Passado esse show em Aguaí-SP, estávamos novamente sem empresário, mas ao analisar friamente, e com todo o respeito à boa vontade da moça, estávamos na verdade, sem ninguém a apoiar-nos, mesmo com a sua presença no cargo.
O próximo compromisso seria o último de 1985, e tratar-se-ia de um contato iniciado pelo Beto Cruz, que agregava mais essa qualidade à banda, ou seja, ele tinha iniciativa e contatos. Seria um show a ser realizado em uma casa noturna e a novidade, foi que o dono do estabelecimento teve a iniciativa em contratar-nos com o intuito de fazer uma experiência.
Tratava-se de uma casa bem montada e localizada, mas acostumada a abrir
as suas portas para apresentações de bandas cover. Claro que tal intenção
era salutar e nós apreciamos fazer parte desse balão de ensaio, e a torcer para
atrair um público legal, e assim o dono tornar uma rotina a apresentação de
bandas autorais.
Tal estabelecimento chamava-se, "Café Brasil" e a localização era excelente, na Rua Santo Antonio, quase esquina com a Rua 13 de maio, o grande local de agito noturno no bairro do Bexiga, em São Paulo. Contudo, nessa experiência, não estaríamos sozinhos e portanto, o Beto teve a ideia em transformar o nosso show em uma espécie de festa de fim de ano, com certeza, ao ter alertado diversos colegas nossos para a oportunidade nova que a casa oferecia e ao mesmo tempo, ao tratar por vitaminar o interesse do público, com a presença de alguns convidados para lá de especiais.
Nesses
termos, fizemos o nosso show quase normal, pois cedemos um pouco do
nosso espaço para mini-shows de grupos tais como o Centúrias, Harppia, e Golpe de Estado, o
que foi muito positivo.
O Golpe de Estado, aliás, fêz um de seus primeiros shows como banda recém montada. Tinha poucas músicas compostas ainda e justiça seja feita, o Beto Cruz foi um elemento importante para que a banda fosse formada, pois indicara o guitarrista, Hélcio Aguirra, para Paulo Zinner e Nelson Brito, que há pouco tempo haviam retornado de Londres, onde moraram por alguns meses. E a dupla levou o cantor & compositor, Catalau para pilotar os vocais, pois eles o conheciam desde o início dos anos oitenta, quando formaram o "Fickle Pickle", ou melhor, deram continuidade ao trabalho, pois essa banda existia desde os anos setenta.
Enfim,
dera super certo a junção de um guitarrista egresso do Heavy-Metal
(Harppia), com forte influência de Black Sabbath; UFO & Judas Priest,
com uma cozinha ultra antenada em Rolling Stones; Deep Purple & The Who e
um vocalista super influenciado em Alice Cooper e Mick Jagger.
A
noitada foi excelente no Café Brasil e o dono animou-se. Daí em diante,
esse rapaz agendou shows de bandas autorais, ao menos uma vez por semana, para tornar a
sua casa, em um outro espaço promissor para o Rock autoral na cidade de São
Paulo. E A Chave do Sol voltaria para tal casa no ano de 1986, por mais duas vezes, conforme eu comentarei no momento oportuno. Essa
primeira oportunidade no Café Brasil ocorreu no dia 22 de dezembro de
1985, e oitenta pessoas assistiram o nosso show e os mini shows das bandas
amigas, citadas acima.
Terminava o ano de 1985 e novamente estávamos cheios de
esperança para o ano de 1986, e sobretudo, com a certeza de que as
mudanças que estávamos a promover, colocar-nos-iam em condições para
pleitear enfim, dias melhores para a banda. Permito-me neste instante, fazer um balanço com poder de análise, e embasada pelo distanciamento histórico : Chegamos
ao final de 1985, com mais uma mudança radical de planejamento gerencial e estético.
Exatamente um ano antes, estávamos a fechar o ano de 1984, na mesma situação, sob um
misto de euforia pelas perspectivas, com preocupação pelas mudanças que
precisávamos empreender. Tínhamos uma carência vocal que
achávamos crucial resolver para poder aspirar um lugar no patamar "mainstream", daí demos
muita sorte em achar o Fran Alves, em um momento em que ele colocara-se em
disponibilidade, e pouco tempo depois de termos perdido o vocalista
gaúcho, Chico Dias.
Os boatos que cercavam a proximidade do Festival Rock in Rio, davam conta de que uma nova onda de Rock chegaria, e nela, ao contrário da onda em voga e oriunda do Pós-Punk, nós teríamos uma chance.
Não seria nada confortável para nós, mas foi menos invasivo e doloroso do que o Pós-Punk, esse sim, intragável para nós, por motivos óbvios. Contudo, o Festival Rock In Rio passou, e nenhum indício muito claro surgiu, ao dar a entender que as gravadoras "majors", abririam espaço para criar um elenco versado pelo Rock pesado, em seus quadros. Pelo contrário, na realidade, as gravadoras continuaram a sua toada em prol do Pop, com a estética do Pós-Punk a dar as cartas.
Com isso, os nossos esforços em mudar o nosso trabalho,
ao imprimir um peso extra, fracassaram e trouxe-nos alguns prejuízos. Não
agradamos os nossos fãs nossos fãs mais antigos, que que apreciavam a usar a vestimenta do
Jazz-Rock setentista. E esse mal-estar explodiu com maior truculência
nas mãos do novo vocalista, Fran Alves.
Este por sua vez, foi um tremendo vocalista, e pagou o alto preço por essa incompreensão generalizada. Como
saldo, ficou a necessidade de uma nova e radical mudança, e no bojo,
perdemos Fran Alves, o que não foi parte do plano de novas mudanças que queríamos empreender.
E novamente trocamos de vocalista e roupagem estética, ao repetirmos o padrão da mesma época do ano, em 1984. Claro,
assim como estávamos esperançosos ao final de 1984, com as providências
que estávamos a adotar, chegávamos ao final de 1985, na mesma situação, o
que provou-se sintomático.
Ao verificar hoje em dia (2015), está claro que faltou-nos um direcionamento orientado por alguém que realmente conhecesse o mercado. Empreender tantas trocas de membros e orientação artística da banda, só prejudicou-nos em todos os sentidos. Como consolo, fico com a consciência tranquila de que fizemos o que achamos melhor na época. Faltou-nos apoio de algum consultor realmente com visão, e não posso penitenciar-me isoladamente por tal falta. Para analisar friamente, talvez jamais tivéssemos que correr tanto atrás de um vocalista.
Pense bem,
leitor, que cantor do movimento "BR-Rock" oitentista, era realmente um grande cantor ?
Nós sonhávamos com um "frontman" dotado de um nível internacional,
baseado em nossas percepções sessenta / setentistas, mas duas perguntas ocorrem-me hoje em dia : 1) Para quê ? e;
2) Onde achá-los ?
O
"para que" é emblemático por si só, pois sendo práticos, o vocal do
Rubens teria sido suficiente para suprir quaisquer necessidades "Pop" de mercado. O
próprio, Zé Luiz Dinola tinha potencial vocal, e nós três fazíamos back (ainda que
em meu caso, eu reconheço que só fui melhorar depois da minha atuação com o grupo, Sidharta, em
1997, e aprimorar ao vivo com a Patrulha do Espaço, a partir de 1999). Isso
é uma análise fria e calculista.
Que fique bem claro que não estou a lamentar inoportunamente. E jamais pense o leitor que eu lamente a presença de Fran Alves na formação anterior da banda, pois ele foi importante demais para a história do nosso grupo e certamente deixou a sua respectiva marca, de forma indelével. Até a tentativa com Chico Dias, foi válida e no início da narrativa, eu deixei claro que lamentei que Verônica Luhr não tivesse prosseguido como vocalista de banda, pois o seu potencial era o de uma estrela, e desde que houvesse condições, com produção e apoio, ela teria suplantado em milhas, vocalistas femininas muito inferiores a ela, e que tornaram-se estrelas do BR-Rock oitentista.
Por conseguinte, a entrada de Beto Cruz, também jamais poderá ser questionada, tanto pela tentativa em si em prol da mudança de estratégia da banda, quanto pelas qualidades artísticas dele, pessoalmente, e o quanto agregou como vocalista; "frontman"; compositor, e sobretudo pela força de trabalho que ele trouxe para a banda.
Para encerrar, chama-me a atenção
que em um espaço com apenas um ano de distância, estivéssemos a repetir o
mesmo padrão em torno de expectativas e de providências práticas. Assim encerrou-se 1985...
Continua...
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