terça-feira, 19 de maio de 2015

Autobiografia na Música - Sidharta - Capítulo 24 - Por Luiz Domingues

Sim, os ensaios voltaram ao normal e iniciamos então uma nova Era para o Sidharta, ao ensaiarmos doravante no estúdio / residência do "P.A." (Paulo Antonio Pagni, ex-baterista do RPM e ex-vocalista do Neanderthal). Os ensaios na casa do P.A. foram muito mais descontraídos, pois o seu estúdio mais parecia uma caverna Hippie. Queimávamos incensos à vontade e não havia restrição quanto ao número de visitantes, ali permitidos. Havia até um mezanino onde estava alojado um sofá, e várias almofadas para acomodar visitantes. Lembro-me de ensaios tumultuados, com a presença de até vinte e cinco amigos, presentes! Nessa altura, já tínhamos mais de quinze músicas compostas, e estávamos a polir as mais velhas que estavam por ficar cada vez melhores. 

Pensávamos naquela época em gravar o material, mas com a verba muito curta, as nossas posses seriam suficientes apenas para lançarmos um compacto, quando muito. E ainda a vivermos sob uma Era do CD, isso era algo inviável, pois o custo para prensar duas músicas era o mesmo que quinze, portanto, não valia a pena, por esse aspecto.
Nesses termos, a ideia foi gravar um disco, mas os nossos parcos recursos não permitiam tomar essa dianteira em já planejar com contundência tais providências. Naquele momento, era ainda somente uma especulação e acima de tudo, a constatação de uma necessidade premente. Quanto a uma possível sanha por shows, tal sentimento não existia nesse nível e não preocupava-me, particularmente. Os garotos estavam fechados com a ala velha da banda (eu e Zé Luiz), e nesse sentido, o foco daquele momento foi compor; arranjar e afiar o repertório. A mentalidade geral foi forjada em só colocarmo-nos no mercado para tocar. quando assegurássemos um padrão de qualidade elevado. 

A partir do segundo semestre de 1998, quando começamos a ensaiar no estúdio do P.A., já tínhamos um repertório inicial significativo. E ainda tivemos fôlego para continuar a compor. Nesta altura, já contávamos com as seguintes canções fechadas : "Abstrato Concreto"; "Sistema Solar"; O Futuro é já"; "Estar Feliz Consigo"; "Sr. Barinsky"; "Sonhos Siderais"; "Céu Elétrico"; "Nave Ave", "Terra de Mutantes"; "O Mesmo Fim" (essa canção, algum tempo depois, mudou de nome para : "O Mesmo Sim" e foi gravada pela Patrulha do Espaço); "Ser"; "Retomada"; "O Pote de Pokst"; "Tudo Vai Mudar", e "Do Começo ao final". Logo em seguida, nos ensaios no estúdio / residência do P.A., sairiam as novas composições para encorpar esse repertório.

Uma delas que estava a amadurecer, tratava-se de uma viagem psicodélica, chamada : "Eu nunca Existi". Eu tive a ideia inicial dessa música, ao assistir (pela enésima vez), o filme : "The Party" protagonizado pelo ator, Peter Sellers e lançado em 1968. Aquela cena final, absolutamente anárquica, com todo mundo em cena a dançar uma canção psicodélica, na companhia de um elefante, todo pintado com motivações psicodélicas, em meio a uma piscina, sempre impressionou-me muito por conter uma vibração única, como se tivesse tido a proeza em congelar o astral de 1968 no próprio celuloide do filme.

A ideia que eu criei no baixo, não é cópia, nem parece-se, efetivamente, mas é inspirada naquela trilha sonora da cena acima descrita. Eu mostrei a ideia ao Rodrigo que adorou a proposta e trabalhou junto, ao trazer outros elementos para fechar a canção.


O poeta, Julio Revoredo, parceiro nosso em composições d'A Chave do Sol; Sidharta e Patrulha do Espaço, em foto do início dos anos 2000; Acervo e cortesia : Julio Revoredo  

A letra, que é plena de questionamentos de ordem psicanalíticos, casou-se perfeitamente com a psicodelia que aspiramos. E neste caso, foi mais uma colaboração brilhante do poeta, Julio Revoredo. E assim, surgiu, "Eu nunca existi", a nossa incursão na psicodelia sessentista. Essa música foi gravada posteriormente, pela Patrulha do Espaço, no disco "Chronophagia", lançado em 2000.
Continua... 

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