sábado, 23 de maio de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 81 - Por Luiz Domingues

E pouco tempo depois, ainda em março de 2001, recebemos o segundo convite para participarmos do programa Miguel Vaccaro Netto. Desta feita, eu e Rodrigo Hid fomos representar a Patrulha do Espaço. Ao invés de irmos àquele estúdio na Vila Sonia, fomos instruídos a comparecer à Praça de Alimentação do Shopping Paulista, o que de certa forma foi bem mais conveniente pela logística, pois esse Shopping fica bem próximo do bairro onde eu e Rodrigo morávamos na ocasião, na Aclimação, zona sul de São Paulo.
Ao chegarmos lá, aguardamos por alguns minutos alguém da produção aparecer e no caminho, eu comentei com o Rodrigo, que desta feita, considerava impossível o Miguel não reconhecer-me e assim deixar de relembrar o tempo em que ele se propôs a ser empresário d'A Chave do Sol, a minha ex-banda nos anos 1980. Conforme eu já elucidei anteriormente, ele não reconheceu-me dias antes, quando eu acompanhei o Junior naquele debate realizado sob gravação de seu programa em um estúdio. Porém, desta vez, achei inevitável, pois eu estaria em evidência na entrevista, e nessas condições, haveria de ser óbvio que ele lembrar-se-ia, no meu entendimento. Logo surgiu uma garota da produção e que conduziu-nos a uma mesa, ao instruir-nos a aguardar um pouco, pois o Miguel atrasaria alguns minutos, e a expectativa seria que ele chegaria acompanhado do cinegrafista e do cabo man de sua equipe de apoio. 

Essa moça também contou -nos que haveria um outro convidado nesta tarde, a tratar-se de Eduardo Araújo. Apreciamos saber disso, pois o Eduardo foi realmente um dos poucos artistas genuínos, egressos da Jovem Guarda, sem o ranço popularesco que a maioria detinha, e havia carregado para a carreira inteira. 

Então, eis que chegou o Miguel com a sua pequena equipe de filmagem e o improvável ocorreu... ele cumprimentou-me efusivamente, mas não reconheceu-me ! Eu senti nitidamente nesse episódio, não tratar-se de fingimento ou desfaçatez de sua parte. Realmente ele demonstrou pelas suas reações faciais, que não reconhecera-me, ao tratar-me como a um estranho. Talvez o evento a contar com a nossa banda naquela ocasião dos anos oitenta, tenha sido algo menor em sua vida, pela sua ótica, não posso descartar tal hipótese, igualmente. 

Feitas as apresentações e os ajustes de câmera, gravamos a nossa entrevista em dois blocos, ao falarmos sobre a Patrulha do Espaço, diferentemente do debate em que o Junior participara anteriormente, ocasião em que falou-se da banda minimamente, em detrimento de um enfadonho debate sobre o significado do Rock em termos subjetivos, através de uma discussão inócua. 

O único senão de nossa entrevista, foi a insistência do Miguel em falar sobre o Arnaldo Baptista. Talvez ao considerar a carreira atual da Patrulha do Espaço desinteressante para o seu público, ele insistia em perguntas sobre o Arnaldo, como se ele fosse ainda membro da banda, e convivesse conosco com assiduidade. E naquela época (2001), ele, Arnaldo, mantinha-se recluso, longe dos holofotes da mídia. Somente na metade dos anos 2000, foi que ele voltaria à tona, com a volta das atividades dos Mutantes, em paralelo ao lançamento de um documentário sobre sua trajetória pessoal etc.

Portanto, foi constrangedora para nós essa linha de entrevista, e mesmo com as nossas tentativas para desviar o rumo dessa conversa e fazer voltar o foco sobre nós, ele parecia querer falar apenas sobre o Arnaldo, e os Mutantes. 

No segundo bloco, ele propôs que participássemos do seu quadro "Não diga não". Cabe uma explicação: Miguel teve o seu auge no meio radiofônico, na década de sessenta, quando conduzira um programa de Rádio famoso. O seu foco foi a música, evidentemente, mas mas ele gostava também de inserir brincadeiras em tom de gincana, aliás, uma prática bem típica daquela época. Uma de suas criações mais famosas, foi uma espécie de teste psicológico, onde ele convidava as pessoas a conversar com ele, e a testar a sua capacidade para conversar o maior tempo possível, sem usar as palavras "não" e "não é"( ou "né"). Maliciosamente ele costumava conduzir uma conversa no sentido de encurralar mentalmente a pessoa, a provocar o ato falho. Em noventa segundos, se a pessoa conseguisse o seu intento, ganhava um brinde, geralmente um LP, pois o foco sempre foi a música. O programa entrou em decadência e já no fim dos anos setenta, o Miguel pôs-se a desaparecer do rádio e da TV.

Então, em pleno ano de 2001, aquilo foi algo bizarro e só fazia sentido para quem lembrava-se dos anos sessenta. Nesse caso, o Rodrigo, bem mais novo, nunca ouvira falar sobre tal brincadeira. Eu aceitei ser o primeiro a ser 'testado", e não durei nem vinte segundos dentro do desafio, ao ser traído pelo ato falho. Entretanto, o Rodrigo se deu bem, e suportou muito mais tempo, embora não conseguisse os noventa segundos propostos. Em um dado instante, diante de uma provocação para tentar desestabilizá-lo, feita maliciosamente pelo Miguel, o Rodrigo improvisou algo deselegante, e o ele, Miguel demonstrou não haver gostado da colocação. Posteriormente o Rodrigo pediu desculpas, ao alegar ter usado a grosseria como uma mera estratégia para tentar vencer o desafio e eu atesto, pois fui testemunha e ficou claro ter sido apenas um recurso que ele utilizou para sobreviver dentro da brincadeira etc.


Finda a nossa entrevista, conversamos rapidamente com o Eduardo Araújo, que foi muito simpático para conosco. Ele falou sobre o seu filho, que era (é) guitarrista, e apreciava muito o Hard-Rock etc. Terminado tudo, despedimo-nos do Miguel e da sua equipe, e no meu caso, eu saí dali convicto de que ele não lembrou-se de mimha pessoa, realmente. Assim que for possível disponibilizar essa entrevista no You Tube, eu acrescento tal material audiovisual, neste relato.

Continua... 

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