sábado, 2 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 250 - Por Luiz Domingues



Essa nova investida no interior foi mais um fruto que colhemos raças aos esforços agrupados em três anos de trabalho. Nessa época, já não foram incomuns os convites espontâneos que vieram da parte de contratantes oriundos de outras cidades, fora de São Paulo, a buscar, A Chave do Sol para as suas produções locais, como banda emergente em que transformamo-nos. Ao olhar esse fenômeno hoje em dia, eu não posso deixar por analisar que se por um lado foi um "momentum" mágico, por outro, foi também desesperador não termos tido a oportunidade em contar com a força de trabalho de um empresário com real poder de fogo, que interessasse-se por nossa banda e vislumbrasse o potencial de crescimento ainda maior que nós tínhamos. Dentro dessa análise calculista, eu não posso também deixar por observar que se havia o potencial artístico, o material do qual dispúnhamos como cartão postal, estava mal direcionado. É claro que no momento decisivo", nem mesmo o compacto de 1984, e pior ainda o EP de 1985, teriam sido adequados para fornecer uma amostragem do nosso áudio. Por isso, tornou-se premente a gravação de uma demo-tape, o mais rápido que pudéssemos, a conter o material novo que estávamos a criar. Não dá para deixar de notar que mais uma vez, lutamos contra o relógio... 

Bem, de volta a falar sobre o show a ser concluído no interior, o convite foi para que participássemos de um festival de Rock na cidade de Aguaí, no estado de São Paulo. Fora uma iniciativa da secretaria de cultura municipal daquela cidade, a tratar-se de um festival com cunho competitivo, mas pelo menos a realizar-se sob o formato de uma mostra, e não a conter participações com uma música apenas, e a conter bandas locais, além de cidades da região, também, e dois headliners "famosos" para abrilhantar os seus dois dias de realização. O "Ira" faria o encerramento em uma noite, e A Chave do Sol, no outro, portanto, como atrações principais. Ficamos lisonjeados por sermos considerados como uma banda a ostentar a "aura" em transitar pelo mundo "mainstream", sem o sermos de fato, diferentemente do "Ira", que gozava desse status, verdadeiramente. Foi um sinal claro da nossa condição como emergente ao final de 1985, e que ficaria ainda mais acentuada no ano seguinte, 1986, conforme eu relatarei na cronologia adequada.

A aspirante a empresária, Cristiane Macedo, estava conosco há pouco menos de dois meses, mas na prática, não havia proporcionado-nos absolutamente nada de concreto, a não ser especulações sobre supostas colocações que nunca viabilizaram-se. Todavia, assim como ocorrera anteriormente em Botucatu / SP, e nos shows posteriores que cumprimos nesse período. por São Paulo / capital e adjacências, ela acompanhar-nos-ia como membro da comitiva, para Aguaí / SP, na condição de produtora / empresária  etc. Desta feita, além do Edgard Puccinelli Filho, como roadie, levamos também o Canrobert para operar o P.A. e um amigo que conhecíamos há algum tempo, de uma forma inusitada, na persona de Rodolfo Tedeschi, o popular, "Barba". Abro um parêntese para falar desse rapaz, pois não obstante o fato de ser um sujeito "boa praça", a curiosa maneira com a qual o conhecemos, merece registro. O "Barba", era morador do mesmo bairro onde o Rubens morava, e foi aquele tipo de vizinho do qual fica-se por anos, a cumprimentar, mas do qual nada se sabe, nem mesmo o nome. Segundo o Rubens, fazia tempo que conheciam-se "de vista", mas nunca haviam conversado ou estabelecido a amizade de uma forma concreta. Um dia, surgiu a oportunidade, ao falarem sobre música, e naturalmente tal assunto veio à balia, ao verificar-se a movimentação em torno do "entra e sai" de cabeludos a carregar estojos de guitarra; baixo, peças de bateria, na residência do Rubens. Enfim, daí, o "Barba" disse ser um fotógrafo e logo que mostrou alguns trabalhos dele, nós apreciamos os seus clicks. Dessa forma, surgiu assim a ideia em levá-lo para fotografar alguns shows. Tínhamos sempre amigos a cumprir informalmente essa função, como o Carlos Muniz Ventura, por exemplo, mas nessa ocasião, convidamos o "Barba" para ir conosco e fotografar-nos em Aguaí e ele aceitou a tarefa. Tremenda pessoa agradável no trato social, foi um prazer contar com ele na viagem e da parte dele a recíproca mostrou-se verdadeira, ao gostar da possibilidade de viajar conosco, e a estar envolvido na comitiva de uma banda de Rock etc.

E assim fomos para Aguaí, onde logo de imediato, observamos a publicação de uma matéria no jornal local, com destaque, pois o Rubens concedera entrevista por telefone, alguns dias antes e ao chegarmos à cidade, verificamos que havia cartazes; filipetas e faixas espalhadas pelas principais ruas e avenidas, ou seja, o trabalho de divulgação fora bem conduzido e os organizadores estavam motivados, a esperar por um bom público. 


Na data em que tocaríamos, estavam escaladas bandas locais e algumas de cidades vizinhas, como eu já salientei, mas entre elas, houve uma coincidência interessante, na presença do : "Zenith", banda onde o nosso vocalista, Beto Cruz, havia tido uma passagem recente. As bandas escaladas foram : "Cabeças y Lustres";  "Draco"; "Calibre 12"; "Sociedade Anônima"; "BR";  "Éden" e o "Zenith", já citado. Assim que chegamos no local onde realizar-se-ia o show, a tratar-se de um enorme pátio, ficamos contentes em ver que o equipamento de P.A. contratado era de bom nível e adequado à demanda de público que esperavam contar no local, fora a iluminação que se não seria o equipamento do "Queen", mostrou-se razoável.


Continua...  
  

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