Nesse aspecto, eles tiveram razão, pois realmente a nossa banda houvera alcançado tal visibilidade, até a ultrapassar certos limites do nicho Rocker, por atingir pessoas alheias a esse universo, pois tínhamos aparecido bastante na TV, e também em revistas, inclusive, fora do mundo especializado da música e do Rock, e assim, após tantos programas de TV sob cunho feminino, éramos conhecidos por donas-de-casa não necessariamente, Rockers.
Nesse caso, mesmo não que eu não tenha ficado arrependido de forma alguma, compreendi a colocação deles como legítima, pois nesses termos, uma exposição, ainda que aleatória, seria mais conveniente com a banda a surgir completa na peça publicitária.
Não caí em um possível sentimento de remorso, no entanto, pois a minha convicção de que esse fator fora algo muito vago, não deixou que a argumentação deles me provocasse nenhum sinal de arrependimento.
Então, lembro-me que eles foram convocados para posteriores testes de figurinos, e a gravação do comercial consumiu-lhes um dia inteiro de dedicação. Um quarto músico apareceu na peça, e o rapaz foi o Mauro Sanches, baterista da banda centrada no Pós-Punk, chamada: "Nau", que fez relativo sucesso mainstream na metade dos anos oitenta.
De volta ao foco, o comercial foi para promover uma coleção de roupas ditas "jovens", de um magazine famoso, ao estilo das Lojas de Departamentos. Tratara-se da "Mesbla", uma rede que estava espalhada nas principais capitais do Brasil. O comercial foi concebido de uma forma bem simples, com imagens intercaladas de jovens a dançar em meio à banda fictícia. Tais jovens, rapazes e moças, eram logicamente modelos de agências contratados. E uma das garotas fez o papel de crooner da banda, aliás uma bela morena.
Um fato curioso, na hora de filmar-se as tomadas, cismaram em não usar uma bateria tradicional na horrenda dublagem, e o Zé Luiz foi esperto e antes que lhe sugerissem o lastimável uso de caixa e prato (como a seguir o padrão dos programas de TV), ele pediu-me o meu baixo, e no dia da gravação, ele apareceu tocá-lo na propaganda.
Essa peça teve apoio gráfico significativo, e garotas a usar as tais roupas semelhantes às do comercial, apareceram em muitas revistas, jornais e outdoors de São Paulo e Rio, e creio que em outras capitais e grandes cidades interioranas. A trilha sonora do comercial foi um som Pop bastante insosso, ao estilo do que ouvia em estações FM, bem pobre e com os típicos timbres medíocres oitentistas. A produção musical de tal jingle foi do guitarrista da "Blitz", Ricardo Barreto, e também de Bernardo Vilhena (parceiro do Lobão, e de outros artistas da época), o que explica de certa forma a concepção desse pastiche oitentista.
Aquele reverber indecente na bateria, guitarra gravada em amplificador Roland Jazz Chorus, teclados horrendos, e demais porcarias inerentes à mentalidade da época, para seguir a cartilha Pop, baseada na estética do Pós-Punk, típica daquela década.
Foi engraçado ver a propaganda a ser exibida na TV, com os companheiros naquela micagem tão falsa...
Ele foi veiculado com bastante repetição nos primeiros quinze dias e depois pôs-se a diminuir a sua frequência, paulatinamente, até desaparecer por completo. Passou em horário nobre, pois era conta peso-pesado de um cliente forte, e de fato, muita gente reconheceu os três e o Sanches, mas a despeito de qualquer argumentação em contrário, nada acrescentou para a carreira d'A Chave do Sol, tampouco do Nau.
No frigir dos ovos, acho que a vantagem alardeada pelos meus companheiros, ficou só pelo cachê mesmo (de quem participou, logicamente), e sem ressentimentos, apesar de ter sido uma boa quantia, até hoje não me arrependo de minha atitude de recusa em participar.
Eis o link para ver tal comercial no You Tube.
https://www.youtube.com/watch?v=Umh7l_AeHoE&feature=youtu.be
Foi filmado no teatro do Sesc Pompeia, de São Paulo, e dá para ver bem o Zé Luiz, bem no início, com o meu baixo em suas mãos.
Quando a atriz principal (que de fato era uma cantora também, e chamada: Karla Sabah), começa a "rasgar" as embalagens de papel que envolvem as pessoas, o Rubens passa a correr por ela, com a sua guitarra Jackson, em mãos. Beto, e Rubens podem ser vistos novamente, quando entram em um ônibus, com os demais modelos.
A Karla Sabah fez o tipo: "Punk de Boutique", com visual inspirado em cantoras espalhafatosas da cena Pós-Punk oitentista, tais como Cindy Lauper, e principalmente Nina Hagen. Claro que existia a referência à personagem de Daryl Hannah, em sua personagem do filme: "Blade Runner", também... ah... os replicantes tão cultuados naquela década...
As suas caras & bocas em alguns momentos são constrangedoras, mas talvez tenha sido a ideia "brilhante" do diretor e não culpa dela, no afã de imprimir "irreverência jovem". E a marca da coleção dita "jovem" que a Mesbla estava a lançar, chamava-se: "Alternativa".
A seguir, falo de algumas visitas muito inesperadas em nossa sala de ensaio, em 1986.
Continua...
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