha em questão, ele resolveu montar acampamento, no afã de tentar uma abordagem de rua, onde o filtro de proteção "anti-abordagens" não poderia ser usado pelos funcionários da gravadora. Todavia, o cansaço o venceu, e apesar da tenacidade extraordinária, com direito à sacrifício humano de resistência, ele culminou em deixar o material com terceiros, mas pelo menos, não laconicamente na portaria onde a possibilidade de ir direto para o saco do lixo, seria enorme. Ele, na verdade descobriu um assessor direto do Liminha, e assim, o material foi entregue para tal rapaz, com a promessa de realmente chegar nas mãos do incensado produtor. Ao pensar friamente hoje em dia, não teria sido muito melhor esperar um pouco, e nas mãos do Charles Gavin, que era um amigo com acesso direto e intimidade com o Liminha, ter feito o contato de uma forma melhor? É claro que sim!

E quanto à BMG-Ariola, o contato era indireto. Uma pessoa que quis ajudar-nos, e cujo nome omitirei, pois não acho relevante revelá-lo nesta narrativa, ficou com o material, e assumiu a missão de levá-lo à cúpula de tal organização. Desssa forma, restou-nos "cruzar os dedos", e esperar uma resposta que desejávamos ser positiva, naturalmente.


Continua... 

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