Ainda a falar sobre os números do jornalzinho, a edição número três saiu em janeiro de 1986, conforme eu já esclareci no capítulo anterior. Desta vez, a grande novidade foi a mudança na formação, com a saída do Fran Alves e a entrada de Beto Cruz. E a ênfase foi sobre uma mudança radical que causaria uma guinada na orientação musical da banda, praticamente ao descartar o repertório do EP, como se estivesse a enterrar uma fase da banda, aliás, na prática, foi isso mesmo o que aconteceu.
Os itens do jornal foram os seguintes:
1) Disco: A despeito de praticamente anular o EP com a nova fase, claro que o promovíamos como última novidade fonográfica da banda e não poderia ter sido de uma outra forma. Uma frase de efeito que eu escrevi, tem um tremendo ranço de despeito, que atribuo à falsa compreensão de que éramos "injustiçados" à época, por não termos tido chances no âmbito das gravadoras "majors". Não pela banda em si, que é claro que reunia condições técnicas. Aliás, por esse quesito, com todo o respeito aos maiores expoentes do BR-Rock oitentista que estouraram no mainstream, o nível baixíssimo da maioria das bandas que usufruíam dessas benesses do sucesso mainstream não reuniam condições para rivalizar conosco, e essa sensação de "injustiça" culminou em se tornar um paradigma para nós. Mas, ao analisar pelo lado real da indústria fonográfica/mídia e formadores de opinião, como poderíamos pleitear um espaço no mainstream com o som que fazíamos?
Nem mesmo se pensássemos na fase Jazz-Rock que fazia sentido nesses termos, com todas aquelas firulas que fazíamos nos arranjos super anticomerciais e fora da estética do Pós-Punk, obviamente, aliás, foi um contraste, se levarmos em conta que tal estética que dominava (e domina até hoje, ainda que subliminarmente) a formação de opinião do mercado, prima pela rudeza musical acima de tudo...
E talvez pior ainda ficamos ao adotar o peso do Hard-Rock e do Heavy-Metal, para afugentar ainda mais as nossas chances para ingressar nesse seleto rol de artistas que contavam com o apoio de uma gravadora major e por conseguinte, de todas as suas mordomias.
Adiante, a frase lapidar que eu proferi, onde fica claro a "síndrome de inferioridade" que nos acometera naquela época:
"O EP da Chave continua a vender bem, mesmo sem o aparato monumental das grandes multinacionais, o disco está a vingar. Dá-lhe Chave!"
2) Rádio: Comentamos sobre mais uma série de emissoras/programas que nos deram força, como: "Os Rapazes da Banda" (USP FM); Globo FM Rio, "Rock 98" (98 FM Presidente Prudente/SP), Beira Mar FM (São Sebastião/SP), 89FM de São Paulo, e "Highway"(Bandeirantes FM).
3) TV: Anunciamos a sexta aparição na TV Gazeta de São Paulo, a enaltecer o fato de que duas dançarinas "esculturais" haviam participado da vergonha habitual da dublagem. Foi verdade, mas algo meramente ocasional a participação das duas garotas, que aliás, eram razoavelmente famosas na época, por conta da suas respectivas participações em vários comerciais da TV e campanhas publicitárias em revistas, também.
Outra notícia que demos, foi que a TV Cultura estava a reprisar números musicais isolados da extinta "A Fábrica do Som", todo dia, na faixa das 19:30 horas. E o ponto alto da nota, ao meu ver, foi a advertência dada aos fãs e leitores em geral:
"Devemos esclarecer aos fãs, que todos os programas de TV que nós dissemos que a Chave do Sol iria aparecer no informativo nº2, e não vingaram, não foi por culpa nossa ou da banda, mas sim dos produtores dos referidos programas que hipocritamente fazem promessas e não as cumprem".
Ora, que manifestação infeliz, mediante tal reclamação a denotar pequenez de nossa parte! A alfinetada foi para alguns programas que davam como certo a nossa participação, só a faltar acertar a data e que misteriosamente foram desmarcadas sem maiores explicações.
4) Revista: Uma relação de matérias recém saídas em revistas importantes, como: Roll, Metal, Bizz, Rock Stars, Som Três e o anúncio de que sairíamos em breve no poster da Revista Som
Três.
5) Shows: Uma descrição de como foram os shows de
lançamento do EP, algo que deveria ser o ponto mais alto do jornal, mas soava anacrônico, com apenas três meses de defasagem do fato anunciado, pois falava do lançamento de um disco que agora rejeitávamos veladamente e com a presença de um outro vocalista que nem era membro da banda, mais....
6) Uma micro propaganda sobre souvenirs reforçou a ideia de que estávamos a valorizar tal expediente.
7) Inauguramos uma nova coluna denominada: "Perfil de Chave", ao ofertar a oportunidade para falarmos diretamente dos componentes da banda e mesmo ao tropeçar na ética, por que eu mesmo fui o redator do jornal, eis que eu rasguei elogios ao companheiro, Zé Luiz Dinola, que aliás, foi o diagramador do mesmo. Nesses termos, assassinamos a ética com requintes de crueldade, mas na realidade, o jornal era "chapa branca" assumido e houve uma atenuante, pois não assumíamos publicamente a autoria do trabalho, mas usávamos o nome de duas pessoas: Eliane Daic e Claudio T. de Carvalho. Tais pessoas existiam de fato, não foram meros nomes inventados como pseudônimos. Eliane era a namorada do Zé Luiz e verdadeiramente, trabalhou como produtora da banda, principalmente entre 1984 e 1987, e apesar dela não ter tido qualificação pregressa para a função. Verdade seja dita, foi que ela aprendeu a exercer as suas funções com o tempo, e já em 1986, estava bastante eficiente no cargo, ao ajudar-nos muito. E o Claudio, era o popular "Capetóide", amigo do Rubens desde o início dos anos oitenta e nosso por conseguinte, que acompanhou a banda desde os seus primórdios.
Eliane Daic a preparar uma "explosão pirotécnica" a ser realizada durante um show ao ar livre d'A Chave do Sol, em foto de 1986
A Lili (Eliane), ajudou muitas vezes nas tarefas do fã-clube, principalmente quando do ato de envelopar-se filipetas para suprir a mala postal. E o "Capetóide" muito nos ajudou sob muitas circunstâncias, inclusive ao atuar como "ator" nas intervenções cênicas malucas que criamos para os shows de lançamento do compacto e do EP, respectivamente (em 1984 e 1985).
8) Equipamento: A novidade deste número foi a nova guitarra do Rubens, uma Jackson. Essa guitarra era considerada sensacional nos anos oitenta, principalmente dentro do nicho do Rock pesado, portanto causou furor quando o Rubens passou a usá-la ao vivo, pois nessa época só dois guitarristas a possuíam em São Paulo e quiçá no Brasil: ele e Fernando Costa, o guitarrista do Inox.
9) "Fofoca": Esta foi uma outra coluna nova, onde eu imitei acintosamente o estilo debochado que o Ezequiel Neves manteve em sua saudosa coluna na revista, "Rock, a História e a Glória", nos anos setenta, ao falar sobre aspectos extra-musicais dos músicos de Rock, como se estes vivessem em um mundo de "Jet Set Hollywoodiano". Foi a minha maneira para homenagear o velho mestre fanfarrão do jornalismo musical brasileiro...
Eu não inventei nenhuma mentira, mas valorizei fatores banais do cotidiano extra-musical que vivíamos, como por exemplo: "Rubens agora dedica-se à um esporte exótico, o arco e flecha". Foi uma verdade, pois ainda ao final do ano de 1985, ele passara a frequentar um Bar & Arqueria, que oferecia aos frequentadores a possibilidade de usar o arco e flecha, com direito à orientação de técnicos especializados, disponibilizados pela Federação Paulista de Arco e Flecha.
E na determinação em falar de dois membros a cada edição, assinalei desta feita, que eu mesmo, Luiz (ah, a quebra da ética, da modéstia e da falta de noção...), fora visto a circular pelas dependências do Pavilhão da Bienal, ao prestigiar a Bienal de Artes de São Paulo, recentemente. Foi verdade também, e eu fui mesmo, aliás, como eu vou em toda edição da Bienal, desde 1977...
10) Repertório: Demos nota que logo que o Beto entrara em nossa banda, a sua contribuição como compositor enriquecera as nossas possibilidades de composição e dessa forma, produzira muito rapidamente, uma série de músicas novas, e que isso realmente propiciou que déssemos uma guinada no trabalho, ao abandonar o repertório base de 1985. Citamos canções tais como: "O Cometa"; "O Que será de Todas as Crianças (?)", e "O Rock Me Fez Assim", esta, aliás, uma música que foi rapidamente descartada, pois outras que consideramos mais fortes, logo surgiram e assim, ela foi suplantada. Falo sobre o jornal nº 4 a seguir, e volto à cronologia, em seguida.
Continua...
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