quarta-feira, 27 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 272 - Por Luiz Domingues


Foi então em um domingo de sol, que fomos munidos com baixo; guitarra, e baquetas de bateria, à Avenida Paulista, para uma sessão de "micagens" entre os pedestres e carros. A ideia foi filmar diversas tomadas dos membros da banda em situações inusitadas de rua, a fazer poses etc.
 
Matéria que saiu na Revista Metal, ao início de 1986, ainda a repercutir o ano de 1985, e ao nos citar (com foto), como destaque dessa cena "Heavy-Metal" de então. Já estávamos em outra direção, com outro vocalista, mas ainda saíam matérias nesse sentido e com o velho equívoco em nos associar em tal estética...

Claro que respiramos bem fundo e fomos enfrentar esse martírio, pois não sendo atores, é claro que situações assim para nós, eram sempre constrangedoras. Uma coisa é fazer mise-en-scene no palco, com o calor de um show verdadeiro, com o artista a tocar e sentir aquela pressão sonora, além da iluminação adequada, fumaça, efeitos etc. Outra, bem diferente, é fazer pose de "Rock Star" na rua, com instrumentos desligados, e em nosso caso, com a agravante de não sermos suficientemente famosos para despertar o conhecimento público imediato, e daí, estarmos sujeitos ao escárnio a vir da parte de populares galhofeiros em meio a uma situação dessas. Então, o sofrimento foi premeditado, sabíamos de antemão!

Fomos para a avenida Paulista, em meio a um domingo com bastante movimento. As ideias que surgiram da parte dos rapazes da produção, diretores improvisados, foram bem aleatórias, do tipo : -"Rubens, que tal uma tomada contigo na esquina da Alameda Joaquim Eugênio de Lima, a fazer a base da música?" Ou: -"Agora o Zé Luiz vai fazer malabarismos com as baquetas, a caminhar pelo Parque Trianon"... enfim, o óbvio ululante e completamente amadorístico, embora eu reconheça, é claro, toda a boa vontade da parte deles. 


Lembro-me em estar a filmar, bem na ilha entra as pistas, com roupa de show, e o meu Fender Jazz Bass em mãos, a sentir-me completamente idiota com aquele contingente de transeuntes e motoristas a olhar-me, carros a passar etc. Então, algo prosaico ocorreu bem nesse momento! Em uma cidade de "pequeno porte" como São Paulo, seria de se esperar que alguém conhecido te visse nessa situação, não é mesmo?
Eu, Luiz Domingues, e Marco Antonio Turci, meu primo, em foto bem mais recente, de 2001

Enfim, brincadeiras a parte, eis que eu vi um carro de cor amarela (o velho Corcel II), e familiar, a passar devagar. Mediante buzinadas de advertência perpetradas pelo motorista em questão, verifiquei ser quem eu deduzira ser... meu primo Marco Antonio Turci, e sua então namorada, Silvana. Atônitos, ao ver-me naquela situação, eles pararam em uma rua próxima e foram a pé verificar o que ocorria, quando então pude lhes contar sobre a filmagem do vídeoclip etc.

Ainda falando sobre essa filmagem, lembro-me também de duas garotas que ficaram a seguir-nos o tempo todo. Eram fãs da banda e claro, nesse número reduzido, foram bastante respeitosas, sem intenção alguma de tumultuar o processo. Se fôssemos o "Menudo", que se tratava do fenômeno popularesco daquele momento, nem haveria condição de filmagem externa, com milhares de garotas histéricas a dar trabalho para a polícia... 


Em suma, filmamos mais algumas tomadas tolas, a fazer "caras & bocas" pela Avenida Paulista, e aos primeiros sinais do entardecer, encerramos o expediente. Segundo os produtores, com todas as cenas filmadas, eles deram por encerradas as tomadas, e consideraram o material satisfatório para realizar a edição final. Com a experiência que eu tenho hoje em dia, acho que lhes faltou a noção mínima para  cumprir esse tipo de trabalho, pois o material bruto que dispunham, ficara na verdade, absolutamente insuficiente para se pensar em uma edição final com um mínimo de qualidade, sem contar a precariedade absoluta da produção como um todo. 

Mas não foi apenas isso, as tomadas que dispunham foram de baixa qualidade dramatúrgica, em todos os quesitos imagináveis. Se realmente tivesse sido editado, esse clip teria ficado vergonhoso, eu acredito. Falo isso com grande pesar, pois os rapazes da Galeria Produções, estavam na maior boa vontade, e tal empenho da parte deles, jamais poderia ser desconsiderado, a despeito de qualquer consideração técnica; estética, ou artística. 

E também falo com tristeza, porque precisávamos de um vídeoclip, pois nos anos oitenta, tão ou mais importante que uma música a tocar na FM, ou um disco nas prateleiras da lojas, o vídeoclip a ser exibido na TV, fora fundamental. 

A década de oitenta foi a década dos clips, sem dúvida alguma. Ter um clip era vital, e se fosse com qualidade, se mostrava como um grande diferencial para o artista estar alojado no patamar  underground ou no mainstream. 

Convenhamos, com aquelas condições, o clip com o qual estávamos envolvidos, jamais poderia ficar bom. Acho que nem mediano ficaria e portanto, o fato dele nunca ter sido finalizado, pode ter nos frustrado à época, mas nos poupou de um constrangimento, que tranquilamente poderia ter sido revertido em anti-propaganda. 

E por que não foi para frente se os sujeitos estavam empenhados? Bem, os dois rapazes em questão estiveram muito animados e voluntariosos, mas faltou-lhes a experiência e conhecimento da área. Além de não serem profissionais tarimbados do mundo dos audiovisuais, como produtores de shows, também eram inexperientes. Portanto, chegou um ponto onde notaram que não conseguiriam produzir quatro vídeoclips (estavam simultaneamente a tentar fazer os das outras bandas envolvidas, como eu já expliquei anteriormente), e produzir o show de porte grande que estavam a palnejar, ao mesmo tempo. Claro que tudo ficou nebuloso e eles comunicaram às quatro bandas envolvidas, que ficara inviável preparar os clips antes do show, e que paralisariam tal produção momentaneamente, para dedicarem-se à produção do espetáculo, e só posteriormente retomariam o projeto dos clips. 

O fato é que o show aconteceu, conforme contarei logo mais, mas depois do evento, o contato esfriou completamente, e os clips foram engavetados. Nunca vi os "copiões" desse material, e acredito que tenham sido apagados. Gostaria imensamente de ter acesso ao material, pois hoje, tal material bruto, independente de sua má qualidade técnica e mau gosto estético, seria muito proveitoso para ser postado como promo ou mesmo constar em um possível documentário sobre a história da banda. No entanto, eu realmente desconheço o paradeiro desse material. Se alguém tiver uma pista, que me avise, por favor... 

Antes porém de falar do show em si, eu preciso narrar um fato novo que surgiu na mesma época, e que nos animou muito além do que já estávamos animados em termos de rumo para a banda nesse final de primeiro semestre de 1986. Por um momento, ficamos completamente animados com a perspectiva de termos dois clips, ao invés de um! A diferença, foi que a segunda proposta, ao contrário desta que comecei a contar e malogrou, deu certo! 

Continua...

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