domingo, 31 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 297 - Por Luiz Domingues


Para falar enfim sobre tais fatos paralelos que venho a anunciar há alguns capítulos atrás. Bem, são alguns acontecimentos que não detém uma cronologia fechada, portanto vou citá-los conjuntamente, ao situá-los em um período aproximado entre março e junho de 1986. O primeiro fato que vou narrar, é a questão do poster da Revista Som Três.

Como sabemos, a Editora Três, que publicava a Revista Som Três, mantinha paralelamente a predisposição para lançar publicações alternativas, verdadeiros "splits", ou derivados, para explicar mais precisamente. Tais publicações eram edições especiais, como a "Enciclopédia do Rock", ou o "Livro Negro do Rock", mas dentro dessas publicações alternativas, a mais famosa foi a incidência dos posters, onde a estabelecer o formato "dobradura", apresentava uma abordagem histórica de algum artista, e no seu interior, um poster gigante do artista enfocado. Tais publicações fizeram grande sucesso nas bancas de todo o país, ao final dos anos setenta e início dos oitenta. Foi praticamente um oásis para apreciadores da estética setentista, principalmente, pois ao nadar contra a maré da época, salvo raras exceções mais contemporâneas, foi quase que exclusivamente composto por artistas setentistas (alguns poucos sessentistas constaram apenas, casos de: The Beatles, The Rolling Stones e The Who), além de Deep Purple, Yes, Black Sabbath, Led Zeppelin, Rush etc.

Portanto, sob uma época muitíssimo hostil à estética sessenta-setentista, foi mais que anacrônica a linha editorial adotada em tais posters, mas para os órfãos do Rock, tão vilipendiado após o manifesto Punk de 1977, foi um "porto seguro", ainda que sob o tom de nostalgia. Ao avançar no tempo, o tal poster da Som Três lançou pela primeira vez uma edição focada em artistas brasileiros. Apesar da ótima iniciativa, o formato compartilhado com o qual revestira-se, denotou uma certa falta de confiança, infelizmente, nos artistas nacionais. 

Melhor que nada, o métier comemorou o fato de que bandas como a Patrulha do Espaço e o Made in Brazil houvessem sido abordados pela referida edição, ainda que em conjunto,a dividir o mesmo espaço.  Demorou um bom tempo para que fizesse uma nova investida para enfocar artistas nacionais, quando surgiu a ideia de um novo poster com esse teor. Em princípio, seguiria a ideia de uma edição compartilhada, mas para piorar as nossas expectativas, a determinação da redação foi no sentido de diminuir ainda mais o espaço, ao dividi-lo entre quatro bandas.

O "normal" em plena metade 1980, teria sido enfocar em bandas que seguiam a estética do Pós-Punk, e a habitar o espaço mainstream, elas pululavam com pompa e circunstância, mas algum abnegado "mentor" (ouso dizer que desconfio quem tenha sido, mas não mencionarei, por não ter certeza), dentro do staff da Som Três, colocou a sua mão pesada na reunião de pauta, e assim, fecharam com a ideia de lançar o poster com quatro bandas brasileiras do cenário do Rock pesado e underground de então. Claro que quando recebemos o convite para estar entre tais bandas selecionadas, comemoramos muito, e o aceitamos sem reservas.

É lógico que o ideal seria um poster para cada banda, individualmente, com maior capricho no texto e recheado de fotos, mas nós não poderíamos perder tal oportunidade, mesmo sendo mais modesta nesse tipo de espaço compartilhado. Aceito o convite, só aguardamos o agendamento da sessão de fotos e os trâmites para fornecer release, com o qual basear-se-iam para formatar o texto na publicação.

Continua...      

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