sexta-feira, 29 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 280 - Por Luiz Domingues


Bem, após realizarmos o nosso soundcheck, resolvemos nos dirigir à lanchonete interna do clube, normalmente só frequentada pelos sócios do mesmo. Estávamos acompanhados de outros músicos de outras bandas, menos o pessoal do "Abutre", que estava entretido no seu soundcheck, naquele instante. Nos aproximamos da lanchonete, e enquanto fazíamos pedidos ao garçom, ouvimos um grupo de mulheres a falar alto, propositalmente, para que ouvíssemos : -"este clube já não é o mesmo... olhem os tipos que deixam entrar aqui"...

Ninguém respondeu e continuamos a comer, beber, e conversar animadamente entre nós, e de fato, que situação triste em ter que ouvir desaforos gratuitos daquelas senhoras pequeno-burguesas... o que melhor poderíamos ter feito, nós fizemos, ou seja, ignoramos retumbantemente a provocação descabida de sua parte.

Encerrado o lanche, voltamos ao salão de festas, não sem antes vermos de longe a fila, que já era enorme, formada por fãs das bandas que já aglomeravam-se no portão principal do Parque Antártica, na então denominada Rua Turiassu.

Nesse momento, o presidente do Palmeiras na ocasião, Nelson Duque, passou por nós e foi à portaria, acompanhado de seguranças. Pudemos ouvir muita gritaria quando ele foi visto pela multidão, e logo um improvável "coro" irrompeu, a quebrar toda a concepção de que aquele bando de cabeludos, ali supostamente interessados apenas em assistir um show de Rock, não acompanhassem o futebol, pois começaram a gritar: -"presidente, não vende o Mirandinha"...

Tratava-se de um atacante que jogava no Palmeiras, naquela ocasião, e naquele momento estava a gerar polêmica na imprensa esportiva, por que tais setoristas estavam a especular a sua venda à um clube do exterior. Foi muito surpreendente ouvir tal coro, pois não obstante o fato de que acompanhavam futebol, denotou que haviam muitos palmeirenses na fila. Realmente o Mirandinha não saiu do Palmeiras naquele momento, mas logo a seguir, foi parar no Newcastle, da Inglaterra.

 Já começava a escurecer, e nos recolhemos aos camarins. A primeira banda da noite foi o Salário Mínimo, e por uma passagem reservada, conseguimos sair do camarim para assistir um bom pedaço do show deles instalados improvisadamente em um camarote reservado para a produção do show. A carga do público ainda não revelava-se máxima quando tocaram, mas foi bastante significativa, e ficamos animados por verificar que o fluxo de pessoas a chegar, não parava, ao denotar que teríamos um ótimo público nessa noite.

O som e a luz estavam bons, e o palco estava bonito, mesmo com o backline ao estilo "Frankenstein", que foi montado na base da cooperação entre as bandas.

Voltamos para o camarim e começamos a nos arrumar ainda com o Abutre no palco, e ainda haveria o show do Centúrias para nos aprumarmos.

Nesse show, teríamos uma novidade sensacional. O irmão do Beto Cruz, o baixista do Harppia, Marcos Cruz, tornara-se um experiente vendedor de instrumentos vintage no mercado paulistano, naquela ocasião, e nesse instante, havia oferecido uma guitarra Gibson SG de dois braços, ano 1966, para o Rubens. A vontade para comprar foi imensa, e a torcida da banda para que ele a adquirisse, idem, mas tratava-se de um valor proibitivo, e o Rubens não poderia comprá-la naquele momento.


Mas, mesmo assim, o Marcos a emprestou para que o Rubens a usasse no show. Claro, a guitarra ficou por volta de dez dias nas mãos do Rubens, e ensaiamos com ela para que ele se adaptasse. A ideia primordial, seria para que ele tocasse as canções: "Um Minuto Além" e "Crisis (Maya)", apenas, com o restante do show a ser conduzido pelas guitarras usuais do Rubens, naturalmente. Entretanto, eu confesso, o som da Gibson, principalmente no braço de 12 cordas, ficara inacreditável, e os arpejos previsto para o arranjo de "Um Minuto Além" soaram com um brilho incrível!

Foi como se a nossa música tivesse adquirido ares de "Stairway of Heaven", do Led Zeppelin, isso, sem deixar de mencionar a beleza visual que ela ostentava, com aquela cor de vinho marcante, a lembrar a guitarra famosa do Jimmy Page, exatamente.  

Depois de arrumados, só restou-nos esperar pela hora de subir ao palco.
Continua... 

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