Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 258 - Por Luiz Domingues
Preparados para entrarmos em um estúdio, fechamos o set list básico e o Beto Cruz trouxe a sugestão de um estabelecimento simples (e viável ao nosso bolso), mas em condições de proporcionar-nos uma qualidade sonora mínima, para suprir as nossas necessidades diante do padrão de uma demo-tape. Chamava-se : "Ensaio Estúdio", e a sua localização ficava no bairro do Planalto Paulista, na zona sul de São Paulo, razoavelmente próximo à estação São Judas do Metrô. Para minimizar ainda mais o custo dessa operação (e nós estávamos sem recursos, pela estiagem de shows ocorrida nos primeiros meses de 1986), marcamos essa gravação para a sexta-feira "Santa", da Páscoa de 1986. Tal data caiu então no dia 21 de março de 1986, com o desdobramento da sessão para o sábado, dia 22 de março de 1986. O dono do estúdio aceitou fazer o serviço e uma substancial redução no preço do pacote, devido à óbvia escassez de clientes em uma "Semana Santa", onde fatalmente teria que fechar as portas e não ganhar nada. Nessas circunstâncias, seria melhor dar um desconto e trabalhar, para não ganhar nada.
Enfim, foi bom para todos, e ainda que se tratasse de um estúdio bem equipado com uma estrutura de captação e paramétricos de bom nível, todavia, inferior logicamente ao padrão dos estúdios das classes A e B de São Paulo. O técnico fora solícito e prestativo, mesmo sendo um tanto quanto carrancudo, mas por outro lado, não seria possível cobrar muita gentileza em uma sexta-feira, feriado, e às 10 horas da manhã, convenhamos. Claro, em meio a um estúdio simples, em conjunto com o fato de que estávamos municiados por um orçamento baixo, suficiente apenas para uma demo-tape, portanto, tudo foi planejado para ser muito rápido. As bases foram gravadas ao vivo. Dessa forma, foi bateria, baixo e guitarra base a valer nas tomadas iniciais, e com a consciência de que não teríamos muita margem de erro para muitas tentativas adicionais. Portanto, salvo pelos erros crassos em termos de andamento, harmonia ou execução individual, a ordem foi para "relevar" os eventuais erros e principalmente os arroubos em torno de perfeccionismos que só seriam cabíveis para uma gravação oficial de um álbum. E lá fomos nós...
Como de costume, estávamos absolutamente bem ensaiados e reputo esse esmero, como um dos maiores méritos que A Chave do Sol teve em sua história. De minha parte, acredito que essa foi a banda em que atuei, que mais preocupou-se em manter-se sob uma excepcional forma, com constância de ensaios e de certa forma, até a exagerar nessa determinação, pois ensaiava à exaustão. Portanto, em uma circunstância onde teríamos que lidar com uma produção de estúdio sem grande margem para correções eventuais, o nosso mérito foi estar sempre afiado, a evitar muitas tomadas nas gravações. E por dar-se ao luxo de gravar ao vivo, promover por conseguinte, a economia substancial no uso do tempo. Particularmente, eu não gosto de gravar ao vivo, pois o lado psicológico de tal tipo de produção, desgasta-se com extrema facilidade. A sessão torna-se inevitavelmente um barril de pólvora, visto que um músico pode irritar-se com o outro por um erro tolo arruinar a o tomada, e dessa forma, obrigar a descartar tudo o que havia sido gravado, portanto, obrigar a banda toda a ter que iniciar tudo novamente.
Entretanto, naquelas circunstâncias, não tivemos escolha, e assim como nos dois primeiros discos, e nas demos caseiras que havíamos gravado em 1983 e 1984, decidimos gravar novamente com tal metodologia. Usei o amplificador que o rapaz tinha disponível no estúdio e apreciei muito o uso e sobretudo o resultado final. Tratou-se de um "Hiwatt", que timbrava do jeito que eu gostava, à moda antiga das décadas de 1960 / 1970, a extrair um som de alta qualidade. Ao ir além, eu não tenho dúvida, nem vergonha em reconhecer que o som de baixo nessa demo-tape, ficou muito melhor que o som do disco oficial de 1985, o EP. O Fender Jazz Bass timbrou exatamente da forma como deveria, ou seja com peso, brilho e corpo. Infelizmente, no caso do EP (e no compacto de 1984, também), a mixagem final tratou por achatá-lo (o conceito "flat"), a negar-lhe a sua característica natural. Todavia nessa demo-tape, gravada em um estúdio simples, e sob uma produção a toque de caixa, o meu instrumento soou melhor. Hoje em dia, com a experiência acumulada, é muito óbvio em meu entendimento, que o técnico teve o bom senso para não coibir determinadas frequências na hora da mixagem, e dessa forma deixar a timbragem que eu escolhera no amplificador, predominar, a despeito de possíveis choques que os técnicos em geral correm para corrigir ao olhar os gráficos de paramétricos., quando geralmente arruínam o som do baixo. Claro que certos preceitos devem ser respeitados por tratar-se das leis da física e da acústica, no entanto, deixar de lado o excesso de rigor científico nessa hora, e obedecer o padrão do velho e bom ouvido para estabelecer a decisão final, respeita mais a integridade artística da obra, ainda que possa incomodar o sofisticado crivo de técnicos de som mais argutos. A resumir, o timbre de baixo nessa demo simples, ficou melhor que o dos discos oficiais, gravados em estúdios profissionais e muito renomados como Mosh e Vice-Versa...
Continua...
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