domingo, 31 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 294 - Por Luiz Domingues


Depois dessa aventura quente no Rio de Janeiro, voltamos à São Paulo muito contentes, naturalmente. Fora o sucesso imediato da empreitada realizada no palco, comemoramos também um ótimo resultado de vendas de produtos que oferecíamos normalmente como peças de merchandising, e as fichas cadastrais que levávamos para angariar mais fãs no fã-clube, voltaram com centenas de novos pedidos de adesão. Teríamos um trabalho forte a ser cumprido no escritório do fã-clube para organizar tais novos membros, mas o "Núcleo ZT" estava motivado para dar prosseguimento, e claro que isso foi um fator a mais para animar-nos cada vez mais.

O próximo show que faríamos, seria bem mais calmo como já eu já insinuei no capítulo anterior. Voltamos, portanto ao pequeno palco do Bar "Café Brasil", no bairro do Bexiga.

Conforme eu contei muitos capítulos atrás (ao final de 1985), o dono desse estabelecimento quis fomentar a casa com shows de Rock, com bandas autorais, e nós fomos uma das primeiras a experimentar esse modelo. Muitas outras foram sendo agendadas novamente e no final de maio, voltamos a apresentarmo-nos nesse mesmo espaço, ao demonstrar que o projeto observara uma continuidade e isso foi bom, pois representara mais uma casa de shows na cidade, a abrir as suas portas para o Rock autoral.

Vou falar uma máxima agora que pode soar bastante presunçosa de minha parte, mas que absolutamente não contém essa intenção! É apenas uma constatação que faço, amparado pela boa margem de distanciamento histórico em que me encontro hoje (maio de 2014), para registrar tal observação na minha autobio.

Trata-se do seguinte: na época, a quantidade de espaços abertos para shows de Rock com bandas autorais, era enorme. A despeito da ótima intenção do dono do Café Brasil, e claro que apoiávamos com entusiasmo, a verdade era que não achávamos vital para a cena o surgimento de casas desse porte, com característica de bar/casa noturna, por que era muito mais interessante apresentarmo-nos em teatros; casas de shows; e eventos ao ar livre e/ou ginásios/arenas de esportes, e isso havia aos montes em São Paulo, Rio, outras capitais estaduais, e grandes cidades interioranas.

Hoje em dia, com os teatros a manter as suas portas cerradas para os artistas autorais do patamar underground, e com a presença de casas de show de grande porte, que só abrem agenda para atrações internacionais e para os consolidados do mainstream, simplesmente não existem mais espaços, pois a estabelecer um contraponto cruel, as pequenas casas também não abrem espaço para a música autoral, ao preferir ceder os seus palcos mal iluminados e mal sonorizados, para bandas cover atuar. Em suma, naquela época, achávamos positivo o Café Brasil abrir espaço, mas a verdade nua e crua é: não consideramos que isso fosse vital para o incremento da cena, muito menos para a carreira da nossa banda. Moral da história: como regredimos, culturalmente a falar...

Feita essa explicação (e que fique bem claro que se trata de uma análise histórica, tão somente), fomos ao Café Brasil, e apresentamo-nos no dia 30 de maio de 1986, com cinquenta pessoas na plateia. Não foi um público maravilhoso, mas não pode ter sido decepcionante, tampouco.

Uma data a mais nos foi oferecida para cobrir uma lacuna na programação da casa, motivada pelo cancelamento de uma outra banda. Portanto, voltamos ao Café Brasil, e tocamos no dia 7 de junho de 1986, desta feita com cem pessoas na plateia, e a explicação para que o dobro de pessoas tenha comparecido uma semana depois, no mesmo local, só pode residir em dois fatores: o efeito da divulgação, via mala postal, e o fator financeiro, pois com a proximidade do famoso dia "dez", a tendência foi do cidadão comum ter mais suporte financeiro para sair e divertir-se. Enfim, explicações socio-mercadológicas à parte, o fato foi que fizemos esse show a mais, e com esse resultado bem melhor em termos de público.

Vou falar agora sobre algumas matérias de imprensa escrita que resenharam os últimos shows, incluso o do "Caverna II", do Rio de Janeiro. para aumentar o volume do nosso portfólio. E posteriormente, um parêntese para comentar vários fatos ótimos que paralelamente aos shows, animou-nos nessa época, metade do ano de 1986.

Continua...

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