terça-feira, 26 de maio de 2015

Autobiografia na Música - Sidharta - Capítulo 27 - Por Luiz Domingues


O público alvo do som que o Sidharta almejava produzir, logicamente centrar-se-ia em torno dos apreciadores do som e das estéticas das décadas de 1960/1970. Todavia, se por um lado realmente pareceu ser um público envelhecido, a minha percepção mostrava-se outra, muito diferente. Isso por que eu já vinha a acumular uma rotina em anos e anos, a observar a ascensão de um público renovado e muito jovem, portanto, a minha própria sala de aulas constituíra-se em um balão de ensaio dessa efervescência Neo-Hippie, digamos assim. 

O "Brit-Pop" dos anos noventa foi um agente motivacional nesse sentido também, pois quase todas as bandas desse movimento  inspiraram-se explicitamente na escola dos anos sessenta, sob múltiplas vertentes. Então, eu mantinha muita esperança por acessar esse público alvo de jovens antenados que crescia em progressão geométrica naqueles anos. 

E a prova de que eu estive certo em minha avaliação, veio a seguir, com o Sidharta a metamorfosear-se na reunião da Patrulha do Espaço, e através das nossas andanças pelo interior de São Paulo e estados do sul, principalmente, tivemos essa constatação muitas vezes! Se consideramos a jornada com a Patrulha do Espaço como o prolongamento do projeto Sidharta, logramos êxito. Talvez não como sonhávamos, em grande escala, mas em diversas manifestações ocorridas principalmente em cidades interioranas paulistas, e dos três estados sulistas. 
Marcello Schevano a gravar flauta no álbum Chronophagia, da Patrulha do Espaço, em 2000

Isso veio à minha mente inúmeras vezes, sempre que me vi diante de situações dessa natureza, nos shows da Patrulha do Espaço, e com as músicas do Sidharta a encantar esse tipo de público jovem e antenado nos variados estilos e escolas dos anos 1960/1970. E não foram poucas as ocasiões, conforme relatarei nos capítulos da Patrulha do Espaço. O nosso trabalho de resgate da sonoridade 1960/1970 foi muito incisivo e determinado. Haviam outras bandas com proposta semelhante no tocante ao resgate de tais estéticas, no final da década de 1990, entretanto, não tão centradas nesse objetivo como nós propusemos. 

Nessa época houve muita gente a atuar nessa mesma vibração, mas todos no underground. 

A única banda que eu me lembro que encontrou uma certa abertura na mídia grande, mainstream, foi o "Júpiter Maçã". O grupo, "Cachorro Grande" só viria à tona alguns anos depois, como dissidência do próprio, Júpiter Maçã. Lembro-me do lançamento do disco deles (Júpiter Maçã), todo psicodélico, e ter obtido uma surpreendente badalação na emissora MTV, e até a registrar uma matéria de página inteira no Folha de São Paulo, que notoriamente mantinha uma postura monolítica pró-punk'77, há décadas. Lembro-me de ter levado essa página para os companheiros ver que havia esperança etc. e tal.

No mais, muitas bandas no campo de atuação underground: "The Tea House Band"; "The Charts'; "Relespública" (esta, há mais tempo na labuta, é verdade); "Feichecleres" etc. Perto da nossa "órbita", houve o "Soulshine", que nada mais foi do que o embrião do Tomada; o "Supernova"do Carlos Fazano; e "Tomate Inglês", embrião do atual, "Klatu".


Continua...

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